Capítulo 7

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A surpresa de Eduardo também ficou estampada em seu semblante. Depois de receber o telefonema de Rui, só conseguira pensar em Júlia sozinha em uma delegacia e tentar adivinhar o ocorrido que a fizera perder a tal homenagem. Em momento algum se recordou da possibilidade de ela encontrar Ricardo. Agora ali, tinha certeza de que se esquecera de algo muito importante e não se surpreenderia se ele tivesse alguma coisa a ver com o motivo de ter ido parar em uma delegacia.

Ricardo encarou o irmão. Mesmo sem vê-lo há um bom tempo, teve certeza de que aquela era uma péssima hora para reencontrá-lo.

Partiu de Eduardo quebrar o contato visual. Assim que Júlia colocou a blusa, voltou-se para ela.

- Está bem? O que aconteceu?

- Estou sim, obrigada Edu – respondeu, voltando a se sentar – É uma longa história.

- Tenho tempo – embora a situação o tivesse deixado mais sério do que o habitual, deu-lhe um meio sorriso, sentando-se ao seu lado.

- Acho que vai demorar mesmo – Júlia suspirou – Antes, sabe me dizer se o Rui foi ficar com o Lipe?

- Foi, seu fiel escudeiro cumpriu com a palavra e, por conhecê-la como conheço, também me certifiquei disso, antes de vir para cá.

- Bem, assim fico mais tranquila – confidenciou.

A vontade era agir como se ele não estivesse ali do outro lado, observando-os, no entanto Eduardo não conseguiu:

- Ele tem alguma coisa a ver com você estar aqui? – foi direto.

- Não! Quer dizer, não dessa forma que está pensando – Júlia respondeu rapidamente, sem titubear. Ricardo a desarmara, agindo da forma como agiu e, por esse motivo, ainda que desejasse, do fundo de seu coração, ter motivos para falar mal dele, não conseguiu.

- Menos mal – Eduardo comentou mais para si mesmo do que para ela. A verdade é que a presença do irmão na delegacia deixou-o totalmente sem ação.


Se não tivesse se comprometido a depor, como uma das testemunhas, Ricardo teria levantado e ido embora. Talvez, assim, aquele dia acabasse mais rápido. Mentira se não admitisse que, muitas vezes, imaginou aquele reencontro. Porém, em sua imaginação, estava no controle de suas emoções e seria frio, indiferente.

De um modo bem simples, percebeu que a vida não segue um roteiro. Havia reencontrado Júlia de uma maneira inesperada, ainda que houvesse um risco de isso acontecer, e desde então, a frieza e a indiferença, tão protagonistas em sua imaginação, não confirmaram presença em sua realidade.

Voltou a se sentar no banco de madeira e não conseguiu desviar os olhos dos dois. Juntos, pareciam um casal. Para o diabo se fossem! No entanto, por que estava tão incomodado com isso? Talvez porque não conseguisse mais enxergar como verdadeiras as tentativas de reconciliação promovidas por Eduardo. Diante da cena, só conseguia pensar que o irmão agira em benefício próprio. A simples possibilidade de mais uma vez ser enganado por alguém de quem gostava deixou-o irritado.

Levantou-se disposto a falar com os dois, porém, bem na hora, um policial saiu conduzindo o segurança algemado e se dirigiu a ele:

- Senhor Vidal, o delegado o aguarda.

Ricardo fez que sim com a cabeça, acreditando que ter sido chamado fora a melhor coisa que poderia ter acontecido. Afinal, não estava concatenando direito suas ideias, logo era melhor se manter afastado, para não fazer nenhuma bobagem.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Where stories live. Discover now