Cap.12

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Quando ela falou isso eu entrei em choque, minha mãe passou por mim e a abraçou e para piorar a baixinha começou a chorar mais, como se com cada abraço mais litros e litros de lágrima descessem sem interrupção.

Minha mãe a consolou por um tempo e depois foi a casa da baixinha para conversar com a mãe dela e saber de tudo direitinho. Levei a baixinha para o meu quarto e ela se sentou na minha cama encarando as próprias mãos. Tentei falar com ela, mas eu não sabia o que dizer, e se eu falar algo que não devo e ela chore de novo?

-Baxinha, eu sei que não vai adiantar em muita coisa mas...- comecei me sentando de frente para ela-... Seu pai vai ficar bem, vai ser difícil mas ele precisa começar o tratamento logo, ele vai melhorar, tenho certeza!- falei acariciando seu cabelo, ela me olhou, deu uma fungada e deitou a cabeça no meu colo.

-Eu não quero perder o meu pai, Chris- ela me respondeu e eu pude ver uma fina e solitária lágrima descendo pelo seu rosto- Eu não posso perde-lo.

-Não vai- respondi, quase estava chorando junto, os pais da baixinha eram quase minha segunda família e ver a baixinha chorando me encomoda muito_ Como a tia está?

-Minha mãe já sabia, os dois sabiam e não quiseram me contar- me respondeu se levantando e me olhando nos olhos- Aquele dia que eu fui mais cedo pra escola, eu havia encontrado um exame que tinha o nome do meu pai, não sabia o que significava, mas eu fiquei preocupada e depois achei ser apenas uma consulta diária, mas hoje eu percebi que não era- ela completou olhando para baixo, ela parecia um pouco irritada, provavelmente porque esconderam algo tão importante.

-Você comeu alguma coisa?- perguntei e ela negou com a cabeça- Vem, o café tá na mesa ainda- peguei em sua mão e a conduzi até a cozinha.

Depois que ela comeu um pouco fomos para a sala, ela resolveu ligar a televisão e colocou em um canal que passava desenho. A baixinha tinha esse costume, quando ficava muito triste com alguma coisa, sentava na sala e assistia desenho até não poder mais, ela diz ser um tipo de terapia, se isso a faz melhorar, quem sou eu para dizer não.

Vi que ela começou a melhorar quando seu sorriso resolveu aparecer em seu rosto, e minhas suspeitas só foram confirmadas quando essa baixinha folgada deitou no sofá, quase que me jogando no chão.

-Folgada nem um pouco- falei ironicamente e ela riu, isso aumentou o meu sorriso.

-Quero brigadeiro, faz pra mim- ela me olhou fazendo bico, suspirei e me levantei do sofá- Brigado loira, você sabe que eu te amo- disse e deu uma risada, eu sei que os "eu te amo" da baixinha são apenas afeto de amizade, mas isso as vezes mexe comigo, eu tenho que aprender a separar essas coisas.

-Ama nada, você me faz de escravo- falei fingindo irritação e depois ri.

- Como você pode pensar isso de mim, loiro- ela respondeu fingindo indignação, veio até mim me deu um beijo na bochecha e depois as apertou, fiz uma cara de dor e ela soltou minhas bochechas dando risada. Sua expressão ficou séria mas ela ainda tinha um sorriso- Obrigada loiro, fico feliz de você ser meu melhor amigo, nem se atreva a me abandonar- disse inflando as bochechas e cruzando os braços, beijei sua cabeça, mesmo querendo beijar outro lugar um pouco mais embaixo que insistia em formar um bico muito fofo.

-Eu sei que você não vive sem mim- respondi convencido e ela riu revirando os olhos. A baixinha voltou para sala e eu fui fazer o brigadero, quando terminei me sentei no sofá com ela e comecei a assistir meu desenho favorito. Bob esponja. Depois de um tempo me veio um assunto não acabado em minha cabeça- Baxinha, sabe o que eu percebi?

-O que?- perguntou me olhando enquanto colocava uma colher de brigadero na boca.

-Que você não me devolveu o que pegou do meu armário- falei cruzando os braços, ela riu e voltou a olhar para a televisão- Baxinha!

-Você sabe o que eu peguei do seu armário?- perguntou erguendo as sobrancelhas, neguei com a cabeça e ela revirou os olhos- Sua câmera fotográfica Antiga- ela disse voltando a comer, arregalei um pouco os olhos e a olhei incrédulo.

-Eu nem lembrava mais dessa câmera- respondi sincero, ela falou algo como "eu sei", só que com a boca cheia- Onde está? E por que pegou?

-Na minha casa, porque eu queria tirar fotos e a sua câmera imprimi a foto na hora, e como você não estava mais usando, peguei pra mim- respondeu colocando a panela terminada no chão e se deitando com a cabeça apoiada no meu colo.

-Folgada- repeti o elogio.

- Eu sei seu loiro gordo- eu sei que a baixinha ainda está triste pelo pai, mas quem não ficaria? Mas ela tem um gênio forte, sei que ela vai melhorar seu humor em alguns dias.

A vi fechando os olhos e depois de alguns minutos suspirar, mostrando que ela havia dormido. Liguei para minha mãe, queria ter notícias. Ela me falou que o pai da baixinha estava bem na medida do possível e que precisaria ficar um tempo no hospital e dependendo das circunstâncias ele voltaria logo para casa. Fiquei sabendo que o câncer que ele tinha era de pulmão e que eles já sabiam à uns 2 anos, até a minha mãe sabia e não contou, não queriam que ficássemos preocupados. Achei errado não contarem para baixinha mas não comentei nada. Antes de desligar me informou que a mãe da baixinha pediu que ela dormisse aqui e a minha mãe ficaria um tempo com a mãe dela para arrumar os documentos que o hospital precisava.
Me despedi e desliguei, olhei para a baixinha e a arrumei no sofá de forma que eu conseguisse me deitar também, sei que ainda era cedo mas quem não gosta de dormir não é? Mas antes de eu pegar no sono a baixinha se mexeu e quase caiu do sofá, a peguei no colo e a deitei na cama, e agora sim me deitando com ela.

-Você diz saber que eu te amo, mas não imagina o quanto essa tal verdade é um tanto diferente do que você acha- falei antes de começar a fechar os olhos, não sei se eu já estava dormindo ou se foi apenas impressão, mas antes de fechar os meus olhos totalmente a vi esboçar um pequeno sorriso.

Do ringue aos palcos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora