Capítulo 9

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- Vá brincar, Lipe – Eduardo colocou o menino no chão e ele hesitou, afinal tinha ficado interessado naquela mulher, porém, a dúvida demorou pouco, até colocar os olhos nos blocos com os quais estava brincando. Constância aproveitou a distração do filho para entrar sem ser convidada e quando ele se virou, já estava dentro e observava a criança com aguçado interesse.

Eduardo passou por ela, fechando a porta e aproveitando para se aproximar mais, já que não queria que o menino ouvisse.

- Vovó? – questionou desconfiado, sem esconder que não havia gostado da aparição dela – Pelo que me lembro, você nunca admitiu que o Ricardo fosse o pai da criança e agora surge com essa?

- Maneira de falar, Eduardo! – defendeu-se, a aparência do garoto a tinha surpreendido de tal maneira que mal conseguira segurar a língua – Tenho a idade para ser avó dele e, quando o chamou de tio, foi natural.

Ela olhou em volta, definitivamente não gostava daquele lugar. Parecia-lhe moderno demais, em sua ótica, um moderno ruim, pois preferia espaços mais tradicionais. Jamais moraria em um loft por maior que fosse, pois a falta de divisórias separando os ambientes dava-lhe a impressão de desmazelo. Para completar, além dos banheiros, o único cômodo fechado era usado para revelar as fotos. Nas poucas paredes existentes, quadros com as fotos mais premiadas, algo que não agradava suas vistas por não serem assinados por alguém famoso. Se ele fosse bem jovem, tudo bem, pois o espaço não parecia condizente a um homem de trinta e seis anos. Do lado oposto à onde estavam havia uma escada que levava para um segundo nível, onde ele dormia. Parou de olhar o ambiente, para não se cansar ainda mais e perguntou de uma vez – Quer dizer então, que esse garoto lindo é realmente filho da Júlia?

- Por que não seria? – não entendeu o que ela quis dizer com aquilo.

- Sei lá, talvez porque seja muito clarinho, não é? Quer dizer, não puxou muito a mãe. Vemos tantas histórias... Será que não foi trocado na maternidade?

- Pelo amor de Deus, pare de falar bobagem! – Eduardo segurou-se para não elevar o tom de voz – Isso é bem mais comum do que parece! Você sabia que o bisavô de Júlia era branco?

- Não. E também não tinha a obrigação de saber disso. Ou tinha? – Constância irritou-se, respondendo com outra pergunta – Portanto, não me censure.

- Diga, Constância, o que exatamente quer aqui? – questionou impaciente – Tenho certeza de que não foi para tratar de assuntos dessa natureza.

- Como disse, está muito agressivo, Eduardo.

- Ah sim – balançou a cabeça inconformado – O Ricardo não cresce mesmo! Não acredito que já foi correndo lhe contar o ocorrido...

- Ele não me contou – defendeu seu primogênito – Fui visitá-lo e acabei descobrindo. Aliás, tive que insistir para que ele falasse o que havia acontecido e não imagina a minha decepção... Seu irmão foi bastante benevolente, qualquer outro teria aproveitado a proximidade da delegacia e prestado uma queixa e lhe colocado atrás das grades.

Eduardo passou a mão na têmpora esquerda, evidenciando a proximidade de uma bela dor de cabeça.

- Pois saiba que serei eternamente grato...

- Usando de sarcasmo com sua mãe, que coisa feia! Onde exatamente esqueceu a educação que lhe ensinei? Ainda não entendo como pude acertar tanto com um e errar tanto com o outro – ignorou a expressão do filho – Vai me deixar em pé aqui?

Quem hesitou dessa vez foi Eduardo. Na verdade, conhecia sua mãe muito bem para saber que só tinha ido até ali para lhe recriminar pela briga e, de uma hora para a outra, estava se demorando demais para ir embora.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin