CAPÍTULO 38

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Descobrir um segredo jamais é a chave. Descobrir porque é um segredo é o que o leva a algum lugar.
(A Garota do Lago – Charlie Donlea)


NA MANHÃ DO DIA SEGUINTE, Martina acordou cedo com o alarme do celular e foi direto tomar um banho quente para relaxar. Teria um dia bastante desgastante pela frente. Tini vestiu roupas pretas e quentes com seus acessórios inseparáveis e foi até o refeitório tomar café. Havia alguns alunos no local, que ela deduziu serem bolsistas que também moravam no colégio e ainda não foram para casa para as comemorações de final de ano. Depois disso, voltou para o quarto, pegou uma pasta preta transparente onde estavam documentações, e foi até a secretária. Registrou sua matrícula no BSL, com a assinatura dos seus pais no documento, e estava saindo da sala, quando escutou alguém a chamar.

— Tini — A voz familiar a chamou e ela virou os calcanhares, ficando de frente com uma mulher. — Será que você tem um tempo para mim?

A voz veio de Cecília que, além de ser a avó materna dos seus amigos e grande amiga de Maria Elisabeth, era a diretora do Brazilian School of London. A aparência de Lia estava um pouco diferente do que Tini lembrava. Sua pele negra parecia sem cor, com rugas de expressão e olheiras grandes, seus cabelos pretos estavam em um corte curto sem qualquer cuidado e seus olhos castanho-escuros estavam sem o brilho de antes.

A senhora estava parada em frente a porta da diretória com ela aberta, deixando espaço para a garota entrar. Tini hesitou um pouco, mas respirou fundo e acenou com a cabeça, forçando um sorriso.

— Quando eu precisava de um tempo seu, onde você estava? — Tini perguntou, enquanto elas entravam na diretoria. — Quando eu estava enterrando uma das pessoas que eu mais amei na vida e que era sua melhor amiga, onde você estava? Quase três anos com todos esses sentimentos entalados na minha garganta sem poder descontar na pessoa que merecia porque ela havia fugido!

— Tini, eu não conseguiria te ajudar naquela época, por isso eu fui embora… — Lia admitiu. — Tinha acabado de perder um marido que queria me roubar e logo depois minha melhor amiga… não estava bem da cabeça.

— E por que você demorou tanto para me procurar?

— Porque eu não sabia como me reaproximar de você… — Lia respondeu. — Ainda não estou pronta para voltar ao Rio e, quando eu conseguir comprar o PI e fizemos essa ideia do intercâmbio, vi uma ótima chance para conseguir conversar com você pessoalmente.

— Eu sabia que você era a nova dona, quando soube que um dos seus filhos fazia parte do conselho… — Tini contou. — Ele tentou de todas as maneiras me afastar da sua família e me impedir de vir para cá.

— O Edu virou a cópia do pai e eu não sei mais o que fazer… — Lia desabafou.

— Fred também está indo pelo mesmo caminho… — Tini se sentou em uma das cadeiras em frente a mesa. — É um ciclo vicioso, mas nem você, nem a Bia, podem se culpar por isso! Eles escolheram seguir esse caminho por conta própria…

— Mães sempre vão se culpar por atitudes erradas dos filhos, é inevitável… — Lia afirmou. — Mas agora vamos falar de você? Como você está?

— Me recuperando aos poucos de todas as mentiras que me contaram e de todas as coisas que esconderam de mim — Tini respondeu. — Mas nada do que eu não consiga lidar.

— Sempre admirei a sua força para seguir em frente — Lia sorriu para ela. — Com certeza você herdou isso da Liz.

— Ela que me ensinou a ser assim — Tini disse. — Temos que enfrentar os problemas de frente e com a cabeça erguida. Podemos chorar, sim, sofrer o quanto tempo for necessário, mas nunca deixar que isso te derrube completamente.

3. DESTINOS ENTRELAÇADOS: MARTINA & ISABELAWhere stories live. Discover now