Capítulo 06

35.1K 3.1K 306
                                    

   Na semana que se seguiu, os bilhetes entre Maria e Inácio foram ficando cada vez mais íntimos. Maria já sabia seu nome, idade, livro e filme favoritos, sem falar que ele sempre adivinhava o que ela pretendia com cada pergunta que ela fazia, e parecia saber exatamente como ela era, como se a conhecesse. Os sonhos com a mulher que lhe pedia ajuda pararam e Inácio não tinha repetido que ela corria perigo perto dele nem nada do tipo. Maria passava tanto tempo no castelo desde que Inácio resolveu revelar quem era, que ainda não tinha falado com Jessica. Então naquela noite, quando saísse do castelo, iria falar com ela. No momento, uma coisa a incomodava, o último bilhete de Inácio.

"Às vezes queremos ser bons, mas simplesmente não conseguimos, quando se é assim, o melhor a fazer é ficar sozinho."

Essa foi a resposta dele para a pergunta de Maria sobre o porquê ele vivia tão sozinho. Maria sentiu um arrepio pelo corpo, era como se fosse um aviso a ela, um aviso que ele não queria machucá-la, mas iria. Ela pensou em nem responder, mas no fim acabou escrevendo...

"E por acaso viver só, para não ser mau com os outros já não é um ato de bondade?"

E assim foi procurar Jessica.

A biblioteca já estava fechada, então Maria foi até a casa dela. Quando abriu a porta, Jessica nem deu tempo de Maria cumprimentá-la e a puxou para dentro dando uma bronca:

— Onde foi que você se meteu? Te liguei a semana inteira, fui umas dez vezes na sua casa, cheguei a pensar que você estava presa naquele castelo com aquele estranho.

Maria fez sinal de silêncio para Jessica, mas obviamente a avó dela que estava sentada por perto e virou a cabeça para encarar Maria, tinha ouvido.

— Vem comigo — falou Jessica levando Maria até seu quarto.

Lá ela pegou um envelope grande e deu à Maria, quando abriu, ela viu o registro das quatro casas da Rua Londrina. A primeira casa, n° 11 pertencia a um senhor chamado Ernesto Macedo Castro, ela foi abandonada e demolida parcialmente apos a tragédia da rua. O papel falava sobre uma tragédia, mas não falava o que era. A segunda casa, onde Maria havia entrado, pertencia ao casal Mario e Isabel Damasceno. O casal desapareceu em 21 de junho de 1991. A filha do casal, Vitória Damasceno, oito anos foi encaminhada ao juizado de menores da cidade de Ponta Bela. Maria sentiu um arrepio ao ler a notícia, por um momento, sua cabeça girou e ela caiu sentada na cama de Jessica, que se levantou assustada para socorrê-la.

— Maria, o que houve?

— Nada, já passou. Essa menina, onde fica Ponta Bela?

— É uma cidade vizinha, duas horas de carro. Por quê?

Maria deu de ombros e continuou lendo, a terceira casa pertencia a uma mulher, Lucena Campelo Fernandes. Dessa vez Maria perdeu a respiração.

— O que foi agora? Leu o nome dos donos do castelo ou que a dona Lucena é dona da casa mais próxima ao castelo?

Maria nem sabia o que responder, como era possível que Lucena tivesse tanto medo da rua que abandonasse sua casa daquele jeito?

— Para de enrolar, eu sei que é chocante a dona Lucena ter uma casa justo nessa rua, mas olha logo o nome dos donos do castelo.

Maria tirou de sua bolsa todos os bilhetes que trocara com Inácio desde que ele se revelara e entregou a Jessica, para que ela ficasse a par do que estava acontecendo. Enquanto virava a página para a última construção da rua, número 33, a mansão pertence ao nobre casal Inácio e Alessandra Edenhal. Após a tragédia, ninguém mora no local. Ao mesmo tempo em que Maria leu o nome dos donos do castelo, Jessica leu o nome que assinou o bilhete.

O assassino - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora