2; O Médium do Czar

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     Sempre disseram para Jungkook o quanto seus olhos eram grandes e curiosos; ficariam impressionados se vissem o quão maiores ficaram quando o menino descobriu que Jimin partiria para outro país em menos de uma semana. Foi um baque enorme em seu consciente. Estava tão acostumado com a presença do Park em sua vida, que imaginar-se sem ele se tornava impossível. Entretanto, não deixou de ficar feliz pela conquista. Para celebrar, os pais do outro, mesmo assustados pela novidade, decidiram pegar garrafas de Whisky e roubar alguns animais para que virassem o banquete daquela noite, e talvez, aquelas garrafas  tenham sido um grande erro. Era quase eminente o caos que se tornaria tudo aquilo.

     Era uma para ser uma pequena janta para 4 pessoas, mas a mesa daquela casa não era o suficiente para o tanto de comida que ali havia. Jungkook nunca havia presenciado aquilo em toda sua pouca vida. Provavelmente comeria mais do que sua existência poderia aguentar, naquela noite. O senhor Park já estava bêbado, afirmando que aqueles copos de whisky puro que ingeria eram apenas para esquentar, mas as palavras arrastadas e o olhar pesado diziam o exato contrário. Eles se sentaram ao chão, em referência à sua cultura na hora de comer, e se esforçando muito, a senhora Park tentava falar em Rússo, servindo o prato do mais novo ali. Era um ato gentil, que demonstrava todo o carinho que foi cultivado entre eles. Jimin sorria lindamente com a felicidade estampada nos olhos, era contagiante, brilhante como a lua, e acompanhando o próprio pai, bebericava com expressões feias o líquido, vez ou outra. As coisas começaram a desandandar quando ofereceram a bebida amarga para Jungkook, que nunca pusera um pingo de álcool em sua boca, mas aceitou o primeiro copo, mimicando com as mãos para a senhora Park para que ela colocasse uma pequena quantidade. E assim ela fez. Contudo, o álcool te apunhala pelas costas, e o Smirnov serviu-se de seu segundo copo, com seu corpo leve como uma núvem. Não estava bêbado, apenas sentindo o efeito tonteante fazê-lo sorrir mais facilmente. Jimin, por outro lado, era alguém responsável, e vendo que o mais novo encarava seu copo por tempo demais antes de beber, preocupo-se e impediu-o de servir-se novamente. Três copos de Whisky fariam um estrago inimaginável. 

     Não demorou mais de uma hora para que a mulher tivesse que arrastar seu marido para a cama, numa situação deplorável, deixando os dois meninos sozinhos. Se encararam por um instante, mas a visão de Jungkook vacilou e ele desviou o olhar, sentindo-se esquentar por dentro. Ele já não distinguia se estava tímido ou se o calor do álcool o fazia sentir-se daquela forma, mas queria aproximar-se e abraçar-se ao outro. O moreno tinha dificuldades para se relacionar com outras pessoas, mas com Jimin, era tudo sempre muito espontâneo, apressado. Rápido demais até para a pressa que o Smirnov tinha em suas ambições. Ele gostava, mas não entendia o porquê. Entretanto, estar leve como uma núvem tinha lá suas vantagens, e pouco pensou sobre, quando suas vontades deixaram de ser meras vonatades e ele se lançou aos braços do mais velho, sentindo o calor da pele dele em contato com a sua própria. Deitou sua cabeça contra as coxas do Park, repousando finalmente, observando o rosto delineado pelas mãos de Samael, porquê Jimin era exatamente como aquele anjo do qual a Bíblia contava; Que tomou Lilith como sua e tentou Eva ao pecado. Naquele instante, Jungkook almejava ser como Lilith, para que fosse tomado pelos braços de Park Jimin. 

-Você será um artista excepcional, Jimin.-Deixou seu rosto se infiltar pelos tecidos que cobriam o peitoral do outro.- Não deixe de me escrever, por favor... Vou sentir sua falta.-Disse, abafado, por estar com a cara no torso do mais velho. 

-Essa não...-Riu.- Você mal bebeu, Jung...-Acariciou o topo da cabeça do mais novo. Afagou os cabelos incrivelmente bem cuidados e sentiu seu cerne arder por abandonar aquele que parecia uma criança indefesa. 

-Não estou bêbado! Apenas leve.- Sorriu bobo. 

     Após alguns minutos de chamego, Jungkook parecia estar com muito sono, e com medo de que o mais novo se perdesse ou dormisse no relento, Jimin acompanhou-o até sua casa, esforçando-se para lembrar o caminho. Quando chegaram, a porta se abriu com um leve empurrão, e o Smirnov puxou o Park para dentro consigo, arrastando-o lentamente até a cama. A casa estava tão gelada quanto da última vez, como se não houvessem paredes para protegê-los do frio, Jungkook tremia, mas parecia não perceber. Estava centrado demais em caminhar em linha reta. Acabou caíndo por cima do moreno quando chegaram ao colchão, sentindo-o apertar-se mais contra sí, talvez, numa tentativa de espantar aquela tremedeira irritante. Jimin puxou a pele de cordeiro para cima deles, puxou os sapatos dos pés do outro, acariciou as madeixas outra vez e fechou os próprios olhos, acompanhando Jungkook. Quando abriu-os novamente, após um leve cochilo, o outro já estava dormido. Levantando-se com cuidado para não acordá-lo, foi até onde fizeram fogo da última vez e ascendeu uma fogueira improvisada, sentindo o calor vagarosamente se espalhar pela casa, deixando-a ao menos um pouco mais quentinha. Pensou seriamente em ir para sua própria casa, mas observar o menino dormir o entreteu, e acabou optando por ficar. Deitou-se ao lado do menino, abraçou-o contra seu corpo, aguardou até que o sono captura-se-o e despertou somente quando o sol estava alto, com um Jungkook de olhos grandes encarando-o. 

Sombras do LevanteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant