Capítulo 08

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  Na semana seguinte Maria voltou a trabalhar. Decidiu que a melhor forma de descobrir a verdade era com Inácio, e mesmo que ele se negasse a falar diretamente com ela, ela não podia negar que já havia tido um enorme progresso. Até mesmo Jessica quase surtou quando ela lhe disse o que tinha acontecido e ficou achando tudo muito romântico e misterioso.

Maria tateou a caixa de correio, mas não havia nada. Inácio não a esperava de volta naquele dia. De qualquer forma, o portão estava aberto para ela. Esses dias longe, quase acabaram com a paisagem do jardim, o mato crescera muito e Maria teria muito trabalho para deixar tudo como estava. Em compensação, as flores haviam crescido bastante, e algumas que ela havia plantado já davam brotos. Viu o vulto de Inácio na janela a observando umas três vezes durante o dia. Na saída deixou para ele um bilhete, se queria descobrir a verdade, precisava fazer com que ele falasse. Resolveu pegar leve e não perguntar tudo de uma vez.

"Inácio,

Desculpa por ter sumido esses dias, mas como você sabe, estava exercendo meu lado "curiosa". E de novo obrigada por ter aberto a porta para mim aquela noite, não sabe o quanto significou confirmar mais uma vez a pessoa especial e atenciosa que você é. Bom, às vezes. Tenha uma ótima noite.

Maria"

No dia seguinte Maria encontrou um bilhete na caixa de correio:

"Não se preocupe, vai ser melhor mesmo para você se estiver investigando o que aconteceu aqui. Mas se estivesse fazendo um bom trabalho como curiosa, não voltaria para esse castelo. Quando sumiu, achei que tivesse ficado esperta."

Maria bufou, novamente a mania dele de dizer que ela deveria ir embora e não voltar. Ela respondeu.

"Você me faz pensar que foi um erro eu ter voltado, já que não me quer por perto."

No dia seguinte, a resposta a surpreendeu.

"É um erro você voltar, mas isso não quer dizer que não quero que você volte."

Maria ficou emocionada com a resposta dele, admitindo que a queria por perto. Chegou a cheirar o papel de tão boba que estava com essa revelação. Então respondeu:

"E o que quer que eu faça?"

Maria foi na manhã seguinte pegar a resposta até com certo medo, e lá estava.

"Continue investigando quem eu sou, e acredite no que as pessoas disserem sobre mim. De verdade, acredite."

Era como se Maria pudesse sentir a dor dele escrevendo aquelas palavras. Ela percebia que ele não gostava de ser tão sozinho, prova disso era que ele deixava o portão aberto para ela, que do jeito estranho dele, sempre estava por perto quando ela precisava. Como ela poderia acreditar em palavras alheias? Simplesmente respondeu:

"Você quer que eu acredite que você é mau. Mas como posso quando sempre está por perto para me salvar? Quando teve tantas oportunidades de me fazer mal, mas nunca o fez? Eu o admiro Inácio Edenhal. E desculpe, mas realmente não posso acreditar que um homem que larga seu título, seu país e sua família por amor, possa fazer mal a alguém. Então me diga você quem realmente é, ou me dê as verdadeiras pistas para que eu possa descobrir."

Quando chegou em casa, Marta estava sentada na sala com cara de poucos amigos.

— Aconteceu alguma coisa, tia?

— A Lucena que sumiu.

— Como assim sumiu?

— Ela não atende ao telefone, ninguém a viu nesses últimos dias e ela parece não estar em casa. Não sei onde ela foi.

— Talvez tenha ido visitar algum parente.

— Ela não sai sem avisar, muita gente depende dos trabalhos sociais dela. Cestas básicas, aulas, enfim, alguém saberia dela.

Maria ficou preocupada e se sentiu culpada por Lucena.

No dia seguinte encontrou a resposta de Inácio:

"Quero que fique bem, eu não sou confiável. Não quero ser mau, mas já fui uma vez e posso ser de novo. Não suportaria se machucasse você, então não se arrisque. Agradeço a confiança que tem em mim, mas não sei como poderia ajudá-la a descobrir quem sou de maneira mais clara que essa. Por mais que eu não queira, peço que se afaste de mim enquanto é tempo."

Maria respondeu.

"Adoraria se as pessoas parassem de me dizer o que devo ou não fazer e me deixassem tomar minhas próprias decisões. Tudo bem Sr. Malvado, será que pode fazer as coisas do meu jeito?"

Como era sexta-feira, Maria só leria a resposta de Inácio na segunda, já que ela não tinha costume de trabalhar nos fins de semana, então ele não responderia. Passou o fim de semana com Jessica procurando por Lucena, mas não encontraram nem sinal dela.

Na segunda, Maria chegou preocupada ao castelo, e lá estava seu bilhete resposta:

"Se faz tanta questão... O que precisa saber para te convencer de que corre perigo perto de mim?"

Era a deixa que Maria precisava. Sem pensar duas vezes ela respondeu.

"Gostaria que começasse me dizendo onde está sua esposa."

Maria não sabia explicar o porquê, mas ao chegar ao castelo na manhã seguinte, esperava que Inácio tivesse respondido que haviam se separado, ou pelo menos que não a amava mais. Ela sabia o quanto isso era egoísta da parte dela, mas não queria ler declarações de amor de Inácio para Alessandra. Tateou a caixa de correio, mas não havia nada. Inácio não respondera o bilhete. Ela olhou para a janela da torre esquerda e lá estava ele. Foi até o portão e empurrou para entrar, mas estava trancado. Ela empurrou novamente e olhou para Inácio na janela distante, mas ele simplesmente saiu da janela e fechou a cortina, deixando claro que ela não era mais bem vinda. Ela saiu sem acreditar e sentindo uma dor cortar seu peito. Foi direto para a biblioteca chorar com Jessica a rejeição de Inácio.

Na quarta-feira Maria ainda estava com cara de poucos amigos e aquela dor chata no peito. Para piorar, estava com saudade de Inácio e se achando uma idiota por estar com saudade dele, como podia sentir falta de alguém que nem tinha coragem de olhar nos olhos dela? Que nem teve coragem de dizer que não a queria por perto? Preferiu trancar o portão e observar de longe, da janela, como um covarde. Queria com todo coração odiar Inácio Edenhal pela dor que estava causando a ela, ele realmente era mau, mas não conseguia. Lia toda hora os bilhetes que trocaram, e guardava uma flor murcha do buquê que ele mandara para ela há um tempo. Na noite de quinta-feira, Maria observava a rua da janela do quarto, não chovia, mas o tempo estava fechado como sempre. Foi quando ela percebeu alguém do outro lado da rua, não era o mesmo homem que a observara uns dias antes, estava mais longe, com uma blusa de capuz também, uma blusa que se parecia muito com a de Inácio quando Maria o seguiu do supermercado. Num baque a ficha dela caiu, era Inácio. Maria correu para fora de casa, mas quando chegou à varanda, ele não estava mais na rua. Correu até a esquina, mas nem sinal dele, tinha desaparecido. Ele podia ter ido embora por qualquer lado e Maria sozinha não conseguiria alcançá-lo. Ela não dormiu a noite tentando entender por que ele fora ali, por que a expulsara da vida dele e por que ele tinha entrado na vida dela para começar.

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O assassino - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now