Planos frustrados

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   Charlie não sabia se Natalie havia deixado seu “sim” em suspenso para o deixar ansioso, mas se este fosse o caso, ela estava obtendo êxito.

   Tinha retornado uma hora antes da suposta ligação que confirmaria se sairiam ou não, quando o telefone tocou mais cedo, o fazendo correr até a cozinha para atender.

   “Pai?” era Bella, e por mais que amasse a filha, não pôde deixar de se sentir um pouco chateado por não ser uma certa doutora “Pai, ainda está na linha?” ela riu, como se já desconfiasse do motivo de sua frustração.

   — Estou sim, Bells. Está tudo bem? — o homem respondeu, se sentindo meio bobo por estar desconsertado daquela maneira.

   “Está tudo bem sim. Só decidi ligar mais cedo, pois Alice me avisou que o senhor provavelmente teria um compromisso mais tarde...e que o senhor ficaria muito bem naquela sua camisa azul quadriculada.” A garota emendara a última parte, rindo mais um pouquinho, no que Charlie só pôde imaginar que havia sido coagida a dizer aquilo.

   — Espera, como assim Alice sabe de algo?! — estranhou, mas logo chacoalhou a cabeça, dispensando explicações. Deveria ser mais um dos dons peculiares dos Cullen. — Quer saber? Apenas diga que eu irei seguir a dica dela, e para não se preocuparem com o “meu compromisso de mais tarde". — torcera o nariz, um tanto constrangido.

   “Alice vai ficar feliz em saber disto.” Ele pôde sentir Bella sorrindo do outro lado do telefone, pouco antes de suspirar “Acho que como meu pai, eu não preciso lhe dar nenhum sermão ou compartilhar alguma experiência parecida com o compromisso que o aguarda, mas saiba que mais do que todos, você merece este tipo de felicidade” as palavras poderiam ter saído quase uma em cima da outra, mas ainda assim Charlie foi capaz de sentir a felicidade genuína de sua filha por ele.

   — Muito obrigada, Bells. — ele fungou, meio desconsertado. — Mas é sério, seja lá o que mais Alice for estipular para o meu futuro, saiba que a quero fora disso! — rira, sem conseguir se conter.

   “Pode deixar que o senhor estará longe do radar dela pelo resto da noite. Só não faça nada que o senhor não faria, Xerife.” Bella riu “Câmbio, desligo?”

   — Câmbio, desligo. — ele sorriu, devolvendo o telefone ao gancho pouco antes de rumar para o quarto.

   Afinal, tinha uma camisa azul quadriculada para apanhar.

...


   Em sua casa, Natalie sorria enquanto avaliava em seu guarda-roupa o vestido ideal para usar. Apesar de não gostar, já havia aceitado há muito o convite de Charlie, só não confessara em voz alta.

   Um modelito verde de meias-mangas e decote em “v” foi o que prontamente chamou a atenção, e o separando sobre a cama, tratou de se adiantar em sua arrumação ao correr para o banheiro. Já estava quase alcançando a porta quando ouviu um peculiar telefonema, que a impedira de se aprontar naquela hora.

   — Alô? — atendeu sem nenhuma pretensão, pois que Ed já havia lhe ligado naquele meio tempo entre seu almoço e aquela hora.

   “Onde você está?!” a voz do outro lado da linha tirara a mulher do chão, e por mais que seu tom soasse hostil, Natalie não pôde deixar de se sentir mais chocada do que magoada.

   — Faith?! — sua voz embargara sem aviso prévio, seu mundo de repente se reduzindo à menina no telefone. — O que você...?

   “É o seu aniversário. Você achou mesmo que eu não falaria com a senhora?!” ela estava ofendida, mas algo em sua voz a fazia pouco a pouco declinar para o choro.

   — Você não apareceu para o Natal. — Natalie apontou, não em acusação, mas como uma constatação de que aparentemente já não esperava mais por nenhum tipo de consideração da filha.

   “E como eu poderia, se nem mesmo sabia em qual casa você e o papai comemorariam?!” aquele sim foi um golpe certeiro, que atingira Natalie bem na boca do próprio estômago “Mas você...Você fugiu! Para onde foi?! Como fez todo mundo esconder isso de mim?!” Faith chorava do outro lado da linha, mas a doutora já não conseguia discernir o som em meio ao próprio choro.

   — Faith, me desculpa...Eu não queria te magoar. — ela soluçou, não se esforçando para frear suas lágrimas. — Por favor, não se chateie com Phoebe ou seu pai. Eu só não queria os envolver nisso.

   “Mas os envolveu, e sem nem me dar a chance de protestar, você preferiu se exilar. Espero que esteja feliz, Natalie Jenkins.” concluíra, desligando a ligação.

   Incapaz de se mover do seu lugar, Natalie ainda permaneceu ali, segurando pateticamente o telefone contra a orelha, como se a qualquer momento Faith fosse voltar a falar consigo. Fazia trinta e oito anos naquele dia, mas por alguma razão se sentia menor, como se não passasse de seus cinco anos.

   Não havia mais o que comemorar, pelo menos não naquele dia.

   Enganchando novamente o telefone, procurou guardar novamente o vestido em seu armário, dando aquela tarde por finalizada ao descer para a sala, se encolhendo no sofá. Só queria que as horas passassem, e sem um meio de fazer aquilo acontecer, simplesmente apagou ali.


...


   Já era oito da noite, e nada de Natalie lhe dar uma resposta. Imaginou que talvez aquela fosse sua forma de lhe dizer “não”, mas após o sermão que levara da última vez que lhe deixara no vácuo, sabia que ela teria lhe ligado, mesmo que fosse apenas para lhe retornar com uma negativa.

   Preocupado, já que ela tinha tirado o dia de folga, e portanto o trabalho também não seria uma desculpa para o seu silêncio, decidiu pegar seu carro e ir pessoalmente até a casa dela, batendo à porta. As luzes da sala não estavam ligadas, o carro permanecia na garagem, mas ainda não era tão tarde para ela ter se recolhido, e por isso ele bateu uma segunda vez à porta.

   — Natalie, está tudo bem?! — exclamou, começando a ficar seriamente temeroso por ela.

   Para sua felicidade, logo ela lhe abriu a porta, os olhos verdes inchados e caídos, não parecendo carregar nenhum pingo de sua alegria usual.

   — Faith enfim falou comigo. — foi tudo o que dissera, antes de se jogar em seus braços, o apertando num abraço forte enquanto começava a chorar.

   Um tanto sem jeito com a informação, Charlie ainda demorou um segundo antes de lhe acolher, seus braços passando ao redor dos ombros dela, ao passo em que uma mão lhe afagava os cabelos loiro-morango, e a outra se apoiava em suas costas. Aparentemente, a história de Natalie com a filha não havia tido o mesmo “final feliz” que ele e Bella puderam ter.

   — Eu sinto muito. — murmurou contra a testa dela, muito tentando em lhe beijar ali mesmo.

   — Não quero mais comemorar porcaria nenhuma! Me desculpe por te tirar da sua casa assim! — ela fungou, escondendo o rosto contra o seu pescoço. — Eu só não quero mais sair de casa.

   — Bom, então o plano de pedir pizza e alugar algum filme na locadora voltou à tona. — ele riu baixinho, tentando soar animador. — Não vou te deixar passar o que resta do seu aniversário assim. — garantiu convicto, levantando o rosto dela entre as mãos para que ela visse a franqueza em sua voz.

   Foi quando aconteceu, sem mais nem menos. Uma hora Natalie estava diante dele, os olhos brilhando pelas lágrimas, e no instante seguinte ela tinha os lábios contra os seus, o beijando suavemente. Charlie nem mesmo tivera a chance de retribuir, pois com a mesma rapidez que o momento aconteceu, ele logo se foi, com ela se apartando de seus braços bem vagarosamente.

   — Pode parecer estúpido, agora que estou há mais de um mês na cidade, mas eu ainda não sei onde fica a locadora. — ela murmurou envergonhada, arrancando uma risada de ambos.

   — Imaginei que não soubesse. Mas não se preocupe que eu irei dar uma passada por lá, e aproveitarei para pegar a pizza também. — o homem se disponibilizara, dando meia-volta na varanda para retornar ao carro, olhando uma última vez para Natalie antes de partir.

   Céus, como não queria se sentir um adolescente após um mísero beijo. Tudo bem que deveria se dar um desconto por não sair com mais ninguém após tantos anos, mas ainda assim, queria não estar se sentindo tão leve com algo tão bobo quanto aquilo.

Equinócio - TwilightWhere stories live. Discover now