6. I hit the bottle, you hit the gas

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A noite passou lenta. Eu encarava a parede, pensando no que tinha acontecido, pensando no possível risco que eu estava tomando. Eu ouvia a respiração do homem na cama ao lado de leve. O que eu ainda estava fazendo deitada ali? E se ele estivesse apenas me enganando para me levar ao meu pai? Mas o homem continuava dormindo, com seu sono pesado. Como eu invejava quem conseguia dormir. A insônia me perseguia todas as noites. Com os olhos abertos, encarando a escuridão, eu pensei repetidamente em absolutamente tudo. Era um hábito no mínimo torturante.

O sono veio tarde e foi embora cedo, como uma visita mal agradecida. Eu levantei, andando a passos largos e encostando somente a ponta de meus pés ao chão, silenciosamente. Fui até a minha mochila e a carreguei até o banheiro, fechando a porta com cuidado. Fiz tudo o que tinha para fazer ali e na hora de lavar o rosto, percebi o quão acabada eu estava. Por causa da minha insônia, minhas olheiras sempre existiram, mas elas pareciam dez vezes maiores naquela manhã. Eu estava pálida, com cabelo quebradiço. Acho que as pessoas me acham mais velha por causa dessa aparência desgastada que eu tenho. Passei os dedos entre os fios do meu cabelo, tentando arrumá-lo um pouco. Não funcionou. Quando busquei pelo elástico de dinheiro para prendê-lo dentro da mochila, achei o perfume que Regina me dera. Eu nunca usei nada do tipo, mas algo me fez espirrá-lo no meu pescoço. Eu tossi com a fragrância, era forte demais. Depois esfreguei meu pescoço, mas o cheiro já havia se impregnado. Droga. Então você é patética ao ponto de passar perfume só porque tem um babaca atraente dormindo no quarto ao lado? Estou realmente decepcionada com você, Freedom. Ou Priscilla? Quem é você mesmo?

Lavei meu rosto mais uma vez, tentando parar de me torturar mentalmente e saí do banheiro. Assim que abri a porta, encontrei o homem em pé, ainda sem camisa, ajeitando a calça, com as luzes do quarto acesas.

- Bom dia! - ele falou alegremente

Fiquei pensando se foi ironia ou não.

- O que você faz em pé e movendo esse braço? Volta para a cama - eu ordenei

- Quem é você? Minha mãe? - ele riu

Abaixou-se com dificuldade, tentando ajeitar as botas no pé. Gemeu de dor quando tentou.

- Você quer parar de teimosia? Se você quer se recuperar logo, não mexe a merda do braço! - eu reclamei, mas depois percebi que era estúpido, o ombro era dele, se ele quisesse que cicatrizasse ou não era problema dele

Sentei no chão e calcei também minhas botas. Depois me levantei, colocando a mochila nas costas, suspensa em apenas um ombro e fiz menção de ir à porta.

- Você vai embora? - ele perguntou

Eu dei meia volta e o encarei.

- Por acaso eu tenho a obrigação de te esperar?

- Eu pensei que a gente podia - eu o interrompi

- Qualquer coisa que você tenha pensado, por favor, des-pense. Eu ando sozinha, nunca precisei de ninguém ao meu lado e não é agora que eu vou precisar.

- Calma, eu só ia falar para a gente tomar café da manhã juntos. Panquecas, quem sabe.

- E por quê?

- Porque você me ajudou na noite passada! Eu estaria morto sem você. Acho que poderia te recompensar.

- Com panquecas? Pensei que já tínhamos ficados quites quando eu salvei sua vida porque você salvou a minha.

- Vai dizer que seu estômago não está roncando? Vai dizer que sua boca não encheu de água só de pensar em panquecas?

Eu bufei.

Freedom's Last BulletWhere stories live. Discover now