Capítulo 4

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Capítulo 4; Fá-lo hesitar

Quando a minha mãe entrou no meu quarto e reparou nas cinco garrafas de cerveja que pareciam decorar a cama, suspirou audivelmente. Ela achava que ficar bêbado ajudava-me a adormecer – e, por uma hora, ajudou – mas essa hora fora tudo o que eu tinha conseguido de minimamente parecido com descanso. E, mesmo assim, achava que tinha sido ilusão minha. Sentia os meus olhos a arder e lembrava-me de ver todas as horas a passarem, lentamente. Vi cada cinquenta e nove a passar para dois zeros, até chegarem as sete horas – a hora a que a minha mãe chegou.

- Jasper... Não podes ir bêbado para a escola.

- Não posso faltar, não é? – Revirei os olhos, sentindo-me demasiado rude que o normal.

- Coloquei-te num péssimo hábito. A culpa é toda minha.

- N-não. Mãe, a culpa não é tua; tu só querias que eu dormisse, eu também só quero dormir. A culpa não é tua.

Vi os seus olhos suavizarem e, apesar de saber que ela não tinha acreditado – não totalmente – em mim, tentou esquecer um pouco tudo aquilo. Ajudou-me a levantar e obrigou-me a tomar banho, depois de verificar que o conseguia fazer sozinho. Cinco cervejas não eram nada mas, naquela altura, achava que já não dormir há quase vinte e quatro horas estava, se é que isso era possível, a aguçar a embriaguez.

Tomei o tal banho que a minha mãe me mandara tomar e escolhi as roupas mais fáceis de vestir que consegui. Ao calçar-me, tropecei em mim mesmo umas quantas vezes, mas não me deixei cair. Cair significaria bater com a cabeça, e eu sentia que alguém estava a bater lá – não precisava de o tornar real. Ao descer as escadas, com a minha mochila preta no ombro, apreciei o aroma do que quer que a minha mãe estava a cozinhar. Sorri - sentindo-me um estranho no meu próprio corpo, por o estar a fazer – e sentei-me num dos bancos. As panquecas com banana e iogurte, (as minhas preferidas), acompanhadas por um café preto, pareceram-me a melhor maneira de começar – ou continuar – o meu dia.

Antes de ir embora, a minha mãe ordenou que eu comprasse outro café antes de chegar à escola, e assim o fiz. Teria que fazer o meu máximo para me manter acordado, não me podia dar ao luxo de adormecer, mais uma vez, numa aula. Ao chegar à escola, com um copo quente de café na mão e fones no ouvido, não me podia sentir mais claustrofóbico. Sentia-me como se toda a gente estivesse a olhar para mim, apesar de saber que ninguém dava pela minha presença. Bebi, lentamente, o meu café, numa experiência pessoal sobre quão rápido ouvir Black Sabath me iria deixar desperto. Naquele momento, não sabia dizer se a experiência estava, ou não, a ter resultados positivos.

Quando acabei o meu café, coloquei uma pastilha de mentol dentro da minha boca e caminhei, calmamente, até à sala onde teria a minha primeira aula. Ao longe, vi cabelos vermelhos esvoaçantes a caminharem pelo corredor; tentei não olhar demasiado, mas acabei a focar-me na sua falta de confiança – em comparação às suas amigas, pelo menos – ao caminhar. Mordi o lábio, abanando a minha cabeça, e vi-a entrar na sala mesmo à frente da minha. Coloquei o copo que havia comprado num caixote do lixo e senti alguém agarrar a minha mão. Virei-me e tentei, ao máximo, ocultar a minha surpresa ao ver a pequena figura da Lucinda à minha frente.

- Bom dia. – Murmurou, aproximando-se de mim para depositar um beijo na minha bochecha.

Antes que eu dissesse alguma coisa, ela murmurou – ainda mais baixo – algo sobre café e mentol, para si mesma, e eu contive a vontade de sorrir. Observei-a a atravessar o corredor e entrar na sua sala, tal como eu. Segundos depois de eu me sentar na cadeira mais ao fundo da sala, o professor entrou e eu respirei fundo. Embora já não dormisse há mais de vinte horas – aqueles minutos entre as quatro e a cinco estavam um pouco embaciados, não sabia se era devido à cerveja, se às insónias -, tinha que me manter desperto, para o bem da minha vida académica. Então, forcei-me a ficar acordado e, até, a tirar notas, para ter algo para fazer. Limitar-me a ouvir não era suficiente porque, certamente, iria acabar por adormecer.

Como Amar um InsoneOnde histórias criam vida. Descubra agora