Cap.3

10.9K 858 27
                                    

Essa semana sem a Amy foi tediosa e consequentemente muito chata. Não vejo sua presença como uma questão de dependência, mas quem tira a monotonia dos meus dias é a criatura mais irritante, hiperativa e doida que eu tenho orgulho de chamar de melhor amiga. A baixinha tem o dom de deixar o dia mais animado e divertido sem o menor esforço, é quase como um talento natural. Obviamente que eu nunca diria isso na frente dela! Do jeito que ela é convencida, vai se gabar até não poder mais.

Logo hoje é um típico domingo em que não planejamos nada e para piorar a apresentação da baixinha que seria esse sábado foi adiada. Pelo que entendi, houveram problemas na organização do teatro e diversos problemas na iluminação dificultariam as apresentações do espetáculo atrapalhando os bailarinos, sem falar que a direção da escola não havia pago pela locação de um teatro desorganizado. O que os responsáveis dos alunos iriam pensar?

Normalmente eu dormiria até tarde como sempre, acordaria meio dia, tomaria meu café da manhã/almoço, ficaria assistindo desenho na televisão e lá ficaria, quase que me unindo ao sofá, ele sim me dá valor. E tudo isso junto a baixinha... Iriamos brigar pelo controle remoto, comer besteira e dar uma volta na pracinha. Mas para a minha infelicidade, o meu vizinho resolveu fazer um churrasco com a família dele inteira, me acordando as oito da manhã! Criança gritando, música altíssima e conversas aleatórias que eles pareciam ter vontade de contar para a vizinhança inteira de tão alto que falavam. Juro que eles fazem mais barulho que as crianças fugindo dos monstros na noite de halloween, que nada mais eram do que os guris mais velhos fantasiados ou quando Lucas nos levava para as casas assombradas do bairro de cima e Aline, Liza e Amy se assustavam com qualquer barulho.

Eu adoro os meus vizinhos, mas pensa numa família grande. Eu não estou exagerando! A família que havia se mudado para o lado da minha casa eram conhecidos dos tios da Amy, se mudaram para cá a alguns anos e trouxeram alguns costumes do país de origem. O Brasil. Lembro que quando eles mudaram, a baixinha e eu fomos convidados para um almoço junto de nossos pais e os tios dela. O senhor e a senhora Ferreira vieram da Bahia e tinham vontade de conhecer o exterior, viajavam pelo mundo desde os 22 anos e agora estando na casa dos 50 resolveram se acomodar por aqui. Nos apresentaram comidas típicas, músicas de diversos gêneros e filmes de comédia. Foram três anos aprendendo sobre a cultura brasileira enquanto ambos nos tratavam como seus netos, os dois eram tranquilos e muito educados, nos ensinavam um pouco da sua língua enquanto treinavam o inglês com a gente. Amy tinha uma facilidade maior por ter essa nacionalidade na família, já no meu caso, a língua enrolava e a sonoridade me era estranha. Em resumo, os vizinhos perfeitos, mas sempre tem um problema e esse se chamava festa em família. Todo ano convidavam boa parte dos parentes para se reencontrarem e contarem as novidades, alguns moram por aqui e outros viajam do Brasil para cá, formando essa enorme bagunça no quintal enquanto comem.

Como eu tinha ido dormir tarde ontem, absolutamente tudo está me irritando hoje e ser acordado com forró no último volume não foi nada agradável. De todos os gêneros que conheci, esse me incomodava por alguma razão e tudo o que eu mais queria nesse momento era arremessar fones de ouvido pela janela para eles usarem. Quero o meu silêncio de volta, quero dormir!

Bom, como eu fui obrigado a acordar e não tinha nada de bom em casa, resolvi andar de skate para passar o tempo. Coloquei uma bermuda jeans, um tênis preto e fiquei sem camisa por causa do calor, deixei meu cabelo do jeito que estava e fiz minha higiene pessoal. Quando desci as escadas encontrei minha mãe tendo o dia de beleza dela: o rosto tinha algum tipo de hidratante, as unhas estavam pintadas e os pés estavam mergulhados em uma água com ervas. Lhe dei bom dia e avisei que estava saindo.

Eu normalmente ando de skate para todos os lugares, era uma mobilidade mais rápida do que pegar ônibus e como ainda não consegui a minha carta de motorista, este era o melhor jeito de andar pelo bairro. Pensando para onde poderia ir, resolvi que a praça seria o meu destino, poderia aproveitar a rampa de skate que haviam inaugurado a pouco tempo.

Do ringue aos palcos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora