Capítulo 2

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Capítulo 2; Fá-lo rir

Senti o meu corpo ser abanado, suavemente. Gemi, não querendo ter que acordar, embora soubesse que estava na biblioteca e não em casa. Ouvi o meu nome ser sussurrado, o que me deu a entender que não era a monitora da biblioteca, então forcei a minha cabeça a levantar. Quando encarei olhos azuis brilhantes, suspirei, exasperado. Não sabia porque é que ela continuava perto de mim, pensei que as minhas maneiras pouco educadas lhe tinham dado a entender de que eu não seria, exatamente, boa companhia para ela. No entanto, ali estava ela. Lucinda.

Tentando tirar o sono da minha cara, permiti-me observá-la. Ela estava sentada ao meu lado, com um caderno e uns quantos livros à sua frente, assim como alguns lápis e canetas. Quando vi, ao longe, a monitora a olhar para a nossa mesa, percebi que ela me acordou para que eu não fosse disturbado por ela. Perguntei-me se tinha ressonado, ou feito algo, enquanto dormia, que pudesse ter perturbado o estudo das outras pessoas. Ao olhar à minha volta, vi toda a gente a continuar com a sua vida, o que me confirmou que não, eu não tinha estragado nada.

- Desculpa ter-te acordado. – Murmurou, envergonhada. Tentei não sorrir com o tom avermelhado que as suas bochechas ganharam; combinava com o seu cabelo. – Ela não parava de olhar para nós e eu estava a sentir-me demasiado desconfortável.

- Nós? – Vi-a agarrar a sua caneta preta com mais força, e a morder o seu lábio inferior com igual força.

- Sim. – Assentiu, freneticamente, a sua cabeça. Ela estava tão envergonhada e eu sabia que, em parte, devia-se ao facto de eu ter sido rude com ela, mas não consegui evitar achar toda a situação divertida. – Quando entrei, ela estava prestes a acordar-te e eu tinha esta sensação de que tu precisavas de dormir, então vim para aqui. Garanti-lhe que estavas só à minha espera.

- Obrigado. – Sussurrei, e tentei concertar os meus cabelos pretos, embora soubesse que era escusado.

Olhei para o meu relógio e percebi que tinha dormido pouco mais de meia hora mas, com ela ao meu lado, sentia como se isso fosse mais do que suficiente. Sentia-me desperto. Nunca me foi preciso muito para eu conseguir agir como um humano, mas a escola estava, cada vez, a pedir mais de nós. As aulas ocupavam o meu tempo todo; era o único pró de não ter amigos, todo o tempo que eu tinha era dedicado à escola e a tentar adormecer. Embora eu tomasse uns antidepressivos quaisquer, o sono não aparecia. Nos primeiros meses, recorria à minha mãe, depois comecei a sentir-me demasiado dependente dela e do seu chá a ferver, e comecei a fingir estar bem – para que ela se sentisse bem.

- Deve ser um pouco estranho para ti, eu estar a falar contigo. Não te vejo com muita gente...

- Queres dizer que não me vês com ninguém. Podes dizê-lo, Lucinda, não é como se fosse um segredo. – Revirei os olhos e, daquela vez, reparei que ela não pareceu tão afetada com a minha atitude. – Sabes, és muito, muito gira. – Pisquei-lhe o olho, e observei a forma como ela corou.

- Oh. – Tive que rir. Quando o som se soltou da minha garganta, percebi que ela paralisou, ao meu lado, como se fosse uma surpresa. Por segundos, pensei que ela estivesse a sentir-se envergonhada e quase parei de rir, mas ela relaxou, pouco depois.

Se eu fosse ela, estaria a arrepender-me de ter sido tão simpática para mim, para depois ser tratada como eu a tratava. Em minha defesa, eu tratava assim toda a gente – a diferença: o resto das pessoas não tentavam falar comigo. No entanto, ela não pareceu afastar-se de mim. Por momentos, vi-a a observar toda a minha face, até parar nos meus lábios. Não durou dois segundos, o seu olhar – ao contrário da vontade que eu tive de a beijar. Forcei-me a parar de rir, de vez, e encarei os seus olhos azuis. Queria perguntar-lhe porque é que ela insistiu duas vezes em falar comigo, porque é que continuava ali sentada, ao meu lado, mas não queria que ela fosse embora. Apesar de tudo, eu não queria isso.

Não queria que ela fosse embora. Ela fora a primeira, em muito tempo, que não me olhava como se eu fosse um drogado ou um daqueles rapazes que toda a gente sabe que está arruinado, para o resto da vida. A Lucinda tinha sido a primeira a olhar para mim e preocupar-se e, honestamente, eu não sabia lidar com isso. Não sabia. Então, quando ela se virou e voltou a escrever no seu caderno, eu respirei fundo e tentei imitá-la. Tentei aproveitar o tempo que tinha para adiantar nos trabalhos de Geografia, mas não conseguia parar de pensar na proximidade entre os dois.

Perguntei-me onde as suas amigas estariam, porque é que nós estávamos sozinhos, no fundo da biblioteca.

A minha mente estava muito mais leve que há duas horas, quando fora forçado a levantar-me, mas continuava com uma necessidade excruciante de dormir. Embora a Lucinda me estivesse a manter desperto e com vontade de conseguir aguentar o resto do dia, queria experimentar tomar todos os comprimidos da pequena caixa, para ver se dormia durante o resto do mês – ou do ano, se resultasse mesmo bem. Os meus olhos queriam fechar e eu mal conseguia focar as letras que estavam à minha frente. Vinte minutos depois, quando a Lucinda começou a arrumar as suas coisas, tinha apenas dois exercícios feitos. Suspirei.

- Precisas de ajuda? – Questionou, numa voz suave.

- Para quê? – Vi-a fechar os olhos e a suspirar, de frustração. Fiz o mesmo. As emoções contraditórias faziam a minha cabeça rodar – ou talvez fosse ela, não sabia bem.

- Tu és tão frustrante! – Soltou, e eu tive que conter a vontade de rir.

- Não precisas de me ajudar, Lucinda. – Ela revirou os olhos. O seu azul parecia repleto de raiva; sorri, desleixadamente, para isso.

- Mas eu quero, Jasper.

Ouvi-la dizer o meu nome melhorou um pouco a situação, e eu senti-me culpado por não a deixar ficar perto de mim, mas não queria. Apesar de não querer que ela fosse, eu não precisava de ficar dependente dela, (como tinha ficado da minha mãe). Não precisava de outra pessoa a preocupar-se comigo e a perguntar-me, constantemente, se eu tinha dormido. A resposta era sempre a mesma, e a questão nunca mudava. Tudo era igual; todas as noites, todas as horas. Passava os meus dias a vaguear com duas ou três horas de sono e, quando chegava a casa, era como se tivesse acabado de levar um choque de eletricidade.

- Eu sei que não estás bem; não sei porquê, mas quero ajudar. Também não sei como, mas podias ajudar-me nisto. Estou a tentar ser tua amiga! – Antes que eu conseguisse responder-lhe, ela levantou a sua mão. – Não me digas que não queres ou precisas de amigos, Jasper, porque toda a gente precisa. Humanos só conseguem agir como humanos, quando estão rodeados de outras pessoas.

- Estás a tentar dizer que não sou humano? – Intervim, voltando a rir. Ela suspirou, mas acabou por me acompanhar.

- Diz-me tu. – Agarrou na sua mala castanha e deu-me um último sorriso, antes de se afastar da mesa onde estávamos sentados.

Suspirei, mas acabei por voltar a rir. Ela era boa demais para mim mas, se ela não conseguia ver isso, eu não iria gastar as minhas forças a dizer-lho. Claro, seria egoísta de mim mas, sinceramente, quando é que eu não era egoísta? Abanei a minha cabeça, forçando-me a parar de rir, e imitei-a; levantei-me, compus a minha cadeira e saí da biblioteca. Revirei os olhos para a monitora, que me seguia com o olhar, e controlei-me ao máximo para não bater com a porta da grande sala. Continuava a precisar daquele sítio para quando não me aguentava em pé, não poderia estragar tudo.

méquié amiguinhas

eu não sei se já perceberam mais ou menos como é que a história vai funcionar maaaas o título (em negrito, aquele que eu ponho no início) diz mais ou menos o que vai "acontecer" nos capítulos

são tipo os passos que "são precisos" para amar um insone, perceberam?

tipo não são precisos para todos né, não vou generalizar, mas para este insone são

porque é o jasper-montinho-de-merda-que-eu-adoro está bem

MAS TIPO, "fá-lo sorrir", ele sorriu-lhe; "fá-lo rir" ele riu por sua causa

got it?

espero que tenham gostado <3

Como Amar um InsoneWhere stories live. Discover now