Sete

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DEPOIS.

Normalmente noto coisas ao redor que  outras pessoas provavelmente deixariam escapar.

Tá. Isso pareceu muito mais normal na minha cabeça. Basicamente não saio de casa a alguns dias desde que consegui um novo companheiro de apartamento e um encontro terrível com o meu ex marido. Curiosamente libertador para falar a verdade. Acredito que se lembrem de meu humor terrivelmente mórbido e doente, certo? Ele me leva a lugares sombrios as vezes (quase sempre). Agora é uma dessas vezes em questão.

Seguro o copo com as duas mãos como se ele fosse sumir se eu não o agarrasse com todas as forças, o adornando com meus dedos. Giro algumas vezes a pedra de gelo para que ela se movesse pelo Bourbon caro deste bar chique. O lugar não é ruim, não mesmo, é até bem... Peculiar.

Vejo alguns casais se movendo pela pista de dança ao som de uma música antiga tocada pela juckebox no canto do salão. Acho que o nome de música é "bleeding love", bem boa apesar disso. Alguns bêbados também mas passam despercebidos por causa da roupa cara e os relógios ainda mais caros.

Viva a burguesia.

Penso ao virar o copo de uma vez sobre os lábios, sentindo a garganta queimar, os olhos lacrimejarem e minhas frustrações evaporaram.

─ Você é Mabella Pressman?

─ Eu deveria ser. ─ A amargura em minha voz era obvia, pois o assustou. Resolvi me retratar em seguida.─  Sou eu.

Ele sorri nervoso.

─ Sou um grande fã do seu trabalho. ─ o rapaz arrasta o livro pelo balcão. ─ poderia me dar um autógrafo?

Okay, isso pareceu tão estranho que me fez questionar a merda que colocaram no meu copo. Eu tenho um fã. Observo o livro com atenção quando o pego em mãos, sorrindo um pouquinho ao observar meu nome na capa, como autora. É muito mais bonita do que a última edição.

A pontada no estômago volta a aparecer mas dessa vez acompanhada da euforia básica vinda da vingança. O gosto amargo em minha língua agora era doce como mel.

Andrew Pressman, eu sou a porra de uma estrela.

Olho para aquele rapaz ansioso como uma criança na Disney, fazendo questão de pegar a caneta em seu bolso e assinar a contra capa com um autógrafo. Meu primeiro autógrafo. Ele segura aquele livro como se fosse uma coisa muito preciosa antes de se despedir, saindo pela porta do bar tão rápido quanto entrou. Lhe dou razão quanto a isso pois me pareceu intelectual demais para um balcão velho, bebidas que custavam fortuna, música ruim e esse cara ao meu lado que parece bêbado o suficiente para causar confusa. Vi isso como uma deixa.

Jogo alguns dólares sobre o balcão em frente ao atendente, ajeitando meu boné ao mesmo tempo, como um detetive. Pareceu menos ridículo no espelho do meu quarto. Me viro para sair na mesma velocidade que meu primeiro fã, agradecendo o ar puro e pensando no que encontraria quando voltasse pra casa.

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Demorei cerca de 10 minutos tentando encaixar as chaves do carro na porta de entrada.

  A bebida não me deixou distingur que aquelas não eram as chaves certas. E isso não é o pior, ele estava por vir. Minha porta não abre com chaves e sim com o cartão.

Olho para aquele pedaço enorme de madeira completamente derrotada. Me jogo junto de minha bolsa no hall, bem no meio do corredor, sem me importar com absolutamente nada ao redor. Começo a rir pois achei engraçado como cheguei ao fundo do poço. Sim, eu estou me atacando novamente pois acho a auto depreciação um dom interessante.

EvilBellaOnde histórias criam vida. Descubra agora