Capítulo Dois.

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Sábado, dia de baile no Complexo de Alemão. Um dia em que várias pessoas da comunidade – e do asfalto –, se reúnem em uma quadra para apreciar funk proibido, drogas, bebidas e muita perdição.

O baile é livre para todas as idades. Não tem nenhuma restrição e não tem que pagar nada para entrar. É só chegar e pronto. Mas o baile não é bem assim um mar de rosas. Baile significa que tem traficantes, traficantes significa que tem drogas e drogas significa que existe pessoas loucas o bastante para agir como doentes mentais.

Agora imagina, traficantes armados sob o efeito de drogas querendo ficar com você e então você recusar. Você tem dois finais: ou você morre, ou você leva um tiro nas mãos. Fora isso, pode ser estuprada em algum beco.

E bem, nessa noite me juntei com Rayane e o irmão dela, Felipe, no baile de quadra. Não é o lugar que mais almejo estar. Eu não gosto de baile, de música, barulho e tampouco de traficantes. É a primeira vez que vou ao baile do Complexo do Alemão.

─ Como faço para ficar com um desses traficantes? ─ pergunto para Felipe, que nos pelo povo até a tenda que vende bebidas.

─ Por que tu queres ficar com um traficante? Fica comigo que eu te dou tudo ─ ele gargalha.

─ Mas você é um traficante.

─ Qual é, falando como teu amigo que quer te pegar: não desejo essa vida nem para a minha pior inimiga. Não se envolve com traficante não, Camile.

─ Não deve ser tão ruim.

─ Você só será morta. Acha ruim?

─ Não é porque quero ─ sussurro para mim mesma.

Rayane está parada na tenda que vende bebidas, que fica debaixo do camarote da quadra. Sim, há camarotes nos bailes funks, não em todos, mas nas quadras fechadas.

Só entra os chefes e as amantes nessas áreas fechadas.

Rayane pede dinheiro para Felipe, que dá uma nota de cem para ela e na hora que a vejo já sinto vontade de pegar e sair correndo comprar comida.

Minha mãe pensa que estou dormindo na casa de Rayane, após estudar para as provas bimestrais. Eu odeio mentir, mas estou fazendo isso pelo bem dela. Buscando saídas para a nossa situação.

Rayane compra dois energéticos e uma vodca para Felipe.

Ela me entrega e bebo após ver que não possui álcool.

─ Cadê o Menor? ─ ela faz beicinho e procura pela multidão o namorado dela. Vulgo, menor. Gerente de uma das biqueiras da favela.

─ Deve estar no camarote né ─ digo tomando um pouco do energético. Olho para o camarote e vislumbro DR, no mesmo instante, um arrepio percorre pelo meu corpo. É como se sentisse uma conexão fodida ao colocar meus olhos nele. Sério, de braços cruzados, apenas observando o movimento. ─ Ray? Dói muito?

─ O que? Transar? ─ ela indaga e eu concordo com a cabeça.

─ Depende de quem for tirar tua virgindade e depende de você também. Se ficar nervosa é claro que vai doer muito. Mas fala aí, em quem você está interessada lá no camarote?

─ DR.

Rayane praticamente cospe o energético em meu rosto, ela me olha com seus olhos claros arregalados e o queixo lá embaixo.

─ Por que logo o Diabão?

─ Porque ele tem dinheiro e preciso do dinheiro dele para ajudar mamãe.

─ Tem vários outros traficantes aqui com dinheiro, Laura ─ ela diz fazendo um gesto com a mão em volta. ─ Vários mesmos, e alguns bem menos esquisitos que DR.

Sonhos Roubados [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now