8 - parte 3

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ÚLTIMA PARTE DA DEGUSTAÇÃO

  A noite já havia caído, fria como sempre. As nuvens negras cobriam a lua, e deixavam a cidade mais escura que o normal. Maria sentia-se zonza, sem força nas pernas. Arrastou-se até uma calçada e ficou sentada lá com a cabeça entre os joelhos por um tempo, deixando que as lágrimas saíssem de seus olhos. Precisava tirar um pouco da dor que estava sentindo. Ela não podia acreditar naquilo. Inácio não podia ser tão cruel e frio. Ele não podia. Ela não acreditava. Não acreditaria até ouvir da boca do próprio Inácio. Então, tomou uma decisão, iria saber disso da boca dele. Resolveu ir até o castelo, e gritaria se fosse preciso até ele aparecer e lhe falar a verdade. Precisava ouvir da boca dele que ele assassinara sua esposa para que se convencesse e pudesse então odiá-lo. Levantou-se decidida e foi para a Rua Londrina.

Como de costume a rua estava mais fria que o resto das ruas da cidade. Assim que entrou nela, sentiu o frio percorrer seu corpo. Era como um aviso que a noite não seria boa. Quando passou pela primeira casa, sentiu alguém a observando. Começou a caminhar mais devagar e olhou para trás despistadamente, não havia ninguém. Assim que olhou para frente novamente, um barulho de dentro da casa que pertencia à família Damasceno chamou a atenção de Maria. Alguém estava lá. Seria Inácio? Então ela chamou:

— Inácio! É você? Inácio!

Ninguém respondeu, mas um vulto passou rapidamente da casa dos Damasceno para trás de uma árvore. Maria foi até a árvore, mas não havia mais ninguém atrás dela. Ela voltou para a rua e correu até o castelo, estava escuro como sempre. Olhou para trás novamente ao ouvir passos na rua, mas ninguém apareceu. Estava começando a se arrepender de ter ido até ali naquela noite. Quando se virou para o castelo novamente viu um homem parado em frente ao portão. Ele usava roupas escuras, óculos escuros e uma toca de lã, de forma que era impossível que Maria o reconhecesse. Ele estava parado, olhando na direção dela, com um machado nas mãos. Maria pensou em perguntar quem era, mas foi coerente e correu, ouvindo o homem correr atrás dela.

Ela não tinha muita saída. Tinha vantagem porque corria mais rápido pelo fato do homem correr segurando o machado, mas logo estava perdendo o fôlego. Não adiantaria correr para a cidade, não haveria ninguém na rua com a chuva que ameaçava cair, e a rua mais próxima era praticamente deserta, não era uma rua residencial, então corria o risco de não encontrar ajuda. E não tinha fôlego para correr até a rua residencial mais próxima. Precisava despistar o assassino. Entrou pela casa dos Damasceno e saiu pelos fundos se escondendo atrás de uma árvore enorme. Parou recostada na árvore, sua respiração estava alta, ela tentava fazer silêncio, mas estava muito cansada. Prestou atenção e não ouviu nenhum ruído de ninguém se aproximando. Arriscou uma olhada para a rua, mas ouviu algo atrás de si, virou-se a tempo de se abaixar e se salvar da primeira tentativa do assassino de acertá-la. Correu novamente, pela rua, não deu para ir em direção à cidade, porque o assassino cortou caminho pela casa dos Damasceno e apareceu na ponta da rua bloqueando sua passagem. Ela voltou em direção ao castelo, sabia que agora estava perdida, o portão estaria trancado e ela não teria como fugir novamente. Então entrou na casa mais próxima ao castelo, a casa de dona Lucena. Descansou um pouco e olhou pela janela, nem sinal do assassino na rua, foi quando ouviu uma respiração por perto, o que significava que ele estava dentro da casa, mas estava muito escuro para encontrá-la. Maria também não enxergava nem um palmo a sua frente. Tinha que sair dali, mas não conhecia a casa, e se fizesse qualquer barulho denunciaria onde estava. Ela segurou o choro e começou a rezar, só um milagre salvaria sua vida naquele momento.

Então ouviu um barulho de dentro do cômodo onde estava e correu na direção oposta, para outro cômodo, enxergou outra janela, mas nem teve tempo de chegar nela, trombou com tudo em alguém e ia dar um grito, mas o homem tapou sua boca e esperou um pouco. Depois sussurrou:

O assassino - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora