capítulo 14; reborn

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Londres, Inglaterra
5 de maio de 2020

2 anos depois.

Hoje Lua faz 18 anos, se não fosse pelas circunstâncias seria um dia alegre. Entretanto, a cada dia que passa sinto que minhas esperanças vem aumentando. O médico responsável por Lua disse boas notícias nesses últimos meses, mas nada que garante a volta dela.

— Oi. Pronto para entrar? — Candace acaba de chegar no hospital.
— Vamos, Aurora já está lá dentro com ela.

Acompanho Candace até o quarto de Lua e fico diante a maca. Aurora está segurando suas mãos.

— Ela faz 18 anos hoje. — Candace diz.
— Lua havia planejado tudo. Seria a festa perfeita. — Aurora diz com voz de choro.
— Sinto sua falta, maninha. E o Perseu está enorme. — Candace ri e beija a testa de Lua.
— Me dêem um instante com ela, por favor. — falo com ambas.
— Claro. — Aurora assenti.

Quando elas saem do quarto, me aproximo de Lua e encaro seu rosto sereno e calmo. Será que ela consegue me escutar? Ou sentir a minha presença?

— Parabéns, Lua. Agora você não é mais uma pirralha. — sorrio. — Dois anos se passaram, não quer acordar não? — seguro sua mão. — Sabe, esses dois últimos anos sem você foi complicado. Para todos nós. Sua mãe está melhorando agora, mas ela sofreu tanto. Candace então, coitada. Quero que você acorde, não aguento mais te ver assim, como se sua vida fosse escapar em um estalar de dedos. Todo dia acordo com medo de receber a pior notícia. — permito minhas lágrimas rolarem. — Lua, se você consegue me ouvir...

Sinto a mão de Lua apertar a minha. Sua respiração está acelerando e eu acho que isso é bom. Chamo por ela e espero sentir seu aperto novamente. Quando estou prestes a sair do quarto para chamar a enfermeira escuto algo.

— Apollo... — é a voz dela.

Lua sussurra meu nome e eu me contenho para não chorar mais ainda. Ela voltou, a Lua acordou. O pesadelo finalmente acabou.

— Lua! — Digo o seu nome com urgência. — Meu Deus, achei que nunca mais escutaria sua voz. — Encaro seus olhos castanhos que estão semiabertos.
— Onde é que estou? — diz com dificuldade.
— Ei, ei não force a voz. Não faça nenhum esforço, estou indo chamar alguém. Fique acordada.

Corro para fora do quarto e avisto Candace na recepção. Ela se assusta com a minha chegada repentina e percebe o que quero dizer quando sorrio. Estou muito eufórico para poder dizer algo, só consigo rir. Ela acordou. Finalmente!

Candace chama o médico e corre para o quarto de Lua. Quando chegamos, me deparo com Lua olhando para a janela. Ela está linda.

— Por que eu estou numa maca de hospital? — diz confusa.
— Lua, preciso que me escute com atenção. — o médico fala.
— Está bem...
— Você acabou de acordar de um coma de dois anos. Lua, você saiu do estado vegetativo. — ele a informa com a maior cautela possível.

Lua está com uma expressão de espanto e confusão pura.

— Eu fiquei em coma por dois anos? — Lua diz incrédula.
— Sim... — Candace confirma em meio as lágrimas.
— Não consigo... — Lua tenta dizer algo mas fica sem força.

Seu corpo emite alguns espasmos e seu batimento cardíaco aumenta. O médico corre até ela.

— Doutor? O que está acontecendo? — Pergunto.
— Ela está tendo alguns espasmos. É normal quando o paciente acorda do coma. Lua fez esforço demais, ela não deveria. Peço que me dêem licença.

Candace e eu saímos do quarto e aguardamos na recepção.

— Ela acordou! Quero chorar de felicidade. — Candace ri com os olhos cheios de lágrimas.
— E no dia do aniversário dela. É como se ela tivesse renascido. — falo.
— Por que vocês estão com essa cara? — Aurora chega com dois copos de capuccinos.
— Lua acordou! — Candace avisa.

Aurora sorri e começa a chorar. Observo ela e Candace se abraçarem, o alívio em seu rosto é perceptível.

— Meu Deus! Eu não aguentava mais. Podemos ver ela? Os outros já sabem? — Aurora atropela as falas.
— Calma! Ainda não avisamos o pessoal e o médico está avaliando ela.
— Lua se esforçou muito e acabou tendo alguns espasmos, mas o doutor disse que é normal quando se acorda de um coma.
— Entendi, mas ela vai ficar bem? Certo?
— Vai. — sorrio.

Dez minutos se passaram e nada do médico. Candace já ligou para Kimberly e avisou os demais. Agora o que resta é esperar uma notícia.

— Tenho boas notícias. — diz o médico.
— Pode falar. — Aurora diz.
— A Lua não corre mais risco, mas terá que ficar em repouso absoluto. Não posso dar alta para ela de imediato, pois ela precisa ficar sob supervisão médica. — ele explica.
— Entendemos. Minha irmã falou algo depois que saímos?
— Não. Apenas alguns gemidos de dor. O que é normal.
— Podemos vê-la? — pergunto.
— Um por vez, será melhor assim. — Ele sorri.
— Está bem, eu vou primeiro. — Aurora anuncia.

Quinze minutos depois Aurora retorna. Ela aparenta estar mais leve, acredito que todos nós.

— Conseguiu falar com ela?
— Bem pouco. — diz chateada.
— Vamos com calma.
— Ela ainda está no mesmo quarto? — Kimberly chega apressada.
— Sim. Pode ir vê-la, mamãe. — Candace abraça a mãe.

Aviso que estou indo para casa e peço para me ligarem se algo acontecer. Lua perdeu tanta coisa, quero abraçá-la logo.

12:00

Termino de almoçar e me dirijo até a casa de Jack. Vamos juntos para o treino de hoje, pois o carro dele está na oficina.  Assim que chego buzino e aguardo ele aparecer.

— Oi! Bryan pediu para avisar que já está na quadra.
— Ok. — aguardo Jack entrar no carro.

Assim que ele entra dou partida e sigo para o local do jogo. Jack visitou Lua antes do almoço, mas ela estava dormindo. Portanto, assim que sairmos do vôlei passaremos no hospital.

4:00 PM

Fim de jogo! Mais uma vitória para a conta. Marquei seis pontos para o time hoje, mas já fui melhor, confesso. Louis vacilou algumas vezes porém não prejudicou o time. Apesar de não suportamos um ao outro, deixamos as diferenças de lado quando estamos em quadra.

— Caralho, estou morto! — Bryan senta ao meu lado.
— Somos dois, irmão. Vou passar em casa para tomar um banho e depois comprar o presente da Lua.
— Também tenho que comprar algo para ela. — Jack diz.
— Quando a Lua acordar, vamos fazer uma surpresa de aniversário para ela.
— 18 anos, nem acredito. — Bryan diz. — para mim ela ainda é uma criança.
— Para todos nós. — Jack ri.
— Fale por vocês. — viro a garrafa d'água na boca.
Apollo, Apollo... — Jack me repreende.
— A interpretação é livre. — solto uma risada.

5:30 PM

Assim que entro no quarto vejo Lua olhando distraidamente para a janela, me pergunto no que deve estar pensando agora. Ela está tão concentrada que nem percebeu a minha chegada.

— Oi, Lua. — cumprimento com um sorriso singelo.
— Oi... — Seu sorriso é fraco.
— Dezoito anos, em? — me aproximo mais um pouco.
— E você 21. — retruca. — Perdi tanta coisa. — seu olhar é tomado por tristeza.
— Perdeu... mas iremos te atualizar, fique tranquila. — sorrio.
— O médico disse que se tudo der certo... receberei alta na semana que vem.
— Isso é ótimo!
—  Sim, estou doida para ver Perseu. Ele deve estar enorme. — Seus olhos brilham.
— Senti a sua falta.
— Queria poder dizer o mesmo, mas não me lembro de quase nada. — ela ri sem graça.
— Está tranquilo. Tenho que ir agora, fique boa logo. Está bem?
— Ficarei.

Beijo sua testa e sigo para a porta. Antes que eu saia, Lua me chama.

— Apollo... Eu lembro de você correndo até mim.
— Eu não poderia ficar parado. — Sinto um aperto no coração ao lembrar da cena.
— Obrigada.
— De nada, Lua.

O gelo é quenteOnde histórias criam vida. Descubra agora