Sombras do Levante

3; Francês atrevido

O tempo é uma inconstante. Para o universo, o que são cinco anos? Talvez soe como um espasmo muscular, mas para Jimin e Jungkook, os cinco anos que ficaram separados soaram mais como uma década. O Park partira em 10 de outubro de 1912, uma data que marcou o coração de ambos.

Pisar na França foi como visitar um novo mundo. Talvez sua síndrome de vira-lata o instigasse a ver como bela a menor coisa, mas as ruas pareciam mais iluminadas, as casas mais felizes, e a temperatura era menos fria. O outono ali parecia muito mais ameno, ao contrário da Rússia, que era fria e apagada o ano inteiro. Desembarcou primeiro em Lyon, uma cidade grande. Foi lhe indicado que procurasse por um homem chamado Jean Dubois, que lhe apresentaria à pessoa que faria-o companhia até Paris na próxima estação. O sol estava poente, e quando finalmente chegou ao hotel que marcava-se como o endereço de Jean, parecia tudo luxuoso demais para aguém de baixa classe como sí. Aquele hotel conseguia ser ainda maior que os salões Czaristas, e era espantosa a forma como as pessoas caminhavam desfilando pela entrada.

-Puis-je vous aider?- Uma moça lhe abordou logo na entrada.

-Céus, eu não faço idéia do que você está dizendo, Senhora.- Olhou para a mulher, que parecia uma funcionária do lugar.- Jean Dubois.- Tentou dizer o nome de quem procurava.

-Oh... Jimin Park?- O rosto dela se ascendeu como um clarão, e ela catou um papel no balcão, anotou um número e entrgou-o ao Park. Em seguida, quando recebeu a confirmação para sua pergunta, fez um sinal de três com os dedos e apontou para escadarias enormes.

No papel, o número 201 fora marcado, e parando para pensar por alguns segundos, Jimin deduziu que onde Jean residia, era aparentemente no quarto 201, terceiro andar. Sendo assim, ele passou a subir as escadas de forma rápida, com medo de perder tempo. A escadaria parecia nunca terminar, e quando se deu conta, uma grande placa marcava o andar que procurava. Adentrou os corredores, que por mais preservados que estivessem, possuíam o maldito cheiro de mofo, o assoalho brilhava, mas também rangia a cada passo dado. Porta 201, bateu com os nós dos dedos, não recebendo qualquer sinal de que havia alguém lá dentro. Aguardou. Bateu novamente. Aí sim, ouviu passos, a tranca fez barulho, e a porta se abriu mostrando a figura de um homem de, pelo menos, 40 anos, barbado e de óculos. A pessoa em sua frente exibia belas roupas de marca, pareciam caras e luxuosas, além de um óculos dourado, que aparentava ser banhado pelo ouro mais puro já encontrado. O terno de alta classe disfarçava perfeitamente uma barriga gorda, e ele era relatimavente mais alto que si. Um bigode grisalho em sua face lhe dava um ar de seriedade lastimável, sem sequer uma marca da idade, a não ser pelos pequenos pés-de-galinha no canto dos olhos. Estava bem conservado para sua aparente idade.

Jean olhou-o de cima a baixo; -Jimin Park? A previsão para sua chegada não era para amanhã a noite? Nicolau é um rei terrível, céus.

-Senhor Jean?- Seus pulmões se esvaziaram e seu corpo se tranquilizou pelo homem saber falar rússo, ainda que o sotaque fosse muito forte.

-Oh, jovem... Vou te levar até Taehyung, meu rússo é terrível.- Atravessou a porta e seguiu até o outro lado do corredor, abriu sem bater e logo foi entrando.- Taehyung! Jimin Park está aqui.

-Já?!- A voz ecoou pelos corredores como se fosse um grito.- Oh, mon Dieu...- Jimin murchou mais uma vez ouvindo o claro francês sair da boca do outro.

-Minha nossa, eu deveria ter ficado na Rússia!- Olhou espantado para a figura que apareceu em sua frente sem camisa e com o cabelo bagunçado.- Você pelo menos fala rússo, senhor Taehyung?- Perguntou, já sem esperanças.

-Qu'est-ce que vous avez dit?- Jimin quis se enfiar em um buraco com a resposta em francês.

-Pare de brincadeiras, moleque. Ele vai começar na Belas Artes em poucos dias. Ensine-o o básico e vá aprimorando, ele tem uma escultura para fazer para Nicolau Segundo, aquele verme inútil.