1. I still hate that name!

615 35 19
                                    




A terra fina e ruiva cobrindo de leve a sola da minha bota, deixando o marrom do couro com um tom avermelhado. O medalhão do cinto pesando em minha cintura. Entrei naquele bar conhecido, girando as chaves em meu dedo indicador e fazendo com que a madeira velha e podre do chão rangesse. O cheiro forte de rum e uísque já era velho conhecido de meu olfato, como se fosse meu próprio aroma desde que nasci.

Acenei ao velho Frank Harold. Os Harold's mantinham aquele bar há gerações e Frank era a sétima. Às vezes ele se preocupava com a longanimidade dos negócios, dizia que estava velho. Seu filho havia mudado para a cidade grande e não tinha interesse em servir álcool para os roceiros dessa cidade que só pareciam arranjar briga, então isso o preocupava. Provavelmente o velho bar teria que fechar as portas, mas eu sabia que só as fecharia quando o velho Frank estivesse debaixo de sua lápide. Com um pano encardido no ombro, ele me viu entrar no estabelecimento e acenou. Eu não precisava falar nada, ele sabia o que eu queria. Encostei-me sobre aquele balcão cuja tinta estava descascando, colocando meus ombros sobre ele. Minha garganta parecia estar mais seca do que o chão barroso pelo qual eu andara o dia todo. Meu estômago se revirou quando reparei que o sujeito ao meu lado estava me olhando de cima a baixo, repetidas vezes, passando a língua pelos dentes amarelos e fazendo um barulho repugnante com esse gesto.

- Posso te pagar uma dose, linda? - falou com um sotaque horroroso, ainda olhando ao meu corpo e até se inclinando para encarar minha bunda melhor

Frank veio com minha bebida e um copo na mesma hora e me encontrou gargalhando.

- Turista? - perguntei a Frank, apontando para o sujeito do meu lado, como se ele mal pudesse me escutar

- Nunca o vi por aqui. Deve estar só de passagem.

Frank derramou o uísque em meu copo e eu virei a bebida de uma vez só, como havia aprendido anos atrás. Eu não tossia mais, minha cabeça não doía mais. Era tão natural quanto beber um copo d'água.

- Obrigada, Frank. Pode colocar na conta do rapaz aqui do lado, ok? - eu disse, colocando a mão na cintura, ajeitando a arma que eu levava presa a ela

Eu continuava a ignorar a presença do sujeito do meu lado, mas, se ele tentasse alguma coisa contra mim por aquele ato, minhas mãos estavam prontas para apertar o gatilho. E qualquer morador dessa cidade sabe que eu não erro o alvo.

Saí do bar praticamente da mesma forma que entrei, só que minha garganta agora ardia por uma razão melhor. Ajeitei o chapéu à cabeça e girei as chaves em meus dedos mais uma vez antes de entrar na minha caminhonete e acelerar. O caminho era sempre mais divertido quando eu saía do asfalto e entrava na estrada de chão que levava à grande casa na qual eu morava desde criança. As rodas da minha velha Chevy pareciam sorrir toda vez que encontravam a terra. Meus punhos e pés também agradeciam a velocidade. O asfalto, suas regras e sinalizações não podiam mais me alcançar. Estradas assim não têm dono, mas eu me fazia dona dessa por esses breves instantes de vento constante passando pela janela e embaraçando meus cabelos.

Freei bruscamente ao alcançar o portão de madeira. Soltei do carro e o abri, voltando a acelerar depois de voltar ao carro. Eu sentia falta quando mal tínhamos um portão, mas essa cidade parece estar ficando cada vez mais insegura. Não que ela um dia já tenha sido segura, mas, antigamente, os bandidos não eram tão covardes e mesquinhos ao ponto de roubarem casas. Roubavam bancos, bares, matavam em praça pública, duelavam sem esconder a cara. Bons tempos esses.

Adentrei a casa, fazendo questão de bater meus pés no grande capacho da porta de entrada. Senti o cheiro de linguiça frita e corri à cozinha, onde encontrei minha velha mãe com a barriga no fogão, como sempre. Coloquei minhas mãos sobre seu ombro e a beijei no rosto.

Freedom's Last BulletWhere stories live. Discover now