5; Cartas jamais lidas

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Ler as cartas de Park Jimin era uma espécie de terapia. Os desenhos pequenos e grandes que eram rabiscados ao redor das palavras escritas com um carinho palpável eram mais belos que qualquer obra de Da Vinci. Não havia sequer um dia em que Jungkook não ousasse pensar em seu amado, e tampouco houve dia em que ele se sentisse assustado pelo sentimento que, mesmo com aquela distância que demoraria a ser selada, crescia como um pão ao forno. Jamais se questionou sobre aquilo, jamais se deixou abalar pela falta que os jantares em sua casa velha fazia, mas deixava-se abalar pela ausência das cartas que vinham para seu colo semanalmente. E já se passara um mês desde que recebera a última.

Naquele momento, estava trabalhando em uma fazenda, cuidando de animais de pequeno porte e colhendo da plantação de oliva que os latifundiários cultivavam. Ou melhor, pagavam para que cultivassem por eles. E depois, os mesmos funcionários que colheram as olivas iriam comprar o azeite, com o pagamento chulo que lhes era ofertado em troca de árduas dezesseis horas de trabalho braçal. E mesmo que Jungkook pouco tivesse acesso aos livros de Karl Marx, muito sabia sobre o conteúdo dentro deles. Sabia que aquilo era um produto da exploração do capitalismo, e sabia ainda que a única forma de derrubar o patrão era com a organização da classe trabalhadora. Mas o que ele poderia fazer? Era um menino de recentes dezesseis anos que implorava para que Rasputin lesse as cartas de Jimin e lhe ajudasse a escrever de volta. Continuava colando cartazes em cada canto de Petrogrado.

Yoongi acabou tornando-se seu melhor amigo dentro do partido. Por mais que Namjoon Dmitriev estivesse sempre por perto dando-lhe alguma ajuda ou simplesmente conversando sobre bobagens cotidianas, era o vidente quem lia livros e ajudava Jungkook a estudar. Escolas eram uma exclusividade para a elite, e definitivamente, ele não poderia estudar em uma, por isso, ficou muito feliz quando Rasputin ofereceu-se para ensiná-lo. Passaram a dedicar um pedaço da noite para aquela finalidade. Vez ou outra, o médiu trazia livros que encontrava no castelo para entregar ao menino, que dedicava seu tempo livre para a leitura do mesmo. Aquela era uma noite onde entregaria mais um nas mãos de seu aluno.

-Olha, Smirnov, esse livro é muito interessante.-Estendeu o objeto.- Combina com seu gosto.

-Romeu e Julieta.- Leu o nome na capa, com certa dificuldade. Pegou-o com carinho.- Fala sobre o que?

-Um romance trágico. Apenas leia-o, e depois, venha a mim contar sobre o que achou sobre. Anote as palavras que teve dificuldade em ler e depois veremos o que melhorar em sua didática.- Levou os dedos até as madeixas do menino e acariciou-as.- O que acha de jantarmos agora?

-Eu preciso passar na casa dos pais de Jimin, o Senhor Park está adoecendo.- olhou com uma certa decepção para seu amigo.

-Não seja por isso, Jungkook. Vamos jantar juntos e em seguida lhe levarei ao encontro dos Park. Ir agora ou mais tarde não mudará o fato de que estará presente.

Com certa apreensão por sua escolha, o jovem aceitou o convite, esperando não decepcionar a promessa que fez para Jimin antes do mais velho partir. Yoongi geralmente se demonstrava um homem amargurado para com os outros, mas quando se tratava do Smirnov, um sentimento de patrnidade lhe tomava, e a amargura que seu coração carregava se tonava tão insignificante perante o amor que jamais poderia resistir aos olhos intensos de seu filho de consideração. Mas o conhecido e temido Rasputin nunca poderia assumir aquela resposabilidade sobre outrém; sua má fama por seu passado, sua conexão com a dinastia Romanov e seu status político lhe impediam de tomar para sí a criação do mais novo. Por isso, para suprir o sentimento de abandono que rasgava sua alma, tentava manter-se perto de Jungkook o máximo que poderia, pagando jantares, lendo livros e escrevendo as famigeradas cartas. E viu a evolução do outro com olhos atentos, ensinou-o aquilo que um órfão jamais aprenderia, e pretendia arrancá-lo dos latifúndios, não com suas próprias mãos, mas com a inteligência de seu menino. E se havia uma coisa a qual Jungkook possuía, era a mais pura inteligência e amor pelo aprendizado. Aquelas orbes curiosas e fixadas na leitura eram um diamante lapidado, e em sua vida, não conhecera nem na realeza tamanha vontade. Sabia sobre a oportunidade de escrivão que viria. Era médium, no final das contas. Ver o futuro não era uma lá grandes coisas para sí, mas aquela profecia não sairia de sua boca, Yoongi sabia bem o que suas previsões faziam com quem as ouvia, e não queria ver o outro enlouquecendo como os demais.

Sombras do LevanteWhere stories live. Discover now