Capítulo 5

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Capítulo 5; Fá-lo chamar

Era hora de almoço quando eu senti que estava a chegar o meu fim. Como todos os outros alunos, fui para a cantina da escola – embora odiasse aquela comida -, mas a diferença entre nós é que eu preferia estar sozinho. Quase que obriguei a Lucinda a deixar-me sozinho e juntar-se às suas amigas mas, assim que ela se afastou, senti-me um pouco vazio. Não ia, no entanto, pedir-lhe que voltasse – ela tinha que estar com as suas amigas, era com quem ela estava destinada a estar, por muito que eu não gostasse dela. Não era suposto ela ser tão simpática comigo, eu só a iria magoar.

A minha cabeça estava a matar-me, no momento em que já estava sentado e com o tabuleiro à minha frente. Estava numa das mesas mais escondidas, no fundo da cantina, para que ninguém conseguisse ver a vontade que tinha de chorar. O cansaço estava a consumir todo o meu ser e eu sabia que não aguentaria muito mais que trinta horas sem dormir. Nunca tinha passado das vinte e cinco – e isso fora durante as férias -, durante a escola era impossível eu aguentar muito tempo sem dormir.

Estava frustrado. A ordem natural dos humanos era acordar, trabalhar e dormir, não era estar sempre acordado e, mesmo assim, ter que trabalhar. Era um ciclo que, infelizmente, não parava – mesmo que implicasse a saúde da pessoa. Voltei a agarrar os meus cabelos mas, daquela vez, puxei com bem mais força que o normal. Quando abri os olhos, depois de a dor aguda passar, vi alguns fios pretos na mesa suja da cantina; grunhi, baixinho. Espetei as minhas unhas nas minhas mãos, tentando sentir alguma dor que me despertasse, mas nada aconteceu. Peguei no meu café e engoli tudo o que o copo continha – era pouco, para o que eu precisava.

Já ia no meu terceiro ou quarto café, e nada parecia estar a resultar. O café parecia estar apenas a contribuir para a sensibilidade da minha cabeça. Percebi, ali, que não deveria ter ido à escola. Apareci quase bêbado, sem nenhuma hora de sono – aparentemente, estava pronto para morrer. Tentei comer alguma comida, procurando alguma atividade que me mantivesse desperto. Apesar de estar com fome, o cansaço superava tudo; o meu estômago protestava, mas a minha cabeça estava pesada e eu estava prestes a deixá-la cair contra a mesa.

Minutos depois, desisti. Olhei em redor da cantina e consegui focar a minha visão, o suficiente para diferenciar os cabelos vermelhos do resto das pessoas que estavam dentro da enorme divisão. Respirei fundo, ponderando todas as opções que tinha – não eram muitas. Tentava arranjar um plano, enquanto caminhava para a mesa onde ela estava sentada. O primeiro olhar que ela me desse diria tudo: se ela estivesse surpreendida mas, depois, relaxasse, agarraria na sua mão e levá-la-ia comigo; se ela se mostrasse envergonhada, tentaria afastar-me dela, para sempre.

Algo em mim me dizia que era impossível que a segunda acontecesse e, apesar de isso me fornecer um pequeno calor dentro de mim, não era o suficiente. No entanto, eu não esperava que, quando eu me aproximasse da sua mesa, ela se virasse para trás – como se tivesse um sensor – e saltasse do banco onde estava sentada. Não esperava que, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela já estivesse a pegar na sua mala e a puxar-me para fora da cantina. Honestamente, não esperava nada daquilo, mas foi isso que aconteceu. Ela puxou-me para fora da cantina e o meu corpo meio morto obedeceu-lhe, gastando todas as restantes forças na rapariga pequenina com cabelos vermelhos.

- Jasper, o que se passa? – Perguntou-me, com oceanos azuis cheios de preocupação.

- Eu-eu preciso... - Abanei a cabeça, sentindo-me doido por ter recorrido a ela. Ela não iria conseguir resolver nada! – Eu preciso de dormir, Lucinda. – Apanhei-me a sussurrar.

Vi-a assentir e, antes que eu a pudesse impedir, agarrou na minha mochila e na minha mão. A sua mão era pequenina e quente, comparada com a minha; apreciei o contraste da sua pele naturalmente morena com a minha demasiado pálida. Não sabia para onde ela me levava mas, quando subimos até ao último andar da escola, calculei que estivéssemos a dirigir-nos para uma das salas de convívio. Também não sabia porque é que estávamos a ir para lá – não era como se ela me fosse obrigar a dormir numa daquelas salas repletas de pessoas. Mas, não me preocupei em reclamar, todas as forças que tinha estavam a ser usadas para a seguir. Se se provasse inútil, era provável que ali ficasse, até alguém me dar um café para me dar mais cinco minutos de energia.

Entrámos na mais antiga das salas de convívio, e fiquei surpreso ao descobrir que estava vazia. Ela olhou para mim, com um sorriso tímido e, depois de eu entrar, trancou a porta atrás de si. Se ela não fosse tão adorável, eu teria tido medo dela. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, deixei-me cair no maior dos sofás de cabedal da sala. Vi-a andar à volta da sala e, quando voltou, trazia uma manta cinzenta – parecia velha. Ela ajoelhou-se à minha frente e colocou a manta em cima de mim. Levantei um pouco a cabeça e tentei, de alguma forma, indicar-lhe para ela se sentar; não a iria deixar estar no chão. Ela, felizmente, entendeu-me e sentou-se, deixando-me deitar a minha cabeça nas suas pernas.

- Obrigado, Lucinda. – Agradeci; a minha voz quebrou um pouco, tanto pelo cansaço como pela necessidade de libertar as minhas emoções.

- Tens pouco menos de uma hora, mas espero que seja suficiente, por agora. Podes sempre vir aqui, no teu bloco livre, depois. – Afirmou e eu limitei-me a assentir.

Aconcheguei-me à manta e ao seu corpo e proibi-me de sorrir, quando senti as suas mãos passarem pela minha testa, a tirarem os cabelos da mesma. O cansaço era tão forte que eu sabia não haver muito tempo até a inconsciência me atacar, só temia que, à noite, se vingasse de mim, como sempre fazia. Não tive forças para dizer à Lucinda para parar porque, para ser sincero, aquilo estava a ajudar-me a relaxar. Todos os truques que a minha mãe tinha inventado pareciam-me nada, comparado ao toque dos seus dedos suaves na minha pele e nos meus cabelos.

Senti lábios na minha têmpora, quando me virei para o outro lado, e mordi o lábio para não sorrir. Os seus lábios eram suaves e eu sabia que ela pensava que eu estava a dormir – era demasiado tímida para fazê-lo enquanto eu estava acordado, apesar do que ela fez naquele dia de manhã. Sentia-me a partir para outro mundo a velocidades extraordinárias, que já não conhecia desde que era criança. Respirei fundo, deixando, finalmente, o meu corpo relaxar. Senti que o dela fez o mesmo, depois de minutos à espera que eu fizesse algum movimento brusco, ou que ameaçasse fugir. Eu estava à espera que ela fizesse isso – fugir de mim -, mas não o fez. Ainda bem que não o fez.

- Jasper... - Ouvi um sussurro leve, e forcei-me a abrir os olhos, um de cada vez. – Jasper, tens que acordar.

- Quando tempo dormi?

- Uns cinquenta minutos. – Sorriu-me. – Sentes-te melhor?

- Um pouco. – Admiti. A verdade é que me sentia muito melhor, mas uma hora não era suficiente, nunca seria.

- Há quanto tempo não dormias?

- Desde ontem de manhã? – Afirmei, mais em forma de pergunta, e percebi que ela ficou chocada. – Durante esta noite...acho que dormi durante um pouco, mas não tenho a certeza.

Ela assentiu, como que a dizer-me que eu não precisava de lhe dizer mais nada. Acabei por ser eu a dar a iniciativa de me levantar primeiro. Não queria, mas tinha que ser. Estava, definitivamente, a ficar demasiado apegado a ela e eu não queria que isso acontecesse. No entanto, não pretendia voltar a ser rude com ela – bem, no que dependesse de mim. Ela tinha perdido uma hora livre de aulas, onde poderia ter estado com os seus amigos e com as pessoas de quem ela gosta, de verdade, mas preferiu passá-la a, provavelmente, ver-me dormir. Suspirei com o pensamento. Eu sabia que ela era demasiado boa para mim.

A Lucinda acabou por ficar à minha frente, mais uma vez, mas já não me estava a puxar. Caminhávamos lado a lado, com uma tensão estranha sobre nós. Ou, provavelmente, era só eu que sentia essa tensão. Sentia-me demasiado exposto. Eu tinha dormido nas suas pernas; era algo tão íntimo, não sabia o que pensar. Conseguia sentir a minha mente a soltar uma espécie de alarme vermelho, mas não liguei – afinal era o mesmo cérebro que me mantinha acordado, durante a noite, quando eu mais precisava de dormir.

beeem, espero que tenham gostado!

eu consigo perceber que vocês estão a gostar muitomuito do Jasper, mas esta história é meio que uma lição, i guess? tipo, vocês gostam do Jasper porque estou na sua mente e conseguem ver os seus pensamentos; se vocês fossem a Lucinda, provavelmente iriam ficar constantemente frustradas com ele, porque seria isso que a Lucinda ia pensar

o Jasper pensa muito, vive muito para si mesmo, mas, por fora? ele só diz uma palavra de vez em quando e está sempre a ser sarcástico e a fugir das coisas (vocês depois percebem)

anyway, obrigada a toda a gente que lê isto <333


Como Amar um InsoneWhere stories live. Discover now