vi. A Fumaça que Nubla o Céu

121 19 4
                                    

sonhos em que estamos morrendo

m a d    w o r l d 

E lá estava ela, caída na grama, apoiada em seus joelhos ralados. Seu rosto estava machado de fuligem e a fumaça impregnava seu cabelo. A bainha de seu moletom estava chamuscada e sua calça em parte rasgada. Seus olhos ardiam, ela lacrimejava.

E tudo porque a garota queria pegar suas coisas e olhar sua casa novamente. Ela nunca sonharia que uma rápida visita terminaria assim. 

Antes que completasse um dia de sua alta, Alina se viu no meio de outro furação. Ela estava em sua casa, no lugar que deveria ser segura e de repente corria perigo. Alina se sentia renegada, expulsa de seu lar. Mais um acidente em sua vida — uma chama pequena, quase insignificante, que do nada se alastrou.

O cheiro não demorou a ser notado pelo seu nariz. A primeira coisa que ela devia ter feito era sair correndo dali, mas essa não foi uma prioridade para Alina, ela não era a única presença dentro da casa, o Meteoro estava solto. Ali colocou sua vida em segundo plano, tudo que importava era salvar seu gatinho.

A fumaça aumentava, cada vez mais o fogo crescia. A vida dela em risco. Ela não conseguia enxergar que prestasse, estava tudo embasado. Seu tempo diminuía e ela estava arriscando demais, as tossidas se tornaram frequentes e dolorosas e o sentimento de sufocamento, presente.

A cegas, a menina tropeçou, caindo de joelhos. Ela estava esgotada, pensamentos sombrios passavam por sua cabeça — eu preciso levantar? Faz diferença se eu continuar? Será que não é mais fácil eu apenas esperar.

Foi só o som fraquinho do miado de Meteoro que a fez voltar em si, alarmada ela ergueu a cabeça. Buscando em sua volta sinal de seu gatinho, infelizmente a pelagem preta do felino parecia camufla-lo. Talvez a divindade tenha visto seu sofrimento, talvez tenha sido um ato aleatório, seja o que for, foi um milagre que salvou a vida de Alina e de seu gato. Porque ela achou o felino, e sem nenhum esforço ela conseguiu pega-lo no colo.

Eu estou aqui, por você, fica comigo, por favor.

Ali segurava o felino como um bebê e o gato se acomodava nos braços da garota.

Tomando fôlego ela cambaleou até a saída, fugindo do fogo que estava tão perto de alcança-la. Irrompeu pela porta e se arrastou até o gramado. Quando suas pernas falharam ela já estava distante. O som da explosão atingiu seus ouvidos e o clarão a cegou momentaneamente. Alina se encolheu, abraçando mais ainda seu gatinho.

Alina apontava desesperadamente em direção a casa, querendo gritar. Ficar parada sem poder fazer nada a estava enlouquecendo. Sua necessidade de gastar sua garganta e se acabar de tanto gritar não era mais possível, nem isso ela podia mais.

O acidente  tinha custado muito.

O caminhão do corpo de Bombeiros não tardou a chegar. A sirene soava até o momento que foi desligada. Logo, as mangueiras começaram a jogar esguichos de água, no processo, alguns focos resistiam.

Não foi Alina que ligou por socorro, ela não tinha condições para isso. Talvez tenha sido um vizinho, ou talvez o sistema da casa tenha mandando o alerta. Agradecida pela chegada do carro, ela se acalmou um pouco. Eles vão apagar o incêndio, vai ficar tudo bem. O seguro vai cobrir tudo, vamos reconstruir ela. E a mamãe e eu vamos mobiliar. Tudo vai dar certo...

O gato continuava aninhado em seus braços.

Em um choque, ela voltou em si — Não, não vai dar tudo certo, eu perdi minha família. Ontem eu os visitei no lugar em que foram enterrados, eu estou sozinha —. As lágrimas se tornaram numerosas e vieram com força. Alina não lutou quando o trecho de uma música ecoou em sua cabeça.

Uma Corte de Estrelas CadentesOnde histórias criam vida. Descubra agora