Capítulo 3

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Por mais cuidado que tivesse, Eduardo acordou assim que ela fez o primeiro movimento na tentativa de apanhar o filho.

- Júlia - apesar de falar baixo para não acordar o menino, acabou por assustá-la. Passou a mão sobre os olhos para vê-la melhor- Podia ter me chamado.

- Acabei de chegar e presumi que estivesse cansado - apontou a bolsa dele ao lado do sofá e, antes que conseguisse impedi-lo, viu-o se ajeitar no sofá e cuidadosamente apanhar o sobrinho, levantando-se devagar, sentindo o piso frio embaixo de seus pés descalços.

- Devo levá-lo para quarto dele? - quis saber, ajeitando-o em seu colo e dando leves tapinhas em suas costas, quando ameaçou acordar.

- Pode levá-lo para o meu - Júlia respondeu e antes de segui-lo, livrou-se dos sapatos, para que não fizessem barulho no piso. Assim, conseguiu não só alcançá-lo, como passar em sua frente para abrir a porta do quarto e acender a luz para que ele entrasse. Eduardo sentou-se na cama, puxou a colcha que a cobria e nela depositou o garoto. Lipe ainda se virou, dando a impressão de que despertaria, porém, continuou dormindo.

Júlia não conseguiu ficar indiferente a todo cuidado que dispensava ao seu filho e nem ao modo carinhoso como o fazia. Ficou encostada à porta observando-o. Ela havia tentado afastá-lo, afinal não queria mais contato com ninguém daquela família. Eduardo não só ignorou todas as bobagens que ela lhe dissera no momento da raiva, como também revelou-se o apoio de onde menos esperava.

Antes de ir de encontro à Júlia, ainda cobriu o sobrinho. Ela esperou que ele saísse do quarto para fechar a porta. Fez-lhe um sinal para voltarem à sala, porém Eduardo parou no corredor, em frente ao quarto de Lipe, para se espreguiçar, sentindo o corpo dolorido.

- Espero que dormir no trabalho não me diminua como babá - brincou, passando a mão nos cabelos que, embora sempre parecessem despenteados, conferiam-lhe um charme especial.

- Não sei, vou pensar no seu caso - retribuiu no mesmo tom de brincadeira. Depois da cena presenciada só se fosse louca para se zangar com ele. Ficou séria - Você era a última pessoa que esperava encontrar aqui, Edu.

- Considerando-se que não me cumprimentou, vou pensar que não sou bem-vindo - fingiu-se de ofendido.

- Não fale besteira - defendeu-se e foi surpreendida quando ele a abraçou.

- Eu sei, só estou valorizando meu passe - como era bem mais alto do que ela, encurvou-se um pouco para abraçá-la, mas nem a posição um tanto incômoda para quem havia dormido de qualquer jeito no sofá, fez com que a soltasse - Saiba que estou muito feliz em estar aqui e poder ficar com o Lipe. Afinal, estava com saudades - fez uma pausa, adorava o aroma do perfume dela - Dele - completou.

- Agradeço, Edu, apesar de não saber como exatamente a Sarah lhe encontrou, você foi um anjo - respondeu, retribuindo o abraço.

Ele sorriu, antes de se afastar devagar. Era estranho que ela o visse como um anjo. Aliás, era a única mulher que se referia a ele desse modo.

- Na verdade, eu quem a encontrei - explicou, caminhando em direção à sala e sendo seguido por ela - Estava dentro do táxi, indo para casa e liguei para cá. Queria notícias e quando perguntei sobre você, a Sarah acabou me falando que estava buscando uma babá para ficar com o Lipe... - deu de ombros - Por que não eu? - sentou-se, procurando os sapatos.

- Você é doido Edu, imagino o quão cansativa foi esta viagem - comentou, observando-o.

- Quando é pra ficar com quem a gente gosta, qualquer esforço é válido - sorriu novamente - Passei um mês longe, natural que quisesse matar as saudades e, além disso, é bom ser útil - suspirou - Agora que cumpri minha missão... - fez um sinal, apontando a porta.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ