3. Hit me with your best shot

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Atravessei aquela praça vazia e silenciosa. A cidade toda ainda estava dormindo. Fiquei aliviada em encontrar minha Chevy no mesmo lugar que eu a havia deixado. Ela estava intocável e um pouco do orvalho da manhã fez com que os vidros se embaçassem. É por isso que eu gosto de cidades pequenas! Carros sem alarme, gente simples, estradas longas e sem trânsito, além das estrelas mais aparentes.

Sentei no banco e joguei a arma que eu carregava enfiada em um lado da minha calça no banco do passageiro. Ela estava me incomodando, já que eu havia passado esse tempo todo tentando escondê-la do padre. Até dormi com ela debaixo do travesseiro para que ela não fosse descoberta.

Meu corpo não cheirava tão mal por causa do banho que eu tomara, mas minha blusa estava bem suja. Alcancei a mochila com algumas roupas que eu havia separado e tirei de lá a primeira blusa que achei. Olhei para os lados e não havia ninguém pelas ruas naquela hora. Com as janelas embaçadas dificultando a visualização de dentro do meu carro, eu troquei de blusa ali mesmo, ajeitando um pouco meu sutiã. E como eu odiava essa peça de roupa chamada sutiã que só me sufocava! Só que era necessário, infelizmente eu não era mais a tábua que eu era quando criança. Eu mal sei quando meu corpo começou a mudar e ter curvas, mas eu não gostava. Essas malditas curvas só serviam para que homens nojentos me olhassem com malícia.

Abotoei a nova blusa e usei a suja para desembaçar o pára-brisa antes de dar a partida no carro. Eu não sabia para onde eu iria, mas não fazia questão de saber. Saí de Pikeville e dirigi por uma estradinha sinuosa. Eu estava adentrando ainda mais o Kentucky e era bom conhecer um novo estado, já que eu nunca havia saído do Tennessee. Passei por várias casas, fazendas e fábricas, sem contar com as grandes áreas de plantação. O tempo estava firme, apesar do sol não estar muito forte. Eu olhei para o retrovisor e vi uma caminhonete preta atrás de mim. Eu estava com o braço apoiado na porta, com a janela completamente aberta, deixando o vento bater com força no meu rosto. Às vezes eu beliscava os salgadinhos e todas as porcarias que eu havia comprado naquela loja de conveniência e dava uns goles ali e aqui na garrafa de uísque, por mais que quente. Eu teria que fazer aquela garrafa durar, afinal meu dinheiro era limitado.

Apertei o botão para tirar a fita da gravação das músicas da Loretta Lynn de dentro do toca fitas umas dez vezes seguidas até perceber que ela não ia sair. Estava emperrada lá dentro. Apertei de novo o botão e agora ele e a droga da fita estavam emperrados. Merda. Bati umas vezes no toca fitas até chegar a socá-lo, mas não funcionou. Inclinei-me para ver se eu conseguia colocar meus dedos na abertura e tirá-la de lá. Sem perceber, minha mão que estava ao volante o girou para a esquerda. Ouvi uma buzina alta e forte de caminhão e voltei rapidamente o volante para a posição inicial. O caminhão passou por mim ainda buzinando e eu soltei um suspiro de alívio. Eu havia invadido a pista contrária em um momento de puro deslize. Eu realmente ia ficar com raiva de mim mesma se eu tivesse causado um acidente por uma razão tão banal.

Quando meu coração desacelerou, eu olhei para o retrovisor de novo e vi a mesma caminhonete preta. Aquilo me intrigou e a proximidade que ela estava da minha traseira me deixou um pouco desconfortável.

Diminuí a velocidade tirando o pé do acelerador. A caminhonete continuava colada atrás de mim. Diminuí um pouco mais e ela acompanhou minha velocidade. A pista contrária estava vazia e podia se ver de longe que não vinha nenhum outro automóvel. Por que raios ela não tinha me ultrapassado ainda? Diminuí a velocidade ainda mais, tendo até que diminuir também uma marcha. A maldita não saía de trás de mim. E com isso eu tive a confirmação de que aquela caminhonete estava me seguindo ou quem sabe querendo brincar com a minha paciência. Meu pé pisou fundo no acelerador, recuperando a velocidade, e minha mão passou a marcha rapidamente. Eu excedi os limites de velocidade, mas não havia nenhuma polícia ali para me fiscalizar. A caminhonete também acelerou, acompanhando meu ritmo. Já tinha virado uma questão pessoal.

Freedom's Last BulletOnde as histórias ganham vida. Descobre agora