A mulher de cabelos longos

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Fred ficou agitado e queria muito ir embora, ele não parava de me puxar para trás para que não fôssemos até a moça. Mas eu continuei a ir em sua direção, é hoje que eu descubro quem é a mulher de cabelos longos.

Fred estava frágil, nem parecia o Fred que eu conheço, ele parecia estar com medo, ou pena talvez.
A mulher apenas se virou para nós, seu olhar era triste e choroso e ela tinha um enorme corte que ia de orelha à orelha, atravessando sua boca, sem contar com outros pequenos cortes espalhados pelo rosto e um dos olhos totalmente branco. Usava um vestido preto rasgado.
De repente começou uma grande ventania e eu posso jurar que ouvi vozes de várias pessoas, pronunciando palavras estranhas. Fred ajoelhou-se e tampou os ouvidos, após algum tempo tudo ficou calmo e silencioso, mas a mulher não estava mais lá. O silêncio foi interrompido apenas pela voz da minha mãe chamando pelo meu nome, eu fui até Fred e o levantei do chão, ele estava abalado.
Fomos até o carro em silêncio, eu também estava assustada, mas não podia demonstrar isso na frente da mamãe, senão ela diria que estou ficando louca, pois mais uma vez eu iria falar de Fred e sei que ela não gosta desse assunto.
Depois de comer fui para meu quarto com o Fred.

- Quem era ela? Pode me falar Fred, você é meu melhor amigo, eu te amo! - eu disse me sentando no chão, após eu dizer eu te amo, Fred abriu um lindo sorriso no rosto.

- Sabe, eu não devia gostar das minhas vítimas, você é a primeira. - ele disse ainda sorrindo. Vítimas?! O que ele quis dizer com isso?

- Quem era ela? - perguntei novamente, talvez ele não tivesse ouvido.

- Ta. Eu vou contar, você vai morrer mesmo, nem faz diferença. Mas não conte isso pra ning...

- Eu vou morrer?! - eu disse assustada, lhe interrompendo

- Claro. Todo mundo morre um dia. Assim como eu! - ele disse naturalmente. Uffa! Do jeito que ele falou parecia que eu iria morrer logo.
- Enfim, eu não gosto de falar sobre o meu passado, a minha vida foi uma merda, literalmente. Aquela mulher é a minha mãe.

- Sua mãe?! Você nunca me disse que tinha mãe. Por que ela estava chorando? Como ela se chama? O que são aqueles cortes no rosto dela? Ela também está morta? El....

- CHEGA! Pare de perguntar! Você não cansa de encher o saco porra! - ele gritou irritado e a janela bateu violentamente

- Desculpa. -Eu disse com os olhos cheios de lágrimas.

- Me desculpe também, pequena.

Acho que ele não quer mais falar sobre esse assunto. Que estranho! Mas é melhor eu ficar na minha. Ele disse uma palavra estranha, o que é porra? Prefiro perguntar para mamãe, pois Fred não quer mais ouvir perguntas.

Ficamos brincando com minha bola de basquete no quarto até anoitecer. Após o jantar fomos nos deitar, amanhã tenho aula. Eu já estava pegando no sono quando mamãe foi me dar um beijo de boa noite.

- Mamãe, o que é porra? - perguntei ainda sonolenta, me lembrando de hoje à tarde.

- Onde você aprendeu isso? Não repita por favor, é muito feio uma menina tão bonita como você falando palavrões! - ela disse saindo do quarto um pouco desapontada. Eu realmente não entendo esses adultos!

- Ei?! Será que você não aprende? O que você conversa comigo é segredo, você não pode sair perguntando pra sua mãe nem pra ninguém! - Fred disse botando a cabeça para fora (ele estava embaixo da cama).

- Por quê? Você sempre fala palavras estranhas e não me diz o que significa. Então eu pergunto pra algum adulto. - eu disse tentando me justificar.

- Ou você guarda segredo ou eu nunca mais apareço aqui! - Fred disse sério

- Desculpa. - eu disse me deitando.

Dormi pensando na "mãe" de Fred. Será que ela é mãe dele mesmo? Ele é tão misterioso.
Acordei, ou melhor, fui acordada pela mamãe. Que curioso, ainda não está de manhã, por que ela me acordou durante a madrugada?

- Mamãe?! - eu disse esfregando os olhos.

- Você foi até o meu quarto? Não minta pra mim.

- Não mamãe, eu estava dormindo. Por que? - eu disse estranhando a pergunta.

- Estranho. A gaveta com as nossas fotos estava aberta, e em todas as fotos o rosto do seu pai está recortado. Você não faria isso, não é? - ela disse desconfiada.

-Claro que não mamãe, você não acredita em mim? -perguntei preocupada. Será que tem alguém na casa?

- Amanhã a gente coversa. - ela disse indo para seu quarto. Meu Deus! Nem minha própria mãe acredita em mim, esse mundo tá perdido!

Será que...não, Fred não faria isso! Ele não teria coragem, pra quê ele iria querer fotos do rosto de papai?

Acordei cedo e fui tomar banho. Vesti meu uniforme e tomei café da manhã. Mamãe me olhava estranho, acho que ela pensa que fui eu que recortei as fotos do papai.
Fred já estava me esperando na porta. No carro mamãe me questionou novamente sobre as fotos.

- Mamãe, eu já disse que não fiz nada, eu estava dormindo, você viu!

- Aquelas fotos não se cortaram sozinhas.

- Vai ver você é sonâmbula!

O resto do caminho permaneceu silencioso. Eu e Fred entramos na escola e eu nem me despedi da mamãe, ela não acredita em mim mesmo.
Bebi água e fui para a sala de aula em fila junto com o restante da classe. Hoje a professora passou um exercício em duplas (droga), e como sempre me sentei sozinha, bom, nem tão sozinha, pois Fred estava comigo.

- Fred, foi você que recortou as fotos do papai? - perguntei num tom de voz baixo, mas alto o suficiente para ser alvo de piadas. Eu nem ligo mesmo, eles têm inveja porque eu posso ver Fred e eles não!

- Sim. - ele disse como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- Mas por quê? - perguntei gritando, fazendo com que a classe toda ficasse em silêncio e olhasse para mim.

- Porque ele já morreu, pra que ficar lembrando do rosto dele, isso te deixa triste, não é?

- Sim. - eu disse abaixando a cabeça. - Mas eu não quero esquecê-lo.

- Mas você devia. Ele nem gostava da sua mãe! - acho que Fred tem razão, papai não merece minhas lágrimas, o melhor é esquecer que ele existiu mesmo.

Fiz o exercício e como sempre acertei tudo. O recreio foi completamente chato, comi e voltei pra sala, fizemos um desenho e o sinal tocou. Sandra já me esperava na saída, ainda não engoli aquele dia que ela dormiu em casa, eu não quero que ela durma mais lá.
Chegando em casa almocei e fui brincar perto da cabana com Fred.

- Tá vendo aquele passarinho? Mate ele. - Fred disse apontando para um filhote de pássaro que havia caído da árvore.

- Coitado! Ele não fez nada! - eu disse assustada

- Por isso mesmo! Acabe com o sofrimento dele, se ele ficar aí vai morrer.

Ele tem razão, é melhor que o pássaro morra rápido do que ficar sofrendo.
Peguei uma pedra e bati duas vezes na pequena ave, estourando sua cabeça e molhando minhas pequenas mãos de sangue, não sei porque, mas me veio uma sensação boa ao fazer isso.

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Pessoal quero avisar que o próximo capítulo vai demorar pra sair, pois irei viajar e só volto quase no fim de janeiro. Espero que entendam, amo vocês. Continuem acompanhando a história, e deixe seu voto. ☆

Fred, o Amigo ImaginárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora