Capítulo 10

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Ricardo levantou-se da cama. Mais um sonho. Novamente Júlia. Não imaginava que reencontrá-la seria capaz de balançar o muro que havia erguido em seu redor.

Sentindo o chão frio sob os pés, saiu do quarto e foi até a sala. Todo quarto tinha um cofre e o daquele ficava atrás de um quadro. Removeu o quadro cuidadosamente, deixando-o em cima do sofá, e colocou a combinação, abrindo-o rapidamente. Apanhou a caixinha. Era a única coisa que não deixava em sua casa, preferindo que ficasse no apartamento, em um local onde somente ele tivesse acesso.

Nem se preocupou em fechar o cofre. Segurando a caixa de veludo preto, caminhou até a mesa de jantar e sentou-se. Colocou-a sobre a mesa e a abriu. Era engraçado, a confusão na qual se transformara o restante daquilo que deveria ser a cerimônia de casamento, não foi a pior parte. Como todos os presentes estavam no apartamento em que morariam, foi ele quem os devolveu e a quem coube vender o imóvel.  Foi lá também que encontrou as alianças. Quando se livrou de tudo o que o fazia pensar em Júlia, ainda restavam as alianças. Pensou em se desfazer delas, no entanto, no último instante, não conseguiu.

Tirou as alianças da caixa, primeiro a que passaria a ostentar depois de casado. Leu a inscrição: Júlia, para sempre sua. Depois aquela que seria dela: Eternamente apaixonado, Ricardo. As alianças tinham sido feitas separadamente, pois a inscrição seria uma surpresa, mais um presente de casamento. A sintonia dos dois era tanta que praticamente escreveram a mesma coisa. Ao ler as frases, sorriu tristemente. Pareciam inscrições ridículas agora. Eternamente e para sempre haviam durado pouquíssimo tempo. E Júlia... Bem, seria mentira dizer que não havia imaginado mil vezes como estaria e, principalmente, com quem estaria. Só não esperava reencontrá-la, afinal, estava indo muito bem em seu plano de jamais se envolver de novo, mesmo que isso significasse magoar as pessoas. Pior, não esperava encontrá-la ao lado de seu irmão. Se blindara tanto, tanto se mantivera afastado e para que? A dor estava de volta. Pois olhá-la era se recordar de que a única mulher que amara fora capaz de trai-lo.

- Por que tinha que aparecer agora, Júlia? - suspirou, olhando a aliança – E por que não consigo te esquecer?

O que mais o incomodava naquela situação toda era Eduardo. Grande consideração que lhe tinha. Primeiro tomar partido por ela e depois, estava evidente que tinham alguma coisa. Ele que abominava a ideia de se ligar a uma só mulher tinha que escolher justamente Júlia?

Fechou as duas alianças na palma de sua mão e depois fechou os olhos, fazendo uma coisa que há muito não fazia: sentiu saudades do tempo em que estavam juntos. Lamentou-se por tudo o que acontecera e principalmente pela pessoa que havia se tornado.

*****

Com a viagem de Eduardo à trabalho para o Rio, foram duas semanas falando-se apenas por telefone. Telefonemas muito diferentes do que comumente trocavam, evidenciando que as coisas estavam caminhando para um possível namoro.

- Finalmente, Júlia. Estava mais do que na hora de fazer a fila andar – Sarah estava falando com ela por telefone, logo cedo.

- Estamos começando apenas, Sarah. Não se empolgue. Sabe que não gosto de criar muita expectativa, nem de muito grude.

- Está apenas desacostumada. Um pouco de grude, às vezes é bom. Precisa voltar a curtir um pouco, Júlia. Ainda sabe o que é isso?

- Sinceramente não – Júlia caminhou até o quarto de Felipe. O menino dormia de uma maneira tão gostosa que teve dó de acordá-lo.

- Que tal um barzinho hoje, comigo e com o Wagner. E se o Edu chegar cedo, pode convidá-lo.

- Não sei... Provavelmente ele estará cansado e depois tem o Lipe...

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Where stories live. Discover now