20. Isso não é um adeus

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Meu olhar se concentra no chão, enquanto caminho pelo estacionamento em direção ao restaurante, no qual teremos uma reunião para concluir as negociações sobre o livre acesso entre os reinos

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Meu olhar se concentra no chão, enquanto caminho pelo estacionamento em direção ao restaurante, no qual teremos uma reunião para concluir as negociações sobre o livre acesso entre os reinos.

Ao andar pela alameda percebo que a tira de uma das minhas sandálias se soltou, então tento fechá-la pulando num pé só. Infelizmente, esse gesto desordenado me faz desequilibrar, porém antes que eu tenha a chance de me apoiar contra a parede, evitando uma cena vergonhosa, uma mão forte agarra minha cintura.

— Você por si só é um perigo, sabia disso? – A voz zombeteira de Louis ressoa em meu ouvido, ao que sua palma desliza até o meu quadril numa carícia íntima.

Seu toque me parece absolutamente obsceno, pois mesmo que sua mão esteja apenas na lateral do meu corpo, sinto como se estivesse em todos os lugares, visto que os arrepios que percorrem por minha pele me fazem morder meu próprio lábio, segurando um suspiro. As sensações que esse homem desperta em mim são tão frustrantes, porque por mais que eu tente, não consigo evitar que lavas de fogo incendeiem minhas veias apenas por sentir seu cheiro, tampouco, consigo desligar as emoções que fazem minha mente girar quando ele está tão próximo.

Meus olhos se estreitam, mas mantenho a boca fechada, ainda estou ressentido por ele ter desaparecido sem nenhuma explicação, depois que voltamos do passeio pela Via Láctea há duas noites. Durante horas repassei mentalmente a conversa que tivemos enquanto estávamos deitados na cauda de um cometa sob a luz das estrelas, e mesmo tendo ciência que Louis me pediu para não exigir respostas e também ter confessado que está confuso a respeito dos próprios sentimentos, não impede de sentir-me descartável.

Quando continuo a andar desajeitadamente com a tira da sandália pendurada no tornozelo, escuto um bufo divertido atrás de mim.

— O tratamento do silêncio, hein? – Seu comentário me faz cerrar os dentes e apertar os punhos indignado.

Esse babaca está achando toda essa situação engraçada? Como eu posso ser  apaixonado por um homem tão frio, rude e que adora se divertir às minhas custas?

— Você me levou a um encontro, Louis, me tratou como se eu fosse especial e admitiu que não gosta de me ver magoado, então por que continua me machucando? – explodo, e o vejo engolir em seco antes de massagear as têmporas num gesto nervoso. — Você simplesmente sumiu por dois dias, e eu sei que não temos nada, mas honestamente, pensei que estávamos chegando a algum lugar.

— Harry, eu...

— Você precisa decidir o que quer de mim – corto exasperado. — Não sou um dos seus brinquedinhos, majestade, então não me trate como um. Esse seu comportamento quente e frio está me enlouquecendo. – Admito, dando-lhe as costas, mas quando me viro bruscamente quase caio novamente, então estalo os dedos e, enfim, prendo o fecho da sandália.

O rei dos sombrios segura meu antebraço, me fazendo encará-lo. Com o coração acelerado noto que há algo diferente em seu olhar, uma mistura de frustração, ternura e vulnerabilidade. Ele abre e fecha a boca, pela primeira vez desde que o conheci, não parecendo saber o que dizer, e quando um minuto inteiro passa e o silêncio continua, eu me afasto do seu aperto e dou um passo para trás.

ENTRE O PARAÍSO E O INFERNO | l.sWhere stories live. Discover now