xii. Leitores Leem Livros

72 12 0
                                    

Alina Petrov seria reprovada no primeiro ano do Ensino Médio. Ela repetiria e não teria conselho de classe que a salvasse. Ela não tinha nota, presença ou atestado para justificar. Tinha sumido sem mais ou menos e não estava nem um pouco ansiosa em reaparecer.

A diretora iria dar mais do um sermão, e não haveria suspensão suficiente para ela. Ali, entretanto, agradecia ter virado a noite por causa de uma autora e não por bioquímica. Pela sua contagem, esse era o primeiro dia da semana de provas.

Sua turma devia colado post-it até nas testas uns dos outros. Alguém devia estar explicando e os outros absorvendo a sabedoria alunal.

Alguma mesa devia estar riscada, igualmente as borrachas. Todos devem estar zanzando de um lado para o outro, repetindo os termos que não podem fugir.

A garota estaria roendo suas unhas se estivesse na 101.

Biologia era para ela, indecifrável. Não era seu forte, assiste-se quantas horas de video-aula quisesse, independente do quanto anotasse, ou dos macetes que tentava usar. Todas aquelas bases nitrogenadas, ligações de hidrogênio e bicamada fosfolipídicas não se ordenavam em sua cabeça.

Observar Isis sofrer era muito melhor. A menina, que dividia sua atenção entre sua próxima vítima, um livro de poucas páginas, mas de linguagem muito agradável e com narrativa efetiva e impecável, e sua amiga, que sem sucesso, estabeleceu a meta de derrotar um calhamaço de Guerra. Tudo porque viu seu irmão com um, e agora quer provar que também pode.

Mais da velha e boa rivalidade entre irmãos.

"Isis, não se dá um passo maior do que a perna".

Isis franze o cenho, seus olhos continuam perdidos na letra minúscula que o editor socou na página branca. Ela está um pouco desesperada. "Ainda não saiu dessa página?", a humana de orelhas arredondadas comenta. "Você não pode começar com um calhamaço e achar que está tudo bem".

A mestiça grunhiu. "Como eu vou me concentrar se você não para de falar?".

"Ah, pequeno gafanhoto, você é muito nova para dominar tal técnica. Você é só uma aprendiz, se coloque em seu lugar, Isis". A mestra leitora diz, com muita seriedade. "Devolva esse livro, Is. Não seja tão teimosa".

Desta vez, a filha da Valquíria fechou o livro, ela não parecia ter marcado a página, um erro de iniciante. Seria um inferno achar a exata passagem novamente. "O que você sugere, então?", Isis, de cara amarrada, disse, mais irritada com o General que redigiu aquele relato do que com sua amiga.

"Aprenda a ser leitora primeiro Isis". Se Alina fosse introduzir mais uma para o caminho sem volta da literatura, ela devia voltar toda sua atenção para a vítima. A capa do seu livro estava virada para cima, parte do marca-página pendia de fora. "Se acostume com os primeiros capítulos e abundância de palavras. Depois você se preocupa com o excesso de páginas".

Isis deve ter achado tudo aquilo muito chato, porque suspirou e fez questão de mostrar seu descontentamento. "Não inventa, Is. É só fazer o que eu digo, e já já você será um orgulho para sua mãe". A feérica olhou para o livro colossal na mesa, esticou sua mão e encontrou nada. A Casa o tinha levado.

"Por onde eu começo?" Isis e sua competitividade exacerbada preferia ler um livro inteiro do que ficar para trás na disputa não exatamente silenciosa que travava com seu irmão mais velho, desde que não tinham mais idade para serem legais um com o outro.

"Pela minha indicação, é claro". Ali parou, isso funcionaria? Isis seria difícil de agradar, não seria qualquer coisa que chamaria sua atenção. O que Alina tinha de indicar seria aquilo que prenderia a filha de Nestha e a faria querer pular sua rotina matinal. "Você vai tentar de verdade Isis? Vai insistir mesmo que o primeiro capítulo seja longo? Mesmo que a autora não esteja fazendo o que você queira? Ler é coisa de gente grande, que não desiste.", a humana indagou.

Uma Corte de Estrelas CadentesDonde viven las historias. Descúbrelo ahora