ix. Não dá para Acreditar

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A garota de orelhas arredondadas estava tão longe de sua casa quanto um dia sequer ousou cogitou que estaria. Havia tanta luz atravessando a janela despida de qualquer coisa que bloqueasse os raios que chegam na ascensão do sol, que seria impossível que ela não acordasse com o clarão ofuscante investindo contra seus olhos protegidos por pálpebras fechadas.

Ela empurra as cobertas, senta na cama e permanece presa ao sono, sono este em que é a vítima atacada por milhares de borboletas farfalhantes e em revoada. Há um par de pantufas que encaixam em seus pés na beirada da cama que cabe mais quatro dela. Ali cambaleia para a saída do quarto, tateando a maçaneta.

No corredor que se abre a sua frente, a humana caminha. As vozes ecoam distantes de seu entendimento. Os degraus que não pareciam estar ali da última vez são descidos por Alina. Não há mais como não distinguir os garfos batendo e as vozes sendo engolidas por interrupções e respostas.

A humana vê a última cadeira, a única que resta, ela a toma e suas mãos estão no pão fresco e de casca crocante. É o peso do silêncio e de outros pares de olhos que para a faca em sua mão. A menina espera que seus pais digam alguma coisa.

Eles nada dizem. Petrov arregala seus olhos castanhos e nisso, ela os vê em todos os lados e em grande quantidade. Ela larga a faca, devolve o pão e escuta aquela voz que a acompanhara quando suas mãos sustentavam lombadas presas a folhas.

- Ela é uma humana? – um garoto de idade próxima a da garota diz. Aquele azul-turquesa que Ali nunca encontrou em sua terra estava a encarando. Sim, ela era humana. Ela lembrou disso. Se tornou ciente do pijama contra a sua pele e do coração, que batia numa frequência desenfreada e sem ordem, querendo escapar daquela proteção de ossos mortais de cálcio em seu peito.

Ele estava lá, o homem mais lindo que um dia a mulher que a trouxe até ali viu em um festival de uma terra mais a sul, em um tempo passado. Eles também estavam lá, asas e avelã. Elas estavam a sua direita, a esquerda e a frente, uma mortal de ossos refeitos, uma viajante de mente antiga e uma majestade de cabelos loiros. As páginas voltarem a sua memória, elas e as palavras que saíram dela e que a garota guardou.

Ela podia ter tropeçado com a presa que sentiu urgir. - Você acordou – a voz dela veio, suave e como uma canção.

Alina olhou para Feyre Archeron, a quebradora de maldições, Grã-senhora da Corte Noturna e voltou para o instante em que um cinto a prendia a um carro estraçalhado. O terraço do hospital em que esteve, o gatinho em seus braços, o estranho do cemitério que nunca antes tinha visto, a casa queimada, o jardim imaculado e a fuga, tudo veio em sequência. A mão tatuada estendida que ela aceitou e a passagem para um mundo diferente do seu.

A garota humana quase em disparada, andou de costas, até que se virou e como uma corça correu com suas pernas humanas e pés descalços. A grande porta dupla estava ao alcance dela, e por ela Ali irrompeu para a cidade da Luz Estelar.

X

"Quem era ela?" Feyre encontra a dona da voz ao seu lado, sua sobrinha. "Alguém que eu achei poder ajudar". Ashe então disse "Onde você a encontrou mãe?", com uma garfada de bolo saindo do prato, "Mesmo para uma humana, ela corre rápido". A feérica, pintora de pesadelos e sonhos refletiu, ainda de pé, se deveria encontrar a menina.

Não. A voz dele, seu parceiro veio em resposta. Ela o achou em seu lugar à mesa. Ela precisa daquilo que você um dia ansiou. A quebradora de maldições concordou, mesmo incerta. A cidade é segura, Feyre. Cedo ou tarde ela voltará.

Amren, aquela força milenar, meditou em silêncio, seu olhar fixo a cadeira abandonada. As emoções humanas que pareciam querer explodir de dentro para fora eram tão fartas como opostas. A tristeza de mão dada a alegria. O medo acompanhado da coragem. A entrega a frente e a ressalva um passo atrás, em desconfiança. A anciã deixou a casa dos Grãos-senhores com o nome da mortal em seus ouvidos. Alina, é como ela se chama.

Uma Corte de Estrelas CadentesWhere stories live. Discover now