Meu Aniversário

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Acordei no dia seguinte em minha cama macia. Tinha um moço em casa, era bem cedo, descobri que foi ele quem nos trouxe esta madrugada, pois mamãe não estava em condições.
Quando aquele homem que disse se chamar Felipe foi embora briguei com mamãe, que tipo de mulher traz homem pra dentro de casa? Fred me disse que esse tipo de mulher é vadia, claro que eu não chamei mamãe de vadia, não quero começar o ano com uma surra!

....

Hoje é cinco de janeiro, adivinha por que eu sei disso? Porque é MEU ANIVERSÁRIO! EBAA!
Tomei banho e vesti a roupa mais nova que eu tinha, estava até com cheirinho de nova e etiqueta, eu nunca havia usado e já estava guardada faz algum tempo.
Mamãe fez um bolo muito bonito, tinha até chantilly por cima, que luxo! Ano passado ela comprou o bolo, mas esse ano fez com suas próprias mãos, talvez porque não pôde comprar um. Me sinto feliz, mas ao mesmo tempo triste, pois foi exatamente no dia do meu aniversário que papai sofreu o acidente que deixou-o paralítico.

Mamãe disse que tomou a liberdade de convidar meus colegas de classe. ( Não acredito!!! ).
Ela se refere a eles como " meus amiguinhos" , mas sei que não são, todos me odeiam! Duvido que alguém venha.

Apesar de eu saber que ninguém viria, criei esperanças de que algum deles aparecesse, todas as minhas festas de aniversário foram comemoradas apenas com mamãe e papai, não que isso seja algo ruim, mas eu queria saber qual a sensação de ter uma festa com crianças da minha idade.

Esperamos muito tempo, mais de horas. Ninguém veio. Senti um nó na garganta.

- Mamãe, ninguém vai vir, eu sabia! - falei tentando segurar o choro.

- Vamos esperar mais um pouco, tenho certeza de que alguém virá. - mamãe disse firme, mas eu sei que ela disse isso apenas para que eu não ficasse triste.

Ding-Dong. A campainha tocou, será que veio alguém?! Corri e abri a porta, era uma aluna da minha turma, a mais gordinha, aposto que só veio pra comer! Bom, não tem problema, pelo menos alguém veio, ela me trouxe um par de brincos de presente. Fiquei muito feliz e mamãe ficou feliz por me ver feliz, cantamos parabéns e cortamos o bolo, aquela menina come, hein! Quase acabou com meu bolo inteiro!

Já é fim de tarde e minha colega foi embora, mamãe está limpando a sujeira da "festa".

Me deitei no sofá e liguei a televisão, mas acabei pegando no sono. Mamãe me deixou dormir só porque é meu aniversário, pois se fosse um dia normal ela não deixaria.
Acordei 20:00 horas para jantar e de sobremesa comi os docinhos que sobraram da festa, me lembrei que Sandra nem veio me dar os parabéns, talvez ela tenha esquecido, ou deve ter passado por mais uma crise nervosa. Ou... talvez ela não quis vir mesmo, vai ver eu sou uma criança insuportável... Fred não me achava insuportável, droga! Não consigo esquecê-lo!
Resolvi ir para meu quarto e tentar dormir sem sono mesmo, pode ser que assim eu desvie esses pensamentos idiotas.
Não adiantou nada, passei boa parte da noite imaginando como seria se Fred ainda estivesse aqui, sei que ele não é boa pessoa, nem sei se ele é uma pessoa, Sandra me disse que ele é um demônio. Parei de pensar e resolvi olhar embaixo da minha cama, vai ver ele ainda está lá.

Devia ser bem tarde, provavelmente madrugada, me abaixei e deitei a cabeça no chão gelado, a janela do meu quarto estava aberta e o vento balançava as cortinas, a luz da lua invadia meu quarto, deixando-o com cor de luar. Puxei devagar o lençol da cama, e olhei embaixo.

- Fred?! Você está aí? - perguntei baixinho, como em um sussurro

Não obtive resposta. Me levantei e deitei em minha cama, vou dormir que ganho mais! Não acredito que fiz essa babaquice!

Eu já estava praticamente dormindo, quando senti alguém soprar meu ouvido, um sussurro e uma voz feminina que eu nunca havia escutado disse "estou". Eu estava virada de lado, mas quando tentei me mexer não consegui, que sensação horrível! Minha respiração estava ruim, não sei por quanto tempo fiquei assim, de olhos fechados e corpo imóvel, posso garantir que ouvi aquela mesma voz cantando e andando pelo quarto.

" A bailarina dança sobre a caixinha de música
Rodopia sem parar
Ela nunca fica tonta
E não para de girar.

Mas não é tão doce a bailarina,
Ela é fria como gelo
Tome muito cuidado pequenina
É o seu pior pesadelo. "

De repente a voz e os passos pararam e eu finalmente pude me mexer, mas não tive coragem de mudar de posição e muito menos de abrir os olhos. Aquela voz, tão doce e triste, e tão medonha, estranha, parecia a voz de uma mãe cantando para um bebê dormir, estou até agora com os cabelos em pé!

Ainda demorei para dormir, sempre atenta a qualquer som, mas o silêncio dominava tudo, enfim adormeci.

Mamãe me acordou, o sol já invadia meu quarto, hoje nós vamos passear e ela vai comprar um presente pra mim. Fiz minha higiene e tomei o café da manhã. Entramos no carro e fomos direto para o shopping.

Chegando lá compramos muitas roupas pra mim e pra mamãe e uma boneca nova que tinha cheirinho de morango. Passamos no MC Donald e comprei um MC feliz, que fui comendo durante o caminho.
Estávamos passando por um beco, quando mamãe freou bruscamente, fazendo com que eu batesse a cabeça em um dos bancos, ela quase havia atropelado uma senhora que passava carregando um saco velho, parecia bem pesado.
A velhinha bateu no vidro e mamãe abriu.

- Dê -me um pedaço de pão, por favor! - ela disse estendendo a mão suja e enrugada

Senti muita pena, e antes de mamãe acelerar entreguei-lhe o meu sanduíche. Ela pediu para eu esperar, pois queria me dar um presente, eu aceitarei por pena. Botou o saco no chão e começou a revirá- lo...

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Galera, eu realmente queria ter postado antes, mas acabei ficando doente e indo pro hospital, sorry rsrs

Fred, o Amigo ImaginárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora