capítulo 4

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CAPÍTULO 4

A situação continuava indefinida e, apesar das tentativas de Mari, estava longe de conseguir convencer as crianças a irem para o hospital. A ida até o hospital parecia algo distante.

— Não, Mari, nós não vamos para o hospital. Não gosto de injeção.

    — Eu também não, meninos. Então, fiquem longe, tá?

Eles concordam, e Mari sai correndo para a fonte pegar água, sempre observando se as crianças estavam seguras.

Essa era a maneira que ela encontrou para as crianças não saírem de casa enquanto ela saía para pegar água ou lenha. Dessa forma, elas se divertiam com as brincadeiras e não se machucavam, e ela conseguia fazer o seu trabalho sem colocar as crianças em perigo.

Para adiantar o seu lado, Mari carregava um balde grande cheio de água na cabeça e outro nas mãos para diminuir as viagens e economizar tempo.

Depois de encher tudo e permitir que os animais bebessem, ela colocou o almoço no fogo e, após dar o almoço para as crianças, arrumou-as e as levou para a escolinha primária. Quando voltou para casa, estava preocupada porque as horas já haviam passado e ela não tinha certeza se daria tempo de cumprir todas as suas obrigações da agenda que o seu pai havia ordenado. Se ela não fizesse tudo certo, o pai perdia a paciência com facilidade.

Ela correu para pegar lenha no mato e, ao retornar, já era hora de buscar as crianças. Assim que chegaram, ela correu para os cajueiros para juntar os cajus, mas não deu tempo de tirar as castanhas, o que se tornou motivo suficiente para o pai descarregar sua ira sobre ela.

Quando os pais de Mari chegaram em casa, o Sol já se escondia. Mesmo assim, Rômulo percebeu que a agenda de Mari não havia sido cumprida. Faltava tirar as castanhas do caju, e a fúria do homem acendeu contra a pobre Mari.

Ela recebeu um tapa forte no rosto, sentindo o gosto do sangue em sua boca, seus olhos encheram-se de lágrimas ao encarar seu agressor, que não se conteve e a arrastou pelos cabelos. Suplicante, ela murmurou:

— Por favor, pai... está doendo muito.

— Cale a boca, sua vadia preguiçosa! Por que não descastanhou os cajus? - perguntou Rômulo com voz ríspida.

— Não deu tempo, estou exausta, fiz tudo o que pude - respondeu ela, tremendo.

— Cale-se, sua preguiçosa desgraçada!

Intervindo, Lorena demonstrou seu desgosto: 

— Por favor, Rômulo, pare. Ela é apenas uma jovem. Não é justo exigir tanto dela, cuidar de duas crianças e da casa não é tarefa fácil.

— Você está do lado dela agora? Não me provoque! - Rômulo, enfurecido, desferiu um soco no estômago de Mari, fazendo-a tombar, sem ar.

Atualmente, Mari chora em silêncio, encolhida em posição fetal para amenizar a dor. Tenta se levantar, mas recebe um chute do homem e outra reprimenda:

— Se eu voltar amanhã e tudo não estiver feito conforme minha vontade, você vai se arrepender de ter nascido. Você é a mais velha, precisa ser exemplo para seus irmãos.

Silente, Mari se arrasta até seu quarto, seus pensamentos angustiados. Por que seu pai a odiava tanto? Seria por ela ter confrontado-o no passado, ou por tê-lo ameaçado para defender sua mãe? A situação atingira um ponto crítico, e nem mesmo sua mãe poderia mais protegê-la.

Ao perceber que Mari estava no quarto, Rômulo se aproximou e pegou a chave. Ela já sabia o que estava por vir e começou a gritar desesperadamente,

— Não, pai, por favor! Não me tranque! 

Ela correu até a porta, apenas para vê-la se fechar diante de seus olhos. Ali passou o restante da tarde e a noite presa no quarto, sem direito a jantar. O que a fazia não desistir da vida eram as lembranças dos momentos que passou nos braços de Jhonatan. O que Mari não sabia era que seu sofrimento estava apenas começando, uma nuvem negra a cercava e sua dor só aumentaria ainda mais.

Mesmo machucada, Mari encontrou-se com Jhonatan no dia seguinte. Os olhos do homem percorreram todo o corpo da jovem, observando seus hematomas, mas nada foi dito. Ele tinha muitos problemas para pensar na situação deplorável da garota.

— Oi, Mari, precisamos conversar. — Afirmou ele, observando os olhos inchados e vermelhos da garota.

— O que aconteceu? Você está com os olhos de quem chorou muito, — questionou ela.

"Sim, Mari, chorei. Lourdes foi diagnosticada com câncer e precisa da minha atenção e cuidados," respondeu Jhonatan. Mari sentiu uma pontada no coração ao ouvir e perguntou, temendo a resposta do homem.

Antes que ele respondesse, Mari se jogou em seus braços e foi abraçada imediatamente. Ele encostou o queixo em sua cabeça, fechou os olhos e disse, 

— Eu te amo, Mari. Mas minha esposa está doente e precisa de minha atenção e cuidados. Não posso te deixar, mas tenho que priorizar minha família.

Dizendo isso, ele se afastou, deixando os olhos de Mari cheios de lágrimas e seu coração angustiado.

De volta para casa, completamente desapontada, cheia de tristeza e dor, como se seu coração tivesse sido rasgado. Mesmo dividida, ela queria Jhonatan. Estava triste pela situação de Lourdes, mas não conseguia abrir mão do amor que sentia pelo marido. Era uma situação difícil para todos.

Mesmo que desejasse que Jhonatan demonstrasse que de alguma forma ela era especial, não parecia importante, já que ele nem notara seus ferimentos. Pensando nisso, passou o restante do dia chorando, mas não desistiria do amor que sentia. Em sua mente jovem, ela acreditava que podia esperar por ele o tempo que fosse necessário, pois tinha a certeza absoluta de que ele retornaria para seus braços.

Jhonatan estava perdido em seus pensamentos. Nunca havia imaginado trair a esposa e não conseguia entender seus sentimentos. Estava dividido entre dois amores e não sabia que rumo tomar para sua vida, sem compreender por que estava dividido entre as duas.

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