CAP. 20

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Depois que Jungkook disse aquilo, não de forma que transparecesse sua surpresa, mas sim que fizesse com que eu sentisse seu fascínio pelo meu feito, tive de engolir em seco ao semicerrar meus olhos para tentar entender o que aquilo significava

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Depois que Jungkook disse aquilo, não de forma que transparecesse sua surpresa, mas sim que fizesse com que eu sentisse seu fascínio pelo meu feito, tive de engolir em seco ao semicerrar meus olhos para tentar entender o que aquilo significava.

Assim que ele contorceu os lábios e suspirou profundamente, girei meu corpo e, de maneira apressada, adentrei o veículo, fechando a porta com a mesma velocidade para que Jungkook não tivesse tempo de dizer mais nada. A tensão entre nós já estava presente e se tornando um tufão de sensações estranhas.

— Quando eu estou triste... — o advogado pronunciou-se ao sentar no banco do motorista, logo após fechar a porta e colocar o cinto. O olhei de soslaio. — Eu gosto de ir em um lugar. Você aceita ir?

Assenti positivamente, ainda que relutante e enroscando meus dedos uns nos outros. Ao que Jungkook girou a ignição, passei a olhar para o lado de fora e me perder na transparência das gotículas de água que se prendiam na janela do carro. Sempre que Jungkook acelerava, elas desciam por caminhos descontrolados e formavam desenhos abstratos, que me ajudavam a concentrar em relembrar o que há pouco havia acontecido. Com um suspiro longo, decidi deixar aquilo de lado. Chacoalhei a cabeça e, de canto de olho, dei uma olhadela em Jungkook, que mantinha-se focado na estrada e o trânsito que nos impedia de chegar no lugar que o advogado tinha em mente. E, foi graças ao amontoado de veículos que ficamos parados por quase dez minutos, os quais mais pareceram anos, uma vez que, pela primeira vez, ouvir a respiração tranquila de Jungkook me deixou incomodado por estar junto dele.

— O que foi? — ele questionou com aquela voz rouca como a primeira vez que nos conhecemos. E, por me lembrar daquela noite, e que Min-gyu estava comigo, meus orbes encheram-se de lágrimas. — Não chore, Jimin. — Jeon puxou o freio de mão e bagunçou os fios escuros, de fato, eu parecia uma criança indefesa, a qual chorava como se louca fosse porque queria ir para casa. Esfreguei os olhos com as costas das mãos e tornei a olhar para o lado oposto ao que Jungkook estava. Perdi minha respiração no caminho e solucei. — Jimin, me olhe.

Neguei com a cabeça.

Estamos sozinhos nesse carro, presos no trânsito. Não tem como eu simplesmente ignorar enquanto você chora.

Pisquei múltiplas vezes antes de olhar para o advogado outra vez. Meus lábios contraíram-se e respirei com dificuldade.

— Escute, Jimin. — Jungkook umedeceu os lábios. — Você não precisa chorar. Isso vai passar e lá na frente você vai rir do que aconteceu hoje à noite. — a canhota de Jungkook foi estendida até o topo de minha cabeça, onde ele deixou leves carinhos e sorriu sem mostrar os dentes. — Você vai encontrar alguém que te ame da forma que merece.

Encostei a cabeça no banco, ainda observando Jeon, e ele, ainda com sua mão em meus fios. Ele sibilou um "vai ficar tudo bem, hum?" bem baixinho ao se aproximar. Eu apenas assenti e enxuguei as lágrimas que ainda insistiam em cair e marcar minhas bochechas.

Nós teríamos nos desvendado por mais horas se não fosse o som da buzina que soou logo atrás de nós, o que significava que o trânsito de veículos já tinha diminuído e nós tínhamos nos perdido no tempo. Jungkook voltou a dirigir sem dizer mais nada, somente as músicas da estação nos faziam companhia. Um ritmo melodioso que fez com que eu nem percebesse que já estávamos perto do lugar que Jungkook havia sugerido. Ele estacionou do outro lado da calçada e logo deixou o carro, e eu fiz o mesmo, o acompanhando.

— Quando eu era pequeno, eu morava aqui. — o advogado disse ao que caminhávamos pela estrada cimentada. O local era uma enorme casa de estilo oriental, já abandonada, e, do lado de fora, além das trepadeiras que tomaram conta dos tijolos escuros, havia um espaço na parede, todo escuro, com inúmeras coisas escritas. Algumas diziam socorro, estou triste, preciso de respostas. De forma involuntária, dei um sorrisinho. Isso me lembrou do diário que comprei uma vez assim que entrei no fundamental, porque, segundo minha mente sonhadora, quando eu me tornasse um ator, certamente quereriam fazer um documentário sobre minha vida, portanto, eu devia anotar tudo. — E, nessa parede, eu escrevo tudo que me deixa angustiado. Por incrível que pareça, ajuda. — Jungkook agachou-se e, entre algumas plantas que cresceram entre as frestas do concreto, encontrou um giz branco. Estendeu-o para mim com um sorriso singelo. — Tente.

Com as pontas dos dedos da destra, o peguei e suspirei. Encarei a parede e tentei fazer com que o tornado de pensamentos em minha mente se organizassem e eu pudesse fazer uma única coisa sem me sentir nublado.

Ao lado de algo que Jungkook havia escrito quando criança, dada sua caligrafia incerta e torta, escrevi 'estou sufocado'. Jungkook colocou as mãos nos bolsos da calça e aproximou-se em dois passos. Intrigado e curioso como se o que eu escrevia fosse um de seus casos, ele inclinou a cabeça para o lado, ansiando pelo meu próximo movimento.

— Por que se sente sufocado? — murmurou.

Ri sem vontade.

— As pessoas esperam muito de mim, especialmente meu pai. Eu nunca correspondi às expectativas dele e creio que dessa vez não será diferente. — fiz uns rabiscos aleatórios ao lado do que havia escrito. — Mas isso não quer dizer que eu desisti.

— Você tem que começar a viver por si mesmo. — o olhei e desenhei um ponto de interrogação que o fez sorrir sem jeito. — Quero dizer, você parece estar vivendo das decisões de outras pessoas. Por exemplo, seu pai simplesmente disse que tal advogado poderia te ajudar. Aposto que quando descobriu que era eu, sua vontade era de sair pela porta naquele mesmo momento. — ri. — E você não pensou, em hora nenhuma, em trocar de parceiro?

Fiquei sem fala.

— E também tem esse dorama. Você tem que provar um caso para que seu pai te permita gravar. Você realmente quer participar desse elenco?

— É claro! Quero dizer, é uma ótima oportunidade.

— Mas só porque é uma boa oportunidade quer dizer que você tem que fazer? Há personagens que você deve se identificar e isso torna todo o trabalho mais prazeroso, não?

Dada a força que usei para escrever meu nome, acabei por quebrar o giz. Jungkook, afastou minha mão da parede e, cuidadosamente, tirou o giz de meus dedos para jogá-los no chão.

— Jimin, você deve pensar por si próprio. — porque eu encarava o outro lado, Jungkook teve de arquear-se para onde eu olhava. — Não estou te dando uma bronca como faço no escritório. — com o polegar e o indicador tomando meu queixo, Jungkook suspirou. — Eu não gostei de ver você chorar daquela forma e definitivamente não quero te ver sofrer.

Meus olhos se arregalaram.

— Também é porque seu rendimento no caso vai desmoronar, mas, além disso, eu me preocupo com você.

Engoli em seco.

— Obrigado pela sua preocupação. — falei a primeira coisa que me veio à cabeça e me arrependi logo depois ao espremer os olhos e enrubescer de vergonha.

Jungkook riu.

— Sempre que você se sentir triste, venha aqui e escreva o que te abala. Vai acontecer de eu não estar presente para te consolar, mas eu venho aqui ver o que você escreveu e te respondo.

— Isso não é necessário.

— Isso é o nosso segredo. Se te incomoda, eu posso fazer de conta que nem sei do problema que você escreveu quando estivermos na firma. — ele torceu o nariz. — Você prefere assim? — assenti.

Ao que o silêncio pairou e o vento soprou em nossos rostos como se atirasse às cegas, percebi que a mão de Jungkook ainda segurava a minha. E ele notou também. Por isso, cautelosamente, desvencilhou suas digitais.

— Por que está fazendo isso? — indaguei.

Jungkook molhou os lábios.

Porque você está me dando motivos para criar uma nova lei do amor.


CONTINUA...

𝖺 𝗅𝖾𝗂 𝖽𝗈 𝖺𝗆𝗈𝗋Où les histoires vivent. Découvrez maintenant