The hurting

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O toque do celular de Camila a acordou naquele domingo de abril.

Era seu dia de dormir até tarde, mas viu que o número era o da casa da sua mãe.

Devia ser algo sério para ela lhe chamar naquele horário.

“Mãe? Que houve?

“Filha, preciso que você venha aqui. Sofi está desolada, soluçando sem parar”

O coração de Camila começou a bater descontroladamente.

Em poucos segundos já se levantava da cama, procurando o que vestir.

“O que aconteceu?”

“Ela estava em uma excursão de escola, parece que quando mostrou a identidade alguma criança reparou no sobrenome. Ela não conseguiu me contar ainda o que eles falaram exatamente, mas acho que podemos imaginar”

Sentia ânsia de vômito.

“Eu vou desligar para chegar aí mais rápido, mãe. Diga a ela que estou a caminho”

Quando deu por si já estava batendo a porta do quarto da pequena, aonde seu pai tentava a consolar.

“Pai, pode nos dar um momento?”

Sofi levantou o rostinho da cama ao ouvir o som da voz da irmã, enquanto o pai delas respirava aliviado pela chegada do reforço.

“Claro... claro. Se precisarem de algo me chamem.”

Camila se sentou do lado da pequena, se sentindo torturada ao ver os olhinhos inchados que a encaravam.

Não sabe quem iniciou o movimento, mas logo Sofi já estava sentada em seu colo, mais apertada nela do que aqueles pandas em árvores.

“Oi querida...”

Beijando a testa de sua irmã, ela continua, em voz gentil:

“Não sei o que falaram para você, mas suponho que seja algo sobre a adoção. Isso? Basta concordar com a cabeça”

Ela podia sentir o movimento afirmativo em seu ombro.

“Entendo. Quero que me escute com atenção, vou te contar sobre o dia em que nos conhecemos, tudo bem? Talvez não entenda aonde quero chegar ainda, mas tenha paciência comigo”

No silêncio da pequena, ela continuou,

“Vou ser sincera com você. Quando meus pais avisaram que iriam lhe trazer para casa, eu me preparei para ser receptiva e afetuosa independentemente de como você fosse... da sua personalidade sabe? Se combinaria comigo ou não... Estava decidida a me esforçar para que tivéssemos uma boa relação”

Afagando as costas da irmã, carinhosamente, prossegue:

“Mas aí você chegou... toda falante... olhinhos brilhando de alegria quando olhava para os meus pais. Eles pediram para eu lhe alimentar enquanto iam dormir da viagem cansativa. Não deve se lembrar, mas eu preparei sua janta enquanto você me contava sobre o livro que mamãe lhe dera para se distrair no avião... e você tinha uns comentários Sofi... era muito inteligente para a idade... e sempre olhando o melhor de tudo. Sempre pronta para ser feliz. Nós fomos para o meu quarto porque você perguntou o que eu era, o que eu fazia sabe? Perguntou se eu era bailarina, porque papai havia comentado que eu gostava de música.”

Camila ri baixinho lembrando da cena.

“Eu lhe mostrei umas pinturas que havia replicado. Nós ficamos olhando ‘O renascimento de Vênus’ enquanto lanchávamos. Você perguntava sobre detalhes do quadro, afinal de contas, o que uma mulher pelada estava fazendo na praia? E ouvia com atenção as minhas respostas, fascinada em aprender. Sofi, você gostava do meu mundo... fez dele o nosso mundo. Você me compreendia. E, naquele mesmo dia... eu percebi que estava completamente apaixonada por aquele serzinho a que eu havia me convencido a tentar gostar. Não houve esforço, entende? Você chegou e eu sabia que de algum modo, por planejamento divino ou fortuna, eu e a minha irmã havíamos nos encontrado”

Modulação PolicromáticaWhere stories live. Discover now