Capítulo 12

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Constância estava passada. Desconcertada apertava a mão de Ellen, que sentada ao seu lado, também ouvia a explicação do médico, compreendendo o motivo de Ricardo ter reagido tão mal. A situação do médico não era nada boa e nem estar em um dos melhores e mais caros hospitais da cidade pareciam ter influência sobre isso.

- Em pessoas idosas, é algo comum. Há a fratura no fêmur e esta provoca a queda - o homem continuou explicando - Comumente as pessoas acham que é o contrário, que é a queda que causa a fratura.

- Resumindo um pouco, doutor... - Constância o interrompeu, aflita.

- O doutor Vicente Queiroz acabou de passar por uma cirurgia muito delicada. As próximas horas serão importantíssimas, pois, ele corre risco de morte. Mesmo sem termos o prontuário do médico, eu e a equipe médica que acompanha o caso, temos a suspeita de que o médico já estivesse doente, alguma doença que teria causado a osteoporose.

- Vicente não me disse nada, por que esconderia algo assim? - Constância perguntou mais a si mesma do que ao médico.

- Realmente não sei - o homem lançou um olhar cúmplice em sua direção - Por ora é só, a única recomendação que posso fazer é que chamem os familiares dele.

- Nós somos as pessoas mais próximas que ele tem - Constância disse de modo franco. Era a primeira vez que se dava conta do quão solitário era o seu amigo - Não sairei daqui - declarou resoluta - E quanto ao meu filho, ele estava acompanhando o Vicente.

- O senhor Ricardo Vidal teve uma crise nervosa... - disse para Constância e Ellen mexeu-se desconfortável na cadeira.

- Meu filho nunca teve algo assim, como podem ter certeza de que foi isso?

- Quando os enfermeiros o ampararam, o senhor Ricardo estava em meio a uma crise de choro - o médico explicou, deixando Constância ainda mais intrigada, realmente não era do feitio de Ricardo deixar que pessoas estranhas o vissem descontrolado. Sempre fora muito comedido em tudo, principalmente em demonstrar o que estava sentindo - Posso vê-lo.

- Claro que sim - o médico disse simpático, antes de chamar uma enfermeira e pedir que acompanhasse as duas mulheres até o quarto em que Ricardo estava.

Embora estivesse bastante ansiosa para ver Ricardo, Ellen entendeu perfeitamente quando apenas Constância entrou para ver o filho, deixando-a na sala de espera. Estava querendo entender aquela avalanche de acontecimentos e nada tirava de sua cabeça que tudo estava ligado ao surgimento da tal Júlia. Desde que a talzinha aparecera, Ricardo não parecia a mesma pessoa.

Quando Constância entrou no quarto, encontrou Ricardo deitado com o rosto virado para a parede. Ele havia relutado em acompanhar os enfermeiros, porém, ao perceber que era alvo de olhares de comiseração, acreditou que fosse o melhor a fazer.

Os enfermeiros haviam perguntado o que estava sentindo e ele não soube definir, mesmo porque não havia palavras capazes de explicar que a dor era na alma e as feridas haviam sido abertas pelo arrependimento. Não sabia de nenhum remédio capaz de curar tal enfermidade e duvidava que eles soubessem também.

Mesmo os acompanhando, não concordou em tomar qualquer medicamento, tampouco aceitou falar com o psicólogo do lugar. Só precisava ficar quieto, pensar em tudo com mais calma.

Além do estado do doutor Vicente, seu pensamento era dominado pela ideia de haver rejeitado uma criança para quem talvez nem existisse. Qualquer mulher interesseira, sabendo-se inocente e acompanhando seu sucesso através da mídia, teria esfregado um exame de DNA em sua cara e arrancado até seu último centavo. O fato de Júlia não ter agido assim, conseguia piorar a situação. Percebeu que estivera totalmente errado e, enquanto se achava a vítima, só fizera agir como o grande vilão dessa história.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Where stories live. Discover now