2 parte 2

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APENAS ALGUNS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

Maria ficou por uns dias em casa, evitava ir até mesmo à biblioteca temendo não resistir à curiosidade e ir até o castelo novamente, onde acabaria ela sendo a próxima vítima da rua abandonada. Tinha decidido esquecer essa história de vez, embora sonhasse quase todos os dias com a sombra na janela do castelo lhe pedindo ajuda. E uma vez chegou a sonhar com uma bela jovem pedindo que a libertasse do castelo. Ela por fim, aceitou que as idas àquele lugar não estavam lhe fazendo bem. Em uma manhã de segunda-feira, foi ao mercado com a tia, mas nem entrou no local e foi dar um oi para Jessica que já estava zangada com seu sumiço.

— Olha quem apareceu, cheguei a pensar que você tinha ficado presa no castelo — brincou ela fazendo Maria rir sem graça.

— Me diz uma coisa, esse lugar nunca tem sol? Desde que eu cheguei o tempo está nublado desse jeito.

— Fica assim durante toda a primavera. E no verão também. No outono venta muito e não tem sol. E no inverno faz bastante frio e sol nem pensar.

Maria riu.

— Mas com um pouco de sorte, temos uns três ou quatro dias com um sol morno durante o verão.

— Bom, agora entendi porque aqui não tem clube.

— Tem cachoeira, mas é muito fria mesmo no verão. E você, ainda investigando o castelo mal assombrado?

— Não, já desisti.

— Sério? Que pena! Eu também estava curiosa para desvendar o mistério da rua abandonada.

— Jessica onde estão os outros jovens dessa cidade?

— Na capital. Assim que se formam aqui, eles vão para lá estudar.

— E por que você não foi?

— Meu pai não teria como me manter na capital. Já sei o que está pensando, eu poderia trabalhar para me manter lá. Mas o que me prende aqui é a minha avó. Ela tem diabetes. Mora conosco e tenho medo de deixá-lo sozinho com ela. Sou eu que aplico as injeções todo dia, ele não saberia. Além disso, ele não é do tipo boa companhia, e minha avó iria se sentir sozinha. Ela é mãe da minha mãe, sabe.

— E onde está sua mãe?

— Faleceu.

— Sinto muito.

— Já faz tempo. Foi pouco depois do sumiço do casal. Ela teve uma parada cardíaca.

Lucena chegou à biblioteca procurando Maria.

— Maria, sua tia quer você no mercado para ajudá-la com as compras.

— Obrigada, dona Lucena, tchau Jessica, a gente se vê.

— Não some ou eu revelo seu segredo.

Maria saiu rindo. Caminhou vagarosamente até chegar à entrada da rua abandonada, aí apressou o passo e se dirigiu ao mercado. Chegando lá a tia já havia ido embora, mas havia deixado umas sacolas para que ela levasse. Como eram poucas, resolveu comprar algumas coisas de seu agrado, pediu ao atendente que guardasse de novo as sacolas e entrou no corredor de frios. Estava analisando os diferentes iogurtes quando se virou abruptamente e esbarrou em alguém. O homem se afastou imediatamente indo para outro corredor e nem respondeu ao pedido de desculpas de Maria. Ele usava uma calça preta, larga e uma blusa de frio enorme, também preta e com capuz que cobria seu rosto. Maria foi para o corredor de frutas e o homem estava lá. Conforme ela andava, tinha a impressão de que ele a encarava, mas quando olhava ele se apressava em virar para o outro lado. Desistiu das compras e ia sair do mercado quando se lembrou subitamente da sombra na janela do castelo. Ocorreu-lhe que o vulto que vira algumas vezes na janela do terceiro andar parecia usar um capuz como esse, de forma que não sabia como era seu cabelo e assim não podia identificar se era um homem ou uma mulher. Nesse momento o homem de capuz passou por ela de novo, saindo do mercado. Ele andava rapidamente e de cabeça baixa. Sem perceber, Maria começou a segui-lo, e ele entrou justamente na rua abandonada. Maria parou na entrada da rua decidindo se tinha coragem de seguir em frente, podia ser uma armadilha. Mas a curiosidade falou mais alto e ela acabou entrando na rua. Foi andando vagarosamente tentando não fazer nenhum barulho e de olho nas casas abandonadas da rua, com medo do cara que se escondeu na última noite. Parou a uma distância do castelo, mas avistou o homem de capuz entrar nele. Ele caminhou ainda de cabeça baixa e entrou no castelo. O coração de Maria acelerou, então ela não era louca e morava de verdade alguém naquele lugar assustador. Ela tomou coragem, foi até o portão e procurou por uma campainha. Bateu diversas vezes, mas ninguém respondeu e não ouvia som dela também, pensou que talvez o motivo das luzes apagadas e de não ouvir a campainha fosse que não havia eletricidade no castelo. Olhou em volta e achou uma caixinha de correio no canto do muro do lado de fora do castelo. Então teve uma ideia. Ela voltou ao mercado e comprou um caderninho de notas e uma caneta para escrever um bilhete para o homem, pensou o que poderia escrever. O quanto ele aceitaria de alguém que andava espiando sua casa, que havia esbarrado nele no mercado e o pior, o seguido? Ficou uns dez minutos pensando no que poderia escrever, mas escreveu um simples "Oi". Não havia pensado em nada melhor, nenhuma ideia do que poderia escrever. Imaginou que ele não poderia se zangar com um simples oi. Pegou as sacolas e foi até o castelo. Ficou um tempo olhando a torre esquerda, mas nem sinal do homem de capuz, então colocou o bilhete na caixinha de correio e foi embora.

O assassino - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora