Ano Novo

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- Eu não me lembro direito, mas ele me acertou com a madeira que tinha um prego, e depois me fez cair da escada, mas ele não parou e continuou me golpeando até eu perder a consciência. Mas eu nunca vou esquecer daqueles olhos amarelos... - Sandra parou e olhou em volta como se procurasse alguém.

Agora eu tenho certeza de que era Fred, ele é um assassino! Mas ele não vai voltar, eu sei disso, eu acho... Seguirei minha vida normalmente, como qualquer criança!

- Sandra, ouvi falar que entrou alguém na casa aquele dia, com certeza foi um bandido. Aquela história de amigo imaginário foi tudo uma invenção minha. - resolvi que não contaria a mais ninguém a verdade, guardaria tudo pra mim. Sandra ficou meio desconfiada, mas não há nada que ela possa fazer.

Passamos a ceia de Natal em casa, só eu e mamãe. Foi o primeiro Natal só de nós duas, ainda lembro quando era eu, mamãe e papai, passávamos a ceia juntinhos dando altas risadas, que saudade.

Bom, hoje é dia 31 de dezembro, nós vamos passar a virada do ano na praça central da cidade, que é pra onde todos os moradores vão. Não é aquela festança como quando morávamos em Nova Iorque, mas deve ser divertido.
Já está quase na hora de írmos, mamãe me arrumou muito bem, estou me sentindo uma boneca. Vestido branco e uma tiara na cabeça (foto na mídia). Ela também está magnífica, cacheou a ponta dos cabelos, botou um vestido branco colado e salto alto, fazia muito tempo que eu não a via arrumada daquele jeito.
Eram aproximadamente 21:30, mamãe me ensinou que isso quer dizer que são nove e meia. Fomos de carro e foi muito difícil estacionar, as ruas estavam muito cheias, pelo visto essa pequena cidade tem mais gente do que eu imaginava. Quando mamãe finalmente achou uma vaga, estacionou e descemos do carro, minha visão foi espetacular, tinha gente pra todo lado, a maioria de roupas brancas, que é tradição no ano novo, sem contar com os pequenos fogos infantis que as crianças soltavam, daqueles que é só um brilhinho plástico colorido que se espalha pelo ar, já soltei um desses em Nova Iorque, sozinha mesmo, sempre fui.

- Mamãe, eu quero soltar foguinhos. - eu disse assim que nos aproximamos das crianças

- Okay, mas só um. - mamãe disse e pagou um pra mim

Soltei-o alegremente, como é bom ser criança! Mamãe encontrou uma moça e começaram a conversar.

- Essa é a minha filha. - mamãe dizia orgulhosa

- Uau, que linda! Quantos anos ela tem?

- Tem cinco.

- Meus parabéns. - ela dizia enquanto eu revirava os olhos. - Eu sou prima da sua mãe. - ela disse direcionando o olhar para mim.

-Não sabia que mamãe tinha uma prima.

- Ah, sim. Nós não nos víamos há muito tempo, desde que ela fug... - ela parou de falar no meio da frase após ser fuzilada pelo olhar de mamãe, te alguma coisa que eu não sei por aí!

- Mamãe, vou brincar. - eu disse disfarçando.

- Tudo bem, mas não demore, quero que você esteja comigo quando virar o ano.

O passado de mamãe deve esconder muita coisa, sei disso desde que ela me proibiu de ir naquela cabana.
Fui andando no meio da multidão, fiquei por perto para não me perder, afinal nem conheço direito a cidade, e essa praça é bem grandinha pro meu gosto, se mamãe soubesse de todos os meus pensamentos iria com certeza se assustar, nem pareço a doce e meiga garotinha de cinco anos que aparento ser. Sinto que a cada dia que passa meu cérebro se desenvolve muito mais rápido que o de uma criança normal, sinto que minha mente já é adulta, mas ao mesmo tempo uma parte de mim ainda pulsa, o doce de uma inocente criança.

Acho que andei demais, me distanciei um pouco da multidão, dei meia-volta e resolvi ficar onde tivesse mais gente, nunca se sabe, em Nova Iorque tinha muitas pessoas que faziam mal para as outras. Ouvi muitos barulhos e várias luzes desenhavam o céu, são os fogos de artifício! O ano já virou, preciso encontrar mamãe! Ai meu Deus!

Corri no meio da multidão que ria e estourava champagne em cima de mim, mamãe tem que estar por aqui, eu me lembro de ter passado por esta árvore. Eu corria e esbarrava nas pessoas, esbarrei em uma moça, "me desculpe", ela nem ouviu, estava feliz demais para sequer me enxergar, esbarrei em um garoto, dessa vez quem se desculpou foi ele, esbarrei novamente em outro garoto, olhei em seu rosto e me assustei, será que estou tendo alucinações? Seus olhos eram completamente brancos e estava com a língua pra fora, sua língua era repartida no meio, bizarro! Recuei pra trás assustada e senti duas mãos pousarem em meus ombros, me virei tão rápido que senti até uma tontura.
Era mamãe! Que sorte!

- Onde você estava? Falei para ficar perto de mim. Ah, e feliz ano novo! - ela disse me abraçando, estava feliz demais pro meu gosto! Senti o cheiro de bebida alcoólica, era o mesmo cheiro de quando papai bebia com os amigos, acho que mamãe bebeu um pouquinho.

Ela me pegou no colo e começou a dançar, sorte a minha que todas aquelas pessoas estavam fazendo a mesma coisa, senão eu estaria passando vergonha.
Acabei repousando minha cabeça no ombro de mamãe e minhas pálpebras ficaram pesadas até eu fechá-las e adormecer no meio de todo aquele barulho.

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Fred, o Amigo ImaginárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora