Capítulo 10

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Capítulo 10; Fá-lo esconder

Naquela noite, não dormi absolutamente nada. Quando a minha mãe apareceu no meu quarto, às sete em ponto, obrigou-me a ficar na cama durante todo o dia. Proibiu-me de estudar e mimou-me de todas as maneiras que se lembrou. Ela dizia que um coração partido - eu não sabia onde ela ia buscar essas coisas - merece o melhor tipo de tratamento. Algo dentro de mim me dizia que, naquela noite, não tinham sido as insónias a manter-me acordado, mas o arrependimento de ter sido um estúpido para a Lucinda. Adormecera com o telemóvel ao meu lado, quase a ligar-lhe, para pedir ajuda, mas não cedi. Ela era teimosa, mas eu era mais.

A minha teimosa seria, certamente, a minha ruína, mas eu não queria saber. Estava a viver de chocolate e café; a minha mãe concordava com a Lucinda, mas não me negava um café. Naquele domingo, bebera apenas três, no total. Obrigou-me a ver maus filmes e comédias românticas, como se eu fosse uma rapariga, mas não me importei. Ela era minha mãe e, se ela se sentia bem em fazer tudo aquilo por mim, eu não iria recusar. Afastar pessoas acabara em mim repleto de raiva, pronto para partir o meu telemóvel como se o pequeno dispositivo tivesse culpa de eu não ter coragem para pedir desculpas à rapariga.

- Liguei ao teu médico e ele disse que hoje podias tomar três comprimidos, apenas porque amanhã terás um teste e é bom que descanses. É apenas desta vez, para experimentar, sim? - Assenti e estiquei a mão, para ela me dar os comprimidos.

Entregou-me o meu chá a ferver e eu tomei tudo, levando a chávena para o meu quarto. A minha mãe beijou a minha testa, antes de eu sair da divisão, e desejou-me uma boa noite. Suspirei e desejei-lhe o mesmo, esperando que ela não ficasse acordada, apenas para saber se eu tinha ficado acordado. Fi-la prometer que não o faria e, depois de uma discussão de dez minutos, ela tinha desistido e entregado os comprimidos, relutantemente. Quando entrei no quarto, a primeira coisa que fiz foi acabar de beber o chá e deitar-me na cama. Apesar de estar a chover bastante na rua, eu continuava a derreter com o calor que estava no meu quarto. Suspirei.

Durante os fins de semana, eu nunca falava muito com a Lucinda. Ela ligava-me ou mandava-me algumas mensagens, tomando, como sempre, a primeira iniciativa; não passava disso. Mas, embora não gostasse de o admitir - nem para mim mesmo -, estava (um pouco) com saudades dela. Maioritariamente porque sabia que amanhã o dia começaria com uma aula que teríamos juntos, e onde teríamos teste, e ela já não iria falar comigo, como tinha feito nas últimas três semanas. Respirei fundo, a raiva que sentia já tinha passado e agora sentia-me demasiado vazio, sem a nuvem que a Lucinda trazia sobre mim.

Eram quatro da manhã quando eu bocejei, pela primeira vez, e tirei logo os fones do meu ouvido e tentei adormecer. Teria três horas de sono, não era assim tão mau. Felizmente, quando a minha mãe apareceu no quarto, ela teve que me acordar - o que, obviamente, significava que eu tinha adormecido algures depois da última vez que olhara para o relógio. Vesti-me tão rápido quanto conseguia e, quando cheguei à cozinha, uma chávena de chá e duas torradas esperavam por mim. Estranhei não ter o meu café habitual, mas não me queixei; estava, finalmente, a sentir a pressão de ir ter um teste de Geografia. Aquela maldita aula lembrava-me da primeira vez que a Lucinda falara comigo e era, por coincidência, a primeira aula em que ela não iria falar comigo, depois de nos termos tornado próximos.

Conduzi até à escola a mascar umas três pastilhas de mentol ao mesmo tempo - precisava de acordar e não queria recorrer ao café. Assim que estacionei, apressei-me para a sala onde iria ter aulas, como fazia antes da Lucinda. Não me preocupei em ver onde, ou como, ela estava; tinha que me focar no teste e ter boa nota naquela porcaria. O professor entrou uns dez minutos depois de eu me sentar e, com ele, os últimos alunos que encheram as cadeiras. Vi, de longe, a Lucinda e os seus cabelos vermelhos brilhantes, suspirei. Passei todo o teste a alternar o meu olhar entre o teste e ela. Estava, no mínimo, perdido.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora