Três

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AGORA.

A ansiedade era um sentimento familiar, insidioso em sua frequência, deixando uma marca dolorosa ao perceber sua persistência. Neste momento, incerto sobre o visitante que poderia bater à minha porta, a presença de Andrew seria como golpear minhas paredes já fragilizadas, trazendo à tona uma ferida interna que, embora oculta aos olhos externos, ainda latejava dolorosamente. Agradeço silenciosamente por ter deixado para trás as cicatrizes visíveis, tão rapidamente quanto a denúncia que nunca ousou encontrar voz.

Mas eu sei o que farei se não for Andrew? Provavelmente sim.

Contudo, mesmo diante da incerteza, há um protocolo humano a ser seguido ao receber um novo visitante, não é mesmo? Ou assim deveria ser. No entanto, percebo-me destituída desse hábito, em comparação com a recente situação com Calissa, apenas algumas horas atrás.

Enquanto meus joelhos ansiosos se moviam, decido por abandonar o conforto cansado do sofá que um dia foi nosso. E que, espero, um dia será apenas um móvel inerte, tal como eu desejo que meu eu interior, Mabella, volte a ser: sem os resquícios desta experiência turbulenta.

Toc
Toc
Toc

O som repetido três vezes não ecoava como a presença de Andrew, proporcionando-me um breve alívio que durou exatos vinte segundos. Se não era ele, talvez fosse Matteo. Me joguei do balcão alto para correr ao olho mágico da minha porta cor musgo sem graça e decepcionante.

Não reconheço este rosto. Eu gosto do que vejo.

Ajeito os cabelos desgrenhados que caiam sobre o rosto antes de girar a maçaneta e puxa-la sendo surpreendida pela pressão que me impulsionou para trás, quase me fazendo perder o equilíbrio.

Caindo.
Caindo.
Caindo.
Segura?

Mas, repentinamente, sinto uma firmeza em meus quadris, impedindo minha queda iminente. Abro os olhos para me deparar com o vazio entre mim e o carpete, uma imagem que contradizia a inevitável humilhação. Os braços que me seguravam demonstravam uma preocupação genuína, como se aguardassem o desfecho da minha queda.

─ Você está bem? ─ a pergunta ecoou no espaço entre nós.

Não, definitivamente não estava. Os fantasmas do passado sempre encontram uma maneira de ressurgir, e este em particular, que jurara nunca mais encontrar, estava agora diante de mim.

Rhysand Jones. Oito anos haviam se passado desde nosso último encontro na formatura. Minha mente retornou àquela ocasião, uma lembrança marcada por um incidente desastroso.

A beca azul, meu cabelo liso jogado para trás junto de minha franja mal cortada, a cerimônia que parecia uma eternidade. E lá estava ele, próximo à mesa de bebidas, com seu olhar caracteristicamente gélido. Decidi transformar aquilo em uma oportunidade de irritá-lo, como nos velhos tempos.

Me aproximei com toda a confiança, no entanto, minha determinação se desfez assim que seus olhos encontraram os meus, fazendo-me tropeçar e cair diante de todos os presentes.

Foi humilhante.

Não olhei pra cima, sequer tinha coragem de respirar naquele momento e tive certeza de parar de respirar quando uma mão tocou meu ombro. Rhys... Sem trocar palavras, Rhysand me ajudou a levantar, uma ação que só ampliou minha confusão. Por que ele, que sempre mostrava seu desprezo por mim, agora me estendia a mão?

Me ajudou a levantar sem dizer uma palavra sequer, nem um riso, ou piada. Nem me lembro o motivo, mas, me deixou apavorada.

O Empurrei-o com todas as minhas forças, movida pela frustração. Desde o oitavo ano, Rhysand Jones representava um desafio constante, um antagonista que parecia encontrar prazer em me menosprezar. Rhysand Jones é um garoto problema bipolar que me odeia.

Mas se me odeia, por que me ajudou?

Por que dançou comigo?

Por que me seguiu até o banheiro e me beijou?

Por que?

Mas, naquele momento, tudo mudou. Seus lábios tocaram os meus, e o mundo ao meu redor desapareceu. A batalha que parecia eterna, que alimentava nosso ódio mútuo, tornou-se irrelevante diante da intensidade daquele beijo. Nossa batalha que parecia eterna avia acabado, diante desse beijo, ela parecia tão inútil.

Retribui com toda a intensidade que consegui pois jamais imaginaria gostar tanto daqueles lábios venenosos. Das mãos, as mãos em minha cintura amassando meu lindo vestido dourado. Os olhos... Os oceanos azuis me olhando assim que nosso fôlego acabou e paramos de nos beijar.

Eu nunca imaginei gostar tanto de odiar Rhysand Jones.

E nunca imaginei odiar tanto gostar dele.

Agora, diante dos mesmos olhos azuis que uma vez me encararam com indiferença, sinto-me enredada em uma teia de memórias e emoções conflitantes. O mundo parece uma jaula da qual não posso escapar, e a presença de Rhysand Jones apenas amplifica essa sensação.

─ Lodge? ─ questiono.

─ Anderson? ─ sua resposta é carregada de surpresa, refletindo o espanto que compartilhamos neste momento singular

Sabem aquele momento na história onde você literalmente pensa: Tá de brincadeira?

Pois é, estou nesse momento.

EvilBellaWhere stories live. Discover now