Equinócio - Twilight

Mágoas de um coração inseguro

    O pôr do sol já vinha anunciar a despedida do domingo, quando Natalie enfim se resignou com o fato de que Charlie não ligaria mais para ela. Pareceu meio bobo levar o dia inteiro até chegar a tal conclusão, mas depois das confissões que fizera no dia anterior, ela realmente desejou que ele tivesse sido um pouco mais compreensível.

   Teria a descoberta quanto ao seu passado o assustado tanto assim?

   Caso o fosse, então teria mais alguém, além de Faith, para atestar que ela fora capaz de magoar a pessoa que mais estimava no mundo.

   Mas ora pois, o que aquele xerife significava em sua vida?!

   Haviam conversado apenas três vezes desde que chegara na cidade, de modo que seria impossível conhecê-la em sua integridade. Não podia deixar que o achismo de um completo estranho lhe afetasse, mas ainda assim, era difícil de não se ressentir.

   Vai ver ela só precisasse fazer mais amizades em seu novo lar, e quem sabe deixar de depositar todas as suas fichas numa das primeiras pessoas a lhe dissera “oi”. Certamente, isso lhe faria bem, mas por ora, se ateria a conversar com as pessoas de seu passado.

   — É oficial, acabei de fazer a mudança! — ela declarou ao telefone, após ter sido atendida ao terceiro toque.

   “Me sinto tão feliz por você, Nalie...” a voz de Edmund a respondeu do outro lado, genuinamente feliz pela sua conquista.

   Era estranho que tivessem mantido contato após o divórcio, mas estavam tentando voltar a experienciar a boa amizade que tinham, muito antes de serem marido e mulher, e para o bem ou para o mal, até que não era tão difícil quanto imaginavam.

   — Está sendo uma conquista e tanto, bem sabe...É meio quieto à noite, mas tudo bem. — ela dera de ombros, cruzando o braço livre com aquele com que segurava o telefone. 

   “Tenho minhas dúvidas de se continuará assim. Estive conversando hoje com Phoebe, e ela me disse que só estava esperando você se assentar para voltar a ligar para você!” ele comentou, e foi impossível os dois não se pegarem numa risada.

   — Acho que no fim ganhamos na “loteria das noras”, não? — Natalie suspirou ao se lembrar de Phoebe e do dia em que Faith a apresentara para os dois, como uma grande amiga, e posteriormente como sua namorada.

   Não que a filha de Natalie não fosse sociável — na verdade, não foi por acaso que Faith fora chefe do grêmio em seus tempos de escola — mas Phoebe era dona de uma energia divertidamente caótica, que levava toda a família ao limite. Era impossível estar perto dela sem a amar.

   — Ela trouxe alguma novidade? — inquiriu, agora um pouco mais reticente, já que agora entravam em águas mais profundas.

   “Apesar de estarem curtindo o campus, Faith e ela aparentemente tem conversado sobre alugar um apartamento nos arredores da universidade. Não que tenhamos recebido um convite formal para visitá-las, é claro.” Ed explicara, igualmente desconfortável por estarem sabendo de coisas assim por tabela, por mais que amassem a nora que tinham. “Phoebe ainda não contou para ela sobre a sua mudança...Mas talvez ela devesse saber.”

   — O quê?! Ed, não...pelo menos, não agora. — Natalie protestou, levando a mão livre às madeixas loiro-morango, as mexendo nervosamente. — Me mudar para longe pode ter passado a impressão errada, mas não queremos fazer ela nos perdoar por pena. Ao menos, eu não quero.

   “Sabe que não foi por isso que lhe propus. É que é insano! Somos adultos e estamos agindo como se tivéssemos matado o cachorrinho de infância dela!” Ed exclamou indignado, e por mais que não estivessem no mesmo lugar, Natalie teve a impressão de escutá-lo indo de um cômodo para o outro.