5. Got a real good feelin' something bad about to happen

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Identidade não era necessária em lugares assim. Talvez pedissem identidade para barrar garotos no auge da puberdade que tentassem entrar no bar, mas eu era uma garota. Garotas de família não iam a lugares assim, ainda mais na beira de uma estrada. Garotas menores de idade estariam de pijama com babados, deitadas em suas camas, lendo revistas de adolescente e fofocando com as amigas no telefone. Mas, apesar de ser garota e menor de idade, eu não tinha muita coisa a ver com essas garotas. Eu parecia mais velha. Eu agia como se fosse mais velha. Eu fui obrigada a crescer rápido demais, mais rápido que a contagem de anos da minha vida. E não tinham como me confundir com as outras garotas ali. Nossas roupas eram tremendamente diferentes. Eu estava coberta com muito tecido, elas não.

Eu havia acendido um cigarro antes de entrar no lugar. A fumaça que saía da minha boca não era única no ambiente. O lugar era escuro, abafado, cheirava a tabaco. As garotas com pouca roupa dançavam em cima do balcão. Outras se agarravam a postes cromados que iam do chão ao teto. Não era apenas um bar, era um clube de strip tease.

Eu, absolutamente, não estava chocada com o lugar. Apesar de nunca ter entrado em clube de strip, eu sabia muito bem o que eles eram. Eu sentia um pouco de pena das garotas ali. Sei que foi o modo mais fácil que elas acharam para ganhar a vida, sei que muitas delas haviam crescido nesse ambiente, talvez suas mães também fossem strippers. Claro, elas poderiam se virar de outro jeito, mas era uma troca de serviços muito mais lucrativa do que, quem sabe, servir mesas em lanchonetes. Ter que se exibir e muitas vezes ter que trocar beijos e outras carícias com homens que só queriam usá-las era só um detalhe. Os dólares recebidos valiam mais que isso no final das contas. É o mundo capitalista: tem seus prós e contras. Não estou justificando, afinal, eu não faria o que elas fazem, mas pra quê julgá-las? Para uma coisa elas me serviram: mostraram-me que eu não me atraía de modo algum pelo mesmo sexo, apesar de nunca ter encontrado um homem que valha a pena para mim. Talvez eu estivesse destinada a viver sozinha mesmo. Eu, minha caminhonete e minha arma. Era um triângulo amoroso confortável.

Quando meus olhos se acostumaram à escuridão do ambiente, avistei umas mesas distantes das strippers. Havia alguns homens jogando pôquer ao lado de uma mesa de sinuca. Eles estavam fumando, concentrados no jogo. Um estava até com um charuto na boca. Eu me aproximei, tirando o cigarro dos meus lábios e soltando a fumaça branca ao ar. Consegui prender a atenção deles com esse ato. Não era todo dia que eles viam uma garota que não estivesse dançando seminua naquele lugar.

Contudo, não falei sequer uma palavra. Contornei a mesa, olhando-os de lado. Fui até a parede, vendo o suporte para os tacos de sinuca. Tirei um dos tacos do suporte, pegando um cubo de giz e passando-o pela ponta. O homem que estava com o charuto se levantou ao ver esse meu ato. Eu me debrucei sobre a mesa verde, apontando o taco de forma amadora à bola branca e segurando o meu cigarro com os lábios. Não demorou muito para que o homem se encostasse atrás de mim. Ele se debruçou contra meu corpo, segurando minhas mãos e colocando a cabeça sobre meus ombros, ajudando-me a segurar o taco corretamente. Eu sabia segurá-lo corretamente, mas fiquei feliz por tê-lo enganado, por tê-lo feito pensar que eu era amadora. Ele fez com que eu acertasse a bola branca, que, por sua vez, correu a mesa, atingindo outras bolas coloridas e fazendo uma cair na caçapa. Eu virei meu corpo, ficando de frente a ele. Não vou mentir, não era de todo mal. Tinha o rosto fino, coberto por uma barba grossa e preta, porém curta. Devia ser o menos pior daquele grupo de homens e o fato de estar com charuto denunciava que tinha um poder aquisitivo maior do que os outros. Tirei o cigarro de minha boca, soltando a fumaça em seu rosto. Ele pareceu não se incomodar com minha provocação.

Eu me livrei de seu contato, girando meu corpo e me debruçando contra a outra lateral da mesa. De novo, apontei o taco para a bola branca. Eu não precisava olhar, eu sabia que ele estava analisando cada curva minha, principalmente minha bunda. Pra falar a verdade, eu estava forçando essa pose para que ele realmente notasse. Eu podia não gostar daqueles olhares ao meu corpo, mas eu sabia que conseguiria algo se ele estivesse vulnerável a mim. Eu sabia usar meu corpo para conseguir o que queria sem ter que dançar seminua em cima do balcão. Saber usá-lo era muito diferente de gostar de usá-lo, mas era necessário naquele momento. Desde que ele se mantivesse só nos olhares e nos toques superficiais, eu não via muito problema. Ele foi até a parede e pegou um dos tacos para si, sem tirar os olhos de mim. Depois, com o charuto entre os dentes, juntou as bolas coloridas, tirando algumas da caçapa.

Freedom's Last BulletWhere stories live. Discover now