cap ³⁶

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Lilith

Emory me leva até o patio da escola, que pela falta de vozerio, noto estar vazio.

Minha respiração está acelerada e são muitos pensamentos de uma vez só que tenho a impressão de que o meu arredor esta girando. Tento me acalmar mas,

e se eu não conseguir me acalmar?

— vem amiga senta aqui.

Emory me ajuda a me sentar na grama, enquanto meus olhos seguem paralisados e desesperados, congelados em apenas um lugar.

Não vou chorar por ele, não tenho o costume de chorar por pessoas, mas...

As lagrimas são inexistentes enquanto a brisa momentânea sopra meus cabelos, minha cabeça é o lugar onde nada faz mais sentido, onde o medo toma meu corpo, acelerando meu coração, onde eu volto a ser aquela criança sozinha.

Então me lembro que eu nunca fui uma criança, nunca um ser humano, nunca fui uma filha, sempre fui um espelho.

Um espelho onde minha mãe despejava toda sua dor.

Eu tinha 10 anos.

Mas Damon não me via assim, certo?

— eu..

Passo a mão pelos cabelos enquanto emmy continua ao meu lado com seu semblante preocupado, com um gesto gentil, ela acaricia as minhas costas com a mão.

— Eu só não quero que tudo se repita denovo Emmy...

– Eu não quero ser outro espelho. Porque eu sei como isso termina.

Minha voz falha de incio, porem a dor de saber como isso poderia acabar me domina.

– Espelhos se quebram. Alguém sempre acaba usando demais, ou não tomando cuidado, ou então apenas soca ele, e ele se estilhaça.

Engulo em seco, e posso notar a morena respirar fundo, digerindo o que eu havia falado.

Entendendo e compreendendo exatamente cada sentimento por traz do que eu havia dito.

Desde pequena eu sabia que havia algo de errado comigo. Eu não era como as outras garotas, eu não conseguia me enturmar, e quando conseguia, as meninas pareciam não gostar de mim, mas eu continuava tentando mesmo assim. Sendo rejeitada não apenas pela minha mãe e irmão, mas pelos meu "amigos". Eu era inteligente e bonita de acordo com os outros mas... era só isso.

Só isso.

Algo que eu cresci ouvindo era o quanto eu era chata e difícil de lidar, o quanto ninguém gostaria de mim se eu fosse "desse jeito". Eu era um criança em desenvolvimento que não podia sequer errar, não podia ter um coração, não podia ser feliz...

Eu vivia com monstros que cultivava na minha mente, mas os monstros que me criaram me assustavam ainda mais. Cresci sendo coagida, culpada, negligenciada, e amedrontada.

Posso notar o olhar de Emory para o nada quando diz.

— também tenho medo do Will só ser mais um reflexo do meu irmão.

Fico em silencio por um segundo antes de dizer.

— Em, eu conheço o Will e sei que ele não é nada parecido com o merda do Martin.

Eu seguro sua mão em um gesto que transmitia conforto e segurança.

Ela bufa uma risada.

– É sempre mais facil falar do que acreditar não é?

Respiro fundo.

– É mais fácil quando é a percepção de outra pessoa sobre determinada situação, porque ela não está sentindo esse turbilhão de emoções confusas ao mesmo tempo.

Sou muito grata pelos meninos terem me criado desde os meus 13 anos, e por terem me protegido e terem sido carinhosos e cuidadosos comigo, do jeito que meu irmão de sangue deveria ter sido. Mas eu nunca recebi o carinho de uma mãe... e ao longo desses 13 anos não recebi amor, o amor que não machuca. O máximo que eu lembro da minha infância de bom eram das vezes em que eu ganhava presentes.

Era uma casa cheia de brinquedos, mas ausente de abraços, de carinho, de palavras gentis. Enquanto minha mãe conseguia me controlar eu ainda era a favorita, mas quando comecei a me tornar um ser humano de verdade, deixei de ser a sua filha perfeita.

Nunca a filha perfeita, nunca o suficiente, nunca a favorita, nunca um monstro, nunca uma inútil, eu não era um nada!

Eu era uma menininha, que cresceu em meio ao caos de pessoas que não sabiam amar.

– Acho que nós duas ainda estamos aprendendo como amar e ser amadas.

Ela concorda com a cabeça, e eu deito minha cabeça em seu ombro.

— também não acho que o Damon esteja te usando Lilith, por pior que ele seja, por mais fodido que ele seja, ele pode ser um filho da puta

Eu dou uma risada.

— Mas nunca faria nada que te machucasse, e ele não te vê como um espelho. Ele se agarra a você porque você é como ele, você faz ele não se sentir sozinho.

Me permito chorar um pouco, era um dos meus jeitos de botar pra fora, só que a diferença é que agora eu não precisava mais me isolar para isso.

— se fossemos mais novos poderíamos até formar eu grupo, eu, você e Damon, ou então você poderia ser uma cavaleira também.

Nós duas começamos a rir, e só então noto que seus olhos também estavam marejados.

— para de acreditar no que essa sua cabeça maluca diz amiga, me ajuda a não chamar o caps.

— aí leva o Damon também, ele é mais louco do que eu.

Nós duas começamos a rir até acabarmos deitadas na grama com a companhia do lindo céu azul.

— mas o que te fez pensar que o Damon estaria te usando?

Apenas ouço sua voz questionar.

— você vai rir.

Digo com um sorriso, agora achando algo tão bobo e pequeno, que eu transformei em algo gigantesco.

— ele me chamou de bonequinha.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Depois do velório da Winter, ele me levou até em casa e...

Ela sorri maliciosamente.

— não aconteceu isso sua safada, mas foi quase.

— você sabe que ele tem todo esse jeito mandão, e eu sou Lilith porra! É óbvio que ele nunca vai conseguir parar o meu fogo.

Ela começa a rir me fazendo perceber o duplo sentido dessa frase. Nós ficamos rindo que nem duas fugitivas do caps e conversando a tarde toda, não voltamos para a aula depois da nossa longa conversa.

Era bom ter uma amiga. Era bom se sentir segura.

Era bom se sentir amada.

E não era mais tão assustador amar alguém que existe.

• Broken don't fit • (damon torrance fanfiction)Where stories live. Discover now