v. Cante até que se Cale

108 21 1
                                    

O fim de nossa dinastia

d y n a s t y

Havia uma enfermeira no quarto dizendo alguma coisa. Alina só conseguia distinguir o azul de seu uniforme, o rosto da moça era disforme. Sem prestar atenção no que era dito, Ali fechou os olhos, em uma falha tentativa de voltar a dormir. As sensações que seu corpo sentia eram sufocantes. O analgésico tinha perdido a força.

Sua cabeça latejava e a dor de cabeça que sentia fazia Alina trincar a mandíbula. Ela estava desesperada, queria pedir por mais uma dose de remédio, mas sua garganta estava dolorida. Nenhuma palavra saía de sua boca.

Em sua terceira tentativa frustrada, ela enlouqueceu de irritação. A necessidade de falar a fez levantar os braços, levando suas mãos até seu pescoço.

Suas unhas estavam descascadas, a maioria rachada. Em um som gutural, Alina passou com força as pontas quebradas em sua garganta. Sem propósito aparente ela continuo. As marcas logo apareceram, linhas finas marcadas de vermelho. Ela só parou quando a enfermeira a conteve.

Tendo seus braços imobilizados na cama de hospital, Alina finalmente parou. Dessa vez, as lágrimas deram um tempo. Virando seu rosto para o lado, ela olhou perdida para a parede do quarto onde estava.

A garota não perguntou sobre seus pais. Nem procurou por sua acompanhante.

Pelo tempo que esteve internada ela se negou a se alimentar. Com muito custo ela beliscava uma coisa ou outra.

Quando as enfermeiras e os médicos perguntavam algo, Alina fingia que não era com ela, fechava a cara e não respondia nada. Demonstrava seu luto pelo silêncio. Mal se incomodava em ficar acordada, ela só ficava lá, deitada, quase imóvel. Dormia o tempo todo e quando não lhe restava mais sono, ela fingia estar desacordada.

A garota se acostumou com as remelas e a constante sensação de desnorteamento. Sua maneira de atravessar as duas semanas que esteve no hospital foi ignorando tudo e todos.

As horas que Alina acumulou sentindo e fazendo absolutamente nada, só serviram para ela mergulhar no abismo que se abria sobre seus pés. Em silêncio ela estava sendo engolida inteira. Todos seus sentimentos bons sugados, apenas a amargura, ódio e tristeza remanesciam.

A cada vez que seu olhar encontrava a parte transparente de vidro da parede que delimitava o quarto em que estava, e via uma família saindo feliz, seus olhos queimavam de fúria. Se não fosse tão difícil levantar da cama ela teria se jogado no chão e feito pirraça. Ou talvez cuspido no chão onde as famílias felizes e inteiras passavam.

Havia nela um acúmulo de sentimentos. Emoções que apodreciam, cantos nela que antes eram brilhantes e floridos, mas que agora estavam cheios de pó e teia, abandonados.

Sua mente vazia não criava mais nada. Seu coração padecia dominado pelas traças, sem condição de mais nada além de uma sofrida e custosa batida. Até mesmo as músicas que nunca cessavam agora tinham entrado em um intervalo sem previsão de terminar.

Depois de juntar tanta coisa, Alina Petrov, uma garota órfã e paciente de um hospital surtou. A coisa toda não foi legal. Ela parecia ter perdido a lucidez. Não havia nada em seu rosto que a aterrasse no mundo dos vivos. Foi como se Alina tivesse ultrapassado um extremo e tivesse chegado a um precipício.

Antes de seu surto, ela tinha sentado na sua cama. Por toda manhã ela tinha remoído e recordado.

Eu soube que você gosta de cantar o médico tentou simpatia, trocando um olhar com a enfermeira. E depois de termos feito os devidos exames, eu posso te dizer com quase 90% de certeza que as chances de recuperação são muito boas. Embora devo dizer que não haja nada a se fazer com as cicatrizes.

Uma Corte de Estrelas CadentesWhere stories live. Discover now