Quatro

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ANTES.

─ Você está brincando? ─ Deixo minha caneca sobre a bancada. ─ "Memórias de Luar" é da sua editora?

Seu riso provocou um frenesi de borboletas no meu estômago.

─ "Minha editora" é uma expressão forte, mas sim, eu participei da equipe responsável por esse projeto. ─ Andrew parecia orgulhoso ao dizer isso.

Nossa conversa se estendeu por algumas horas, em uma cafeteria aconchegante de um bairro desconhecido. Em pouco tempo, memorizei sua bebida favorita e o doce que sempre pede: pão de nozes acompanhado de uma simples bola de sorvete de baunilha e um café preto.

Baunilha e café preto pareciam ser opostos perfeitos.

─ Simplesmente você participou da criação de um dos meus livros favoritos.

Enquanto eu falava, ele levou a caneca aos lábios e passou a língua lentamente sobre eles para limpar qualquer resquício.

Instintivamente, fiz o mesmo, mas não pelo café.

─ Carvey fez um trabalho incrível. Vi com meus próprios olhos todo o processo, e também contribuí um pouco.

─ Então estou conhecendo um verdadeiro artista. ─ O sorriso insistiu em permanecer no meu rosto, e eu permiti. ─ Me pergunto se pedir um autógrafo seria deselegante.

Observando ansiosamente por uma reação, vi quando ele deslizou os dedos pela caneca e os dirigiu até um guardanapo na mesa. Uma caneta foi retirada do bolso dele e, após alguns instantes, algo foi escrito no papel.

"Para a poetisa bonita que gosta de croissant de chocolate com cappuccino."

Estava escrito em letra cursiva quando ele me entregou o guardanapo.

A felicidade instantânea que senti ao pegá-lo nas mãos seria difícil de explicar. Enquanto eu reparava em seus detalhes, Andrew parecia estudar os meus também. Mas apesar disso, foquei no fato de que ele não havia assinado o autógrafo. Intrigada, dobrei rapidamente o papel, transformando-o em um origami de coração.

Uma das coisas que aprendi na internet.

Entre terminar nossa conversa e pagar a conta, foi rápido, já que Andrew insistiu para que eu o esperasse lá fora e disse que pagaria por tudo. Não pude negar. Ele era um cavalheiro.

Meu coração dançava no peito, ansioso para a despedida. Quando Andrew saiu pela porta da cafeteria, decidi que não poderia deixá-lo partir sem perguntar sobre o autógrafo.

─ Muito obrigada pelo café. ─ Brinquei com o origami de papel usando as pontas dos dedos. ─ E pela declaração não assinada.

Meu tom não era arrogante, menos ainda rude. Percebi isso somente quando ele, Andrew, sorriu de volta para mim e se aproximou na rua pouco iluminada de Nova York, em uma tarde de final de tarde. A luz destacava ainda mais sua beleza, apesar da aura perigosa de seus olhos e cabelos escuros. Mas suas bochechas vermelhas e doces, combinando com as covinhas do seu sorriso, eram irresistíveis.

─ Muito observadora, senhorita Anderson. Mas acredito que eu tenha um bom motivo. Você não acha?

Sua voz baixa causou arrepios quando ele se aproximou passo a passo a cada palavra.

─ Um bom motivo?

Eu estava encurralada contra a parede ao lado da porta da cafeteria, com uma mão dele segurando meu cabelo e a outra me prendendo entre seu corpo e a parede. Piscava desgovernada, tentando processar a situação.

─ Os autógrafos são uma lembrança de alguém que admiramos e acreditamos que vamos ver apenas uma vez na vida. Para isso serve tal lembrança. ─ Andrew não desviou os olhos dos meus enquanto falava. ─ E nós dois vamos jantar amanhã à noite, então, acredito que não há a necessidade de tal lembrança quando faremos outras ainda melhores.

Arrepios percorreram meu corpo. Suas mãos seguravam meu rosto, agarrando também meu coração. Ele batia tão forte. Piscava algumas vezes, tentando decifrar suas expressões e prever seu próximo passo, mas nada vinha. Isso me frustrava.

Eu provaria seus lábios ali mesmo, em frente à cafeteria, e iria para qualquer lugar com ele, mas sabia que Andrew não faria isso. Ele era um cavalheiro. A única coisa que seus lábios tocaram foram minhas bochechas, deixando um selar em cada lado. Seu sorriso após isso me satisfez mais do que qualquer outra coisa.

O silêncio reinou por alguns minutos enquanto sorriamos um para o outro. Mas Andrew foi o primeiro a quebrar a tensão.

─ Vamos jantar amanhã à noite, e depois disso eu lhe darei todos os beijos que não posso lhe dar hoje.

Minhas sobrancelhas expressavam a confusão em minha mente, e eu coloquei as mãos no bolso do casaco para evitar tocá-lo.

─ Não pode...?

Ele negou com a cabeça.

─ Eu não posso. ─ Andrew soou determinado.

Balancei a cabeça, completamente perdida.

─ Mas por quê?

─ Se eu te beijar agora, o cavalheirismo em mim desapareceria e eu jamais seria capaz de parar.

Satisfação na medida certa. Andrew era mestre em fazer sentir-se segura. Seu sorriso era sereno, sua voz doce, e seus olhos... Tão cativantes. Os lábios, venenosos, embalados em algo como mel, escondiam sua letalidade. Suas mãos, carinhosas, podiam causar prazer ou dor.

Eu não sabia disso até aqui.

Mas acreditem quando digo que há muito mais a se descobrir em longos oito anos...

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