Capítulo 5

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- Eu não vou. Já está decidido! – Júlia declarou com uma convicção que assustou a prima – Aliás, não sei o que o Rui tinha na cabeça ao ligar para você.

- Fez muito bem, Júlia. Estava perto e vim aqui, não me custou nada. E quanto a ideia de não comparecer, pare com isso. Desde quando é covarde?

- Não passei todos esses anos evitando encontrá-lo para assim, sem mais nem menos, estarmos no mesmo lugar. Se ainda fosse em um ambiente neutro, vá lá...

- Está supondo que ele estará lá, o que nem sabe se é verdade. Pelo que me lembro, você lutou bastante por esse reconhecimento e agora quando vai receber uma homenagem que lhe é de direito, quer desistir e isso tudo apenas por conta de um homem. Vai deixar que ele estrague mais uma vez sua vida, Júlia? Ou está com medo de reencontrá-lo.

- Será que não tem nenhuma cliente para encontrar agora à tarde? – Júlia perguntou irritada.

- O nome correto seria aluna – Sarah a corrigiu – Sou formada em educação física, não em advocacia para ter cliente...

- Ah dane-se a nomenclatura, o importante que entendeu.

- Não adianta descontar em mim, acontece que não vou permitir demonstrações de covardia. Pense em tudo o que fez. Graças a você, a Doce Pimenta é uma marca conhecida no Brasil, logo mais no exterior. Não dependeu de ninguém para chegar onde chegou. Então, se não quiser ir, tudo bem, mas que seja porque acha que o prêmio não representa nada e não por causa de alguém.

- Vou pensar, Sarah – prometeu – Agora, pode voltar para suas alunas – fez questão de falar da forma como ela indicara.

- Trata de pensar rápido, pois só tem quinze dias para isso.

Deveria ter previsto que Sarah não se contentaria apenas com isto e quando, à noite, o porteiro informou que Eduardo estava subindo, não conseguiu se surpreender. Ele chegou no momento em que ela dava dando janta para Lipe e o menino ficou agitado com a presença do tio.

- Obedeça a mamãe Lipe e sente-se para comer – disse na segunda vez em que teve que apanhá-lo e colocá-lo de volta na cadeira.

- Você tem o efeito de um energético para ele, Edu. Nunca vi, coisa igual.

Eduardo riu, de certa forma era bom saber que era um estimulante pelo menos para alguém ali.

- Vou ver esse carinha com mais frequência, aí ele não ficará tão eufórico das outras vezes.

- Não sei porque, mas não acredito que funcione – Júlia disse bem-humorada, embora soubesse que o assunto que o levara até ali era mais sério – Antes que me chame de mal educada, não quer jantar?

- Só se me fizer companhia – provocou-a, deixando-a sem palavras. Em vez de dizer algo, continuou dando comida para o menino, até que ele estivesse satisfeito.

Mal acabou de comer, o garoto estendeu os braços para o tio e ele não hesitou em pegá-lo no colo e se levantar, mesmo sob o olhar de Júlia que era o suficiente para adverti-lo a não balançar o sobrinho.

Enquanto Edu andava com o menino de um lado para o outro no apartamento, Júlia aproveitou para lavar a louça e quando aceitou servir-lhe de companhia para jantar, viu o menino encostar a cabeça no ombro dele, bêbado de sono, mas lutando para não dormir.

- Fiz para provar que posso ser o que quiser para ele – brincou – Inclusive sonífero – disse, antes de entregá-lo à Júlia. Ela beijou o menino na testa e começou cantar baixinho, até que ele finalmente adormeceu, enquanto Edu assistia à cena, achando bonito o carinho que ela demonstrava pelo filho. Nem todas as mães gostavam tanto de seus filhos. Outras, por muito menos teriam descontado nele todo o sofrimento. Pegou-se pensando no que Constância tinha contra ele, porque nunca foi capaz de amá-lo.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora