Capitulo XX - Vivendo A Cada Dia

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~~~Três dias depois ~~ Estados Unidos - Havaí - 13 / 09 / 2011 ~~~


- Corre, porque eu vou te pegar! - Robert anunciou enquanto corria atrás de Ashton, que desesperado tentava se manter longe do pai. Ambos rindo com enormes sorrisos no rosto, mas Robert parecia estar muito cansado. Notei isso pela vermelhidão em seu rosto.

- Ok, meninos. Já chega. Já brincaram muito e está na hora de todos dois irem para o banheiro tomar aquele banho super gostoso e revigorante para depois almoçarmos. - Falei pondo um fim na brincadeira de pega-pega dos dois, afinal, o médico havia pedido a Robert para não fazer muito esforço físico, sendo assim, não podia está correndo, mas como ele é teimoso e não sabe dizer não ao Ash, acabou aceitando a brincadeira.

- Ah, mãe. Deixa a gente brincar só mais um pouquinho, por favor. Deixa vai. - Ash tentou usar o olhar perdido do gato de botas, mas como se tratava da saúde de Robert, eu apenas balancei a cabeça em negativa. Ashton murchou ao meu olhar e de cabeça baixa entrou em casa.

- Oh, Ana. Coitado. Viu o jeito como ele saiu? - Robert falou parando diante de mim, limpando as gotículas de suor que tomavam sua testa.

Olhei para ele rigorosamente e arqueei a boca em gesto de indignação.

- Eu não sei o que se passa nessa sua cabeça, criatura. - Chiei para ele que me olhou confuso. - Qual parte do "Você não pode fazer esforço físico" você não entendeu? - Perguntei. - Poxa Robert, eu estou fazendo de tudo para tentar prolongar a sua vida, mas parece que você não quer isso. Droga. - Virei de costas para ele sentindo uma coisa ruim no corpo. Eu queria tê-lo mais tempo comigo, mas ele não estava cooperando.

- Meu amor. - Começou ele abraçando-me por trás. - Eu sei que você está preocupada comigo, mas você tem que me deixar passar o maior tempo que eu puder com o Ash.

- Mas há muitas maneiras e formas de vocês dois ficarem juntos sem você ter que fazer esforço. Jogar vídeo game com ele é uma das melhores formas de se passar o tempo. - Olhei para ele que fitava meus olhos com atenção.

- Eu te amo tanto, Ana. Você me fez tão feliz durante este tempo que passamos juntos. - Disse ele acariciando meu rosto.

- Eu também te amo, meu amor, mas por favor, coopera comigo. Tentar ficar mais tempo com a gente aqui, tá? - Pedi. Ele assentiu. - Agora vai lá tomar banho porque você tá pior que um porco.

Sorrindo do meu comentário, Robert me deu um selinho e saiu andando para dentro de casa, sujando o chão por onde pisava de areia. Segurei-me para não gritar com ele. Mas foi ali, vendo suas pegadas no chão que eu percebi que sentiria falta de sua desorganização quando partisse. Era a décima vez que eu me emocionava quando Robert me deixava sozinha. Virando-me para frente, eu contemplei a imensidão do mar. Estávamos em uma praia isolada no Havaí, e este já era o nosso terceiro dia. Robert queria curtir cada segundo que tinha de vida conosco e eu aprovei a ideia.

Minha fábrica estava sendo administrada por um dos empregados de Robert e sua empresa era seu pai, John que estava à frente. Mary ainda não sabia da doença do filho e assim foi decidido por ele e pelo pai. Mary só saberia depois de sua morte. Não aprovei muito isto, mas quem sou eu para impor alguma coisa?

Eu ainda não estava pronta para deixar Robert partir e muito menos para cuidar de Ashton sozinha. Eu não tinha experiência em nada e isso só tornava as coisas piores.

Tirei os chinelos que calçava e pude sentir a areia quentinha entre meus dedos. Lentamente eu caminhei até o mar e enquanto eu não chegava, as lagrimas desciam por meu rosto. Apesar do calor que fazia por conta do sol, eu me sentia extremamente gelada, fria, e para tentar me aquecer, eu esfregava meus braços com mãos. Eu não podia chorar na frente de Robert porque eu havia prometido a ele que seria forte, mas bastava que ele virasse as costas para eu cair no pranto. A sensação era de ter meu coração sangrando a todo o momento e a dor parecia nunca ter fim.

Levantei um pouco a barra do meu vestido para que a água não o molhasse, então deixei que as ondas lavassem meus pés. Como Robert e Ashton ainda demorariam um pouquinho no banho, eu resolvi caminhar à beira mar, afastando-me um pouco de casa. Estava muito sol a ponto de ofuscar meus olhos, mas eu não me importava com nada daquilo, aliás, eu não me importava com nada que não fosse relacionado a Robert e Ashton. E o pequeno, coitado, ainda não sabia que o pai iria partir. Não aguentando manter o choro brando, eu explodi extravasando minhas lágrimas. Indignada, eu olhei para o céu em buscas de respostas que eu sabia que não viriam.

- Porque ele? Por quê? Ele só queria ter uma família, droga. Porque vai tirar tudo isso dele, hein Deus? - Eu perguntava indignada olhando para as nuvens branquinhas que escondiam o céu azul. - Tira de mim, Deus. Tira a minha vida e dá a ele. Ele merece mais. Não o deixe morrer. Leve a mim ao invés dele. - Eu pedia rezando para que Deus realmente me escutasse.

Caí de joelhos na terra e minhas mãos agarraram com força a areia branquinha. Meu choro só aumentava e se eu não me controlasse, eu poderia acabar com a paz de espírito que Robert estava sentindo. Após alguns minutos de ira profunda, eu me recompus e limpei minhas mãos, batendo as palmas para me livrar da areia. Limpei o vestido e só voltei a caminhar de volta para casa quando constatei que eu já estava melhor para voltar a fingir que eu estava bem. Para minha sorte, nem Ashton e nem Robert haviam descido, sendo assim, eu rapidamente lavei meu rosto e só então servi a mesa com uma lasanha, massa preferida de Robert.

Não demorou muito e as gargalhadas de Ashton e Robert foram ouvidas no andar superior, pelo jeito haviam acabado de sair do banheiro. Enquanto esperava por eles, olhei para os três pratos postos sobre a mesa, neste momento uma lágrima solitária escorreu de meus olhos, rachando minimamente a minha barreira. Suspirei exausta e me encostei na pia, pondo minha cabeça entre as mãos. Tentei esvaziar minha cabeça e meu coração, afinal, eu não poderia deixar Robert me ver desse jeito, desolada, mas estava difícil disfarçar. Sabe quando você se sente em uma completa escuridão? Essa era eu, isso era o que eu sentia e não havia nada que me fizesse melhorar, mas eu precisava ser forte, ou pelo menos mostrar que era, embora eu soubesse que bem no fundo era fraca. Meu maior medo era falhar como mãe, e eu rezava para que isso não acontecesse.

Por uma semana eu me sentia morta, sem vida, mas eu escondia ou pelo menos tentava esconder isso de Robert. Eu chorava no banho porque sabia que ele não ia ouvir e não ficaria preocupado. Eu não comia direito e dormir era uma palavra quase inexistente no meu cotidiano. Toda vez que Robert deitava a cabeça no travesseiro para dormir depois das horas de amor compartilhados entre nós, eu o admirava. Seu sono era sereno e por vezes eu o vi sorrir, e isso era motivo de enxurradas de lágrimas descerem dos meus olhos. Eu tapava minha boca para não acordá-lo com meus soluços sôfregos que vez ou outra escapuliam.

- Ana?

Ouvi sua voz me chamando e rapidamente saí de meus devaneios. Olhei para frente e o vi com a testa levemente franzida olhando para mim, avaliando-me.

- Oi, querido. - Respondi tentando esconder a profunda tristeza que eu sabia que estava exposta nos meus olhos.

- O que aconteceu? - Perguntou ele, vindo até mim. Nesse meio tempo, Ash entrou na cozinha.

- Nada. Apenas uma dor de cabeça, nada demais. - Menti.

Robert levantou meu queixo me fazendo olhar diretamente em seus olhos. Suas pupilas dilataram e imediatamente seus olhos escureceram tomados pela mesma amargura que eu estava sentindo. Incapaz de continuar vendo meu sofrimento refletido em seus olhos, eu virei o rosto e joguei meus cabelos para trás. Estes estavam me agoniando pelo comprimento, sendo assim eu logo os cortaria.

- Mamãe, eu tô com muita fome. - Ash anunciou.

Sem manter contato visual, eu afastei Robert gentilmente de minha frente. Puxei a maior quantidade de ar que consegui e vesti novamente a máscara de mãe feliz. Virando-me para o pequeno garotinho, eu disse:

- Que bom, porque temos uma deliciosa lasanha de carne para devorar. Gosta de lasanha? - Perguntei enquanto o pegava no colo e o sentava na cadeira.

- Gosto muito. - Respondeu ele, sorrindo. Meu coração apertou.

- Que bom. A mamãe vai servir você. - Eu disse. Eu ia pegar a faca para cortar a lasanha, mas Robert segurou em minha mão e falou:

- Antes eu gostaria de fazer um momento de oração.

Não entendi seu gesto porque era a primeira vez que ele pedia para orar antes de uma refeição, mas mesmo assim eu sentei em meu lugar esperando por ele.

- Então, vamos fazer assim: - Começou Robert. - Eu irei agradecer por uma coisa, e então você e Ash vão fazer o mesmo, ok Ana? - Robert perguntou. Eu e Ashton apenas assentimos. - Querido Deus, eu agradeço a Ti pela comida farta e pela saúde da minha esposa e do meu filho. - Meu estômago revirou após a última frase de Robert. - Agora vocês. - Incentivou ele.

Eu abaixei a cabeça. Sei que era muita ingratidão da minha parte não querer orar, mas eu tinha todos os motivos do mundo para estar, digamos que... Chateada com Deus.

- Eu agradeço a Deus por ter me dado uma mamãe e um papai. - Ashton falou sorridente. Isso foi o bastante para que ânsia de vômito viesse forte o suficiente para me fazer levantar da mesa e procurar o cesto de lixo mais próximo. Despejei tudo - ou o nada - que eu tinha na barriga na lixeira da cozinha. Em meio segundo Robert estava do meu lado. Uma mão segurando meus cabelos e a outra afagando minha costa.

- Está tudo bem, querida? - Perguntou ele cheio de preocupação.

Após o vômito cessar, eu apenas balancei a cabeça em afirmativo. Robert segurou em meus ombros para me erguer, encostou-me no balcão e levantou meu rosto para verificar se eu estava mesmo bem. Eu até tentei focalizar seu rosto, mas rapidamente a escuridão tomou meu corpo.

...

Eu sentia algo quente na minha testa e lentamente eu fui abrindo os olhos. Pisquei algumas vezes para acostumar minha visão à claridade, quando esta por fim se ajustou ao ambiente, eu contemplei Ashton ao meu lado esquerdo da cama e Robert ao meu lado direito, sentado na beirada. Só então percebi que ele estava usando o pano umedecido para tentar me despertar.

- Oi. - Eu disse ainda sentindo um pequeno enjoo.

- Oi. - Respondeu ele. O pano úmido foi trocado por um seco, e logo Robert secou a parte molhada da minha testa.

- Mamãe, você tá bem? - Perguntou Ashton acariciando meus cabelos. Achei o gesto tão fofo que até senti vontade de chorar.

- Eu tô sim, filho. - Ergui-me para ficar sentada na cama. - Você já comeu? - Perguntei a Ash.

- Não.

- Vem, vocês precisam almoçar. Vamos.

- Não, não, não, não, não. - Robert negou enquanto eu tentava me levantar. Empurrando-me levemente contra a cama, ele me fez deitar novamente. - Eu cuido do Ash. Fique aqui que eu vou servir o almoço dele. Depois eu volto para a gente conversar, ok?

Eu apenas balancei a cabeça. O que está acontecendo comigo?

Robert chamou Ash para ambos descerem até a cozinha, mas antes de sair do quarto, meu querido esposo lançou-me um olhar significativo demonstrando toda sua preocupação para com a minha pessoa. Angustiada, eu apenas fechei os olhos lamentando por meu estado. Não queria dar trabalho a ele e muito menos ser um peso nesse momento de sua vida, mas o que eu poderia fazer se nem eu mesma sabia o que estava acontecendo comigo?

50 Tons de IraWhere stories live. Discover now