7; Lúcifer está solitário

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O cheiro de tinta enjoava Park, que trancava a respiração, dando seu máximo para terminar uma pintura. Ser artista era sua paixão, mas Lyon era uma cidade tão pequena e abandonada pelo governo que o material que costumava usar não era nem mesmo vendido por ali, então se contentava com o que Jean trazia quando viajava para a capital. Dia 19 de junho de 1915, quase um ano do início da guerra, e a única notícia que teve da Rússia veio por parte do Czar, que enviou a escultura para Lyon para que o trabalho não fosse atrasado pela situação. Num geral, ataques à Paris estavam muito menos recorrentes, mas ainda aconteciam, e retornar para lá era algo que não deveria acontecer até as tropas inimigas decidirem partir para outro alvo. E enquanto ocupava sua mente com pinturas de tinta ruim que iriam ficar gurdadas pelo resto de seus dias na Terra, rezava para que uma carta chegasse às suas mãos, com o nome de Jungkook como remetente. Mas sabia que aquilo não aconteceria. O mais novo nem imaginaria que havia fugido de sua antiga residência, e talvez, quando voltasse e checasse a caixa de correio, encontrasse algo daquele que amava. O Smirnov poderia ainda estar lutando na guerra. Quantos anos ele completava naquele ano? Quando seria a data de seu aniversário? Teria ele idade o suficiente para entrar para as tropas? Jimin não sabia, mas tinha certeza que a rebeldia de Jungkook era mais que o suficiente para fazê-lo se voluntariar à luta, apenas para sentir o gosto da batalha em suas mãos. Não que o jovem rússo fosse um psicopata, mas a sede de vingança em suas orbes era algo visível e atraente. Jungkook como um todo era atraente.

Organizar os pensamentos e devaneios era complicado quando se estava trancado em uma casa rústica e caindo aos pedaços por quase um ano inteiro, e aquilo lhe dava nos nervos. Queria sair para caminhar, mas Jung Hoseok e Taehyung Dupont impediam-o, dizendo que Dubois não permitira a saída de nenhum dos meninos. E só podia praguejar e amaldiçoar a obediência do casal, estes que, morando juntos, firmaram ainda mais o relacionamento, e agora, o Park sofria tendo que ver os dois de mel um com o outro, enquanto a pessoa por quem seu coração gritava, estava em outro país com o risco de, possívelmente, estar no meio da guerra. Jimin gritou da sala de artes da casa, e todos os residentes ouviram. Quis morrer quando Taehyung entrou pela porta de olhos arregalados e um pano de cozinha sobre os ombros, indicando que o mais novo estava na direção da cozinha. A comida daquele homem era horrível.

-Você está cozinhando?

-Estou. Macarrão ao alho e óleo. Vai comer?

-E correr o rísco de uma contaminação? Não, obigado, tenho família me esperando na Rússia.

-E eu tenho culpa que o cozinheiro da casa fez o favor de se trancar em seu quarto de pintura por cinco dias e sair apenas para tomar água e engolir forçadamente uma fruta ou duas diante de ameaças? Sério, Park, pode até não morrer por conta da minha comida, mas vai morrer por anemia. E se você morrer, Jean faz questão de te matar novamente para que seja ele a tirar sua vida depois de uma dessas.- Se virou para sair.- Falando no velhote, ele vai até Paris hoje... Talvez se você implorar de joelhos possamos ir junto. Ninguém resiste quando você pede as coisas daquele jeito meloso, principalmente o Jean, que é hiper babão pela sua cara de anjo.- E saiu.

E não demorou mais que cinco minutos para que o loiro-de-raízes-crescidas saísse às pressas do quarto e corresse até a cozinha, vendo sua segunda famíla reunida ali, servindo-se. Dois deles com cara de incerteza em enfiar a comida goela abaixo, e o terceiro com um olhar orgulhoso sob seu próprio prato. O cheiro era de alho refogado, e olhando atentamente, viu a consistência gosmenta em que o macarrão se encontrava. Se jogasse aquilo aos cachorros abandonados, eles fariam ânsia e atacariam quem ofertou o alimento, porque o envenenamento era certo. Os olhos de todos se viraram para a figura que acabara de dar as caras ali, depois de cinco dias de desaparecimento, com um misto de alívio e súplica para que o Park salvasse suas peles de ingerir aquele prato de morte-cozida.

Sombras do LevanteWhere stories live. Discover now