CAPÍTULO 1

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CAPÍTULO 1

O cenário descrito por seus olhos era tão vívido quanto a vida que Loren leva. O vento frio do inverno dança com as cortinas, enquanto as árvores balançam em resposta. Loren, uma mulher incansável, começa seu dia antes do sol nascer.

Ela boceja, ainda sonolenta, e se levanta da cama. A rotina matinal é um ritual: higiene, cabelos presos e a cozinha chamando. A bacia de milho, que estava de molho, é moída no moinho e passada pela peneira de aço. O bagaço do milho se transforma em angu para os cachorros, enquanto o restante é usado para fazer cuscuz, que será levado para o roçado e servido aos filhos enquanto ela trabalha arduamente.

Com o cesto nas mãos, ela coloca cuscuz com ovos e torresmo de porco. Tudo isso antes das sete da manhã, quando ela acompanha o marido para ajudar a colocar o pão na mesa e alimentar os filhos.

Essa é a rotina de Loren, de segunda a sábado. Ela luta ao lado de seu companheiro, mesmo quando grávida, sem nunca reclamar ou murmurar. Sua caminhada é árdua, mas ela segue em frente, sem questionar as circunstâncias.

A voz da mãe a chama:

— Mari querida, acorde!

— Mãe, deixe-me dormir mais um pouquinho!

— Oh, querida, você precisa levantar. Conhece seu pai. É melhor você se levantar agora. Precisa colaborar, meu amor. Este ano, temos esperança de dias melhores. Joaquim nos deu duas tarefas de terra arada para plantarmos feijão e milho para nosso sustento. Por isso, você vai cuidar dos seus irmãos enquanto estivermos trabalhando.

— Tudo bem, mãe. Eu cuido deles sim. 

Lorena seguia para o roçado, enquanto Mari, a filha mais velha, ficava responsável pela casa e pelos irmãos. Ela buscava água em uma pequena fonte para suprir as necessidades da família: beber, limpar a casa, dar de beber aos animais, molhar as plantações e lavar roupas.

Sem esquecer de preparar o café da manhã para seus irmãos, Mari chamou-os para brincar:

— Quem quer brincar? — disse Mari com um sorriso.

— Eu! — responderam os irmãos, entusiasmados.

— Hoje nossa brincadeira será debaixo dos cajueiros. Quem ficar bem quietinho ganha!

— Ganha o quê, Mari? — perguntaram, curiosos.

— Um pirulito, ué! — respondeu ela.

Essa era a estratégia que Mari usava todos os dias durante a safra de caju. Ela precisava manter os meninos seguros e não atrapalhar a colheita de castanhas, pois a venda delas era essencial para comprar roupas e brinquedos.

Mariane era de estatura baixa, com pele negra, cabelos cacheados e pretos, e olhos castanhos. Seu corpo era bem definido, com ombros e quadris largos e cintura fina. No entanto, ela também sofria maus-tratos do pai.

Toda vez que ele bebia, descontava sua fúria e frustrações em Mari e em sua esposa, Lorena. Isso acontecia nos finais de semana, quando ele recebia o pagamento do trabalho. Parte do dinheiro ia para as despesas da casa, mas o restante ele gastava no bar, onde perdia o controle e se tornava violento.

Rômulo, amigo de Mari, oferecia refúgio nas noites de bebedeira do pai. Ela corria para a casa de John para evitar ser espancada.

Ali, Mari ajudava a cuidar dos gêmeos de John e colaborava na cozinha com Lourdes, a esposa do homem. No entanto, Lourdes não fazia ideia de que Mari nutria um amor profundo por seu marido.

Antes, Mari e Lourdes eram inseparáveis, mas um segredo mudou tudo. Mari detinha informações que mantinham Lourdes sob seu controle.

Todo domingo, Mari se arrumava e encontrava sua melhor amiga, Brenda Manfred. Hoje era mais um desses encontros.

— Oi, Mari! Para onde vamos hoje? — perguntou Brenda.

— Vamos à praça para ver os gatinhos — respondeu Mari. — Depois, passaremos na pastelaria, esperando que algum idiota pague nossos pasteis. E, por último, faremos uma parada no bar para tomar uma cerveja.

— Mari, você está louca! Se te pegarem, você é menor — alertou Brenda.

— Ah, Brenda, ninguém vai me pegar. Até agora, nunca desconfiaram de nada. Além disso, a cerveja vem numa garrafa de refrigerante — explicou Mari.

— Eu sei, mas ainda acho que você será descoberta, e eu vou levar uma bronca por te apoiar nisso.

— Claro que não, amiga! Não seja covarde. Cadê o espírito aventureiro? — provocou Mari.

— Não é covardia, Mari. Nem falta de espírito aventureiro. Você sabe que te vejo como uma irmã, mesmo quando me tira do sério. Mas me preocupo com você — disse Brenda.

— Eu sei, Brenda. Também te vejo assim. Mas, vamos ser honestas, tem horas que você é chata com sua ética — brincou Mari. As duas gargalharam enquanto sentavam na praça, observando as pessoas passarem e compartilhando seus sonhos para o futuro.

Mari revelou que seu maior desejo era ter um canteiro com plantas diversas. No entanto, toda vez que ela plantava algo bonito, seu pai, quando bêbado, destruía tudo. Mesmo assim, Mari não desistiria de criar um lindo canteiro ou jardim.

Infelizmente, Mari nunca teve a chance de estudar. Seu pai a impedia, alegando que ela precisava cuidar dos irmãos menores e que a escola não colocava comida na mesa. Apesar disso, estudar continuava sendo seu grande sonho.

Ela via as outras mocinhas indo para a escola e sentia inveja. Imaginava como seria estar em uma sala de aula, imaginava diversas coisas, até às que dificilmente existia em uma e
scola, afinal, era algo inalcançável no momento, se um dia isso chegasse a acontecer, seria a maior conquista da sua vida. 

Nessa mesma tarde ela ouviu alguma mocinhas da sua idade conversando sobre a escola. Algumas contavam suas aventuras, teve até quem contasse como havia perdido a virgindade. 

Mari se sentiu envergonhada em dizer que ainda era virgem. Na verdade se sentiu acanhada por tudo, não achava a sua vida interessante. Ser uma simples garota da roça, não trazia interesse nenhum, então decidiu em seu coração que iria resolver essa situação o mais rápido possível.

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