xv. O que é a Vida?

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Correndo da luz do dia

d a y l i g h t

A pequena criança agitou seus braços, sorrindo com entrega. Confiando com imediata certeza na pessoa que não sorria. Ela foi erguida sem delicadeza, mas não chorou. Quem a carregava, o fazia com o coração intocável. Os pequenos olhos dela ainda brilhavam quando a mulher a levou.

A cidade ficou para trás com um querer certo da pessoa que carregava a criança.

Outra mulher, a mãe da menina, não encontrou sua filha no lugar em que ela devia estar. Mas aquela magia retorcida, venenosa e eficaz surtiu o efeito desejado. A neblina surgiu, converteu-se em uma névoa, espessou e se expandiu. E a mulher em questão, que tinha sentido o desespero subir por sua garganta, já não sentia mais nada.

Não houve um instante a mais do que o planejado para que tudo estivesse feito e a menina não existisse mais.

O menino, que já não tinha irmã, não porque essa tivesse morrido, mas porque não se lembrava de já ter tido uma, encontrou sua mãe no lugar em que ela tinha estado antes de confiar em sua família, nas proteções de seu lar. Ele a abraçou por um impulso. Ela aceitou o impulso do filho.

Não houve sangue, gritos ou lágrimas no encalço da menina.

Ela se foi para algum lugar e por lá ficou. E na cidade, sua família, que nada sabia dela, ficaram.

A mulher que tudo começou, continuou a viver. Sem nunca escutar o choro desesperado da criança, quando esta percebeu ter sido um erro confiar tão precipitadamente na pessoa que não retribuiu seu sorriso.

Sem remoer o feito, ela teve a dádiva de ter apenas sonhos intocados e felizes, uma extensão de sua despreocupação. Necessário foi ver aqueles olhos, que ela nunca esqueceria, de volta, para que a mulher não encontrasse mais as colinas pacíficas em seu sono.

Noite após noite, tudo que encontrou foi pesadelo. E ela sabia o porque não sonhava mais, a mulher enfim, depois de tanto tempo, teve a decência de temer a consequência do retorno de olhos que já não eram tão brilhantes.

X

Nyx Archeron, tinha um quadro inacabado cujas cores o imploravam, dia e noite, para que terminasse. O herdeiro tinha as tintas e os pinceis que precisava, mas não o tempo, que pouco sobrava com seus deveres, e a vontade que lhe fazia falta.

Ele, que acompanha o seu pai desde a tenra idade, escuta as intrigas, as sugestões que devem ser acatadas, os egos se sobressaindo, e o passado retornando todas as vezes que um dos anciões falam.

A expressão permanece neutra, como manda a cordialidade e sua posição. Ele não tem nada para dizer. Então contribui com seu silêncio.

Os relatórios surgem em uma pilha. Eles serão debatidos página por página. Mas o filho da Quebradora de Maldições não quer escutar os números, os nomes e as circunstâncias. A reunião, que não tem hora para acabar, teria fim tão cedo pudesse impor, se dele dependesse.

A responsabilidade não parece real ainda. Nyx surge atrás do seu Grão-senhor e acompanha sua Grã-senhora, por acaso seu país, mas ele não sente a urgência do título. Ele se preocupa em não decepcionar a eles, porém, vê com alívio o quão pouco lhe é pedido.

Talvez seja o tédio de ser um adulto para os humanos e um pirralho para sua espécie, mas de repente, e inconvenientemente, aquela vontade que ele não via a tempos, ressurge como um pássaro de fogo. E os contornos que não tinha conseguido esboçar, entram com facilidade em sua mente.

Uma Corte de Estrelas CadentesWhere stories live. Discover now