4; Sodomita

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Uma vida repleta de luxos jamais passou pela cabeça de Park Jimin, mas no fundo, aquele estilo de vida combinava demais com sua aparência. Dez meses foram mais do que o necessário para que o menino mudasse da água para o vinho. O uniforme de tecido caro que a Belas Artes lhe deu combinavam de uma forma elegante com sua postura dominante, o novo corte de cabelo deixava-o ainda mais atraente, e a gravata nunca-amarrada em seu pescoço traziam aquele ar de rebelde que só ele conseguia carregar, mesmo sendo um aluno exemplar e de desempenho máximo, e sendo nomeado aluno destaque nos poucos meses dentro do campus. Suas obras não eram nada menos que perfeitas, e foram valorizadas ao máximo por críticos que vez ou outra visitavam a universidade só para tentar derrubar alguns alunos ali. Eles até conseguiam, mas quando seus olhos apáticos caíam sobre as obras de Jimin, aqueles mesmos olhos se enchiam de lágrimas. E lá se ía mais um quadro, vendido por um valor exorbitante, que apenas a mais alta burguesia poderia pagar. Muitas vezes, mal estavam acabados, mas faziam questão de levar daquela mesma forma.

Acompanhado nos corredores por seu melhor amigo, Taehyung Dupont, lançava encantos e pintava as paredes do lavabo, com frases as quais Smirnov se orgulharia se lesse, por mais que não entendesse absolutamente nada do francês. Francês este que Park Jimin aprendeu com maestria, e agora, conversava sem dificuldade alguma com quem fosse, seja num dialeto mais sofisticado ou na forma mais coloquial já vista por qualquer outro falante da língua. Ele dominou aquele novo idioma assim como dominava cada uma das técnicas artisticas que eram apresentadas a sí, e era exatamente por sua genialidade que as denuncias dos alunos contra sua pessoa nunca geravam uma consequência. Cada alma penada que vagueava por aqueles corredores luxuosos sabia quem havia feito as pinturas eróticas nos muros traseiros do campus. Todos viam Park olhando orgulhosamente para o órgão genital exposto para todo o mundo, mas ele mesmo sabia que o que incomodava aqueles artistas porcos e riquinhos não era a nudez, e sim a retratação de um casal homossexual em um beijo nupcial. E ele teve que se acostumar com os olhares enojados em sua direção, acusações de sodomia e uma espécie de preconceito mascarado de crítica.

-Olha, Taehyung, eu sei que eu tenho cara de gay, mas sinceramente, só porquê eu fiz uma pintura de dois homens transando não quer dizer que eu seja sodomita.- Girou em sua cadeirinha enquanto trocava o martelo que usaria para bater no mármore.

-Só porquê você não deu essa sua bunda, não quer dizer que você não goste de pau.-Dupont estava sentado com as costas encostadas contra a parede do ateliê.- Realmente acha que as coisas que tu fala nas cartas com o tal Jungkook são o exemplo de heterossexualidade? Homem, se ligue. Quer enganar a própria cobra de Lúcifer?

-Pare de ler as cartas de Jungkook! E você acha que seus papinhos com o ruivo da boate Écarlate são?

-Eu nunca neguei na sua cara que gosto de macho, essa é a diferença entre nós, Jimin. Eu assumo que beijo a boca carnuda de Hoseok como se ele fosse a última pessoa do mundo, já você, quando toca no nome de Jungkook, faz de tudo para despistar quem ouve.- Pegou um tecido sujo de tinta seca e jogou contra o rosto do outro, que resmungou irritado.- Está acompanhado do maior fofoqueiro de Paris, as informações chegam a mim como se fossem ferro atraído por ímã.

-Meu Deus, Dupont, você fala pelos cotovelos e pelos joelhos, como pode alguém falar tantas palavras em tão poucos minutos? Está correndo contra o tempo?

-Está vendo? Novamente fugindo do assunto: Jungkook.

-Jungkook é um menino que ficou naquele inferno que chamam de país.-Suspirou.- Ele deve ter seus dezesseis anos agora, mas o conheci enquanto ele fugia de alguns guardas do Czar, ele estava prestes a entrar numa rua sem saída e salvei ele. Eu juro que nunca na vida conheci alguém tão obstinado quanto aquele menino. Os olhos dele eram profundos, pareciam dois carvões de tão pretos, a pele era tão branca quanto a neve que caía sem parar.- Levantou de sua cadeirinha e foi se sentar ao lado de Dupont.- Ele era um revolucionário, sua existência rebelde gritava a alma do partido, e eu tenho certeza de que ele iria amar pintar as paredes conosco. Levantar aqela bandeira com uma foice e um martelo deixava-o tão feliz que eu até mesmo cogitei me juntar ao Partido Operário só para ver como ele agia lá dentro.

Sombras do LevanteWo Geschichten leben. Entdecke jetzt