Capítulo Seis.

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─ Oi ─ demonstro meu desânimo.

─ Vamos para na porta? ─ espero ela me desejar meus parabéns, mas sei que não devo esperar nada de Rayane.

─ Pode ser.

Desligo o celular e me levanto. Lavo a louça e desligo a televisão.

Quando coloco o rosto na porta de casa, é o momento que Rayane surge. Ela está com um sorriso largo e completamente animada. Sei que o assunto não será sobre mim.

Ela se senta ao meu lado. Não recebo qualquer felicitação ou abraço da parte dela. Até parece que não somos mais amigas.

─ Estou ficando com o Diogo ─ ela diz baixinho e bate palmas.

Diogo é um traficante da favela vizinha. Um homem nojento e abusivo de quarenta e poucos anos. Já foi preso diversas vezes por violência doméstica. Eu só consigo sentir repulsa dele, mas as meninas demonstram interesse porque ele tem muito dinheiro e adora esbanjar seus dotes por aí.

─ Legal, Rayane. Devo desejar seus parabéns? Diogo é como todos. E talvez pior. Espero que você não acabe grávida, sozinha e com três restrições de violência doméstica.

─ Que inveja, Laura. Você só está falando isso porque gostaria de estar no meu lugar. Diogo pelo menos me dá amor, carinho e diversos presentes. Diferente da sua vida, né?

─ Não tenho inveja nenhuma ─ solto um suspiro. ─ Cadê o Alex?

─ Não sei e não quero saber. Eu não vou parar de viver a minha vida por causa de um pirralho mimado e um bandidinho de quinta. Eu quero mais, Laura.

─ Mas ele é o seu filho. Ele sente a sua falta.

─ E daí?

Eu conto mentalmente até dez. Odeio brigas e sempre faço o possível para ficar quieta. Mas nesse momento, minha maior vontade é jogar Rayane no chão e a estrangular com minhas próprias mãos.

Bem na hora que eu vou despejar o meu ódio em Rayane, ouço uma buzina e viro, observando PR em cima de uma moto biz vermelha nova.

─ E aí, bonecas ─ abre um sorriso. ─ O Papai Noel chegou mais cedo.

─ O que você quer? ─ indago com raiva.

─ Você está zangada? ─ ele zomba e desce da moto. ─ Eu só vim trazer o seu presente de aniversário. Ela acabou de sair da loja e está novinha.

Encolho as sobrancelhas sem entender.

─ Como assim? ─ gaguejo confusa.

─ É o seu presente de aniversário. Não atropela ninguém, está bom? Agora vou voltar aos afazeres porque você sabe como funciona as coisas por aqui.

Ele desaparece e eu continuo olhando para o meu presente sem entender. DR. É o presente de DR. Lembro de ter atrasado uma vez por causa do ônibus e de também reclamar do sol. Ele não disse nada, mas disse que um dos meninos poderia sempre me buscar e me deixar. Claro que eu recusei.

E agora... ele me presenteia com uma moto.

─ Está transando com Paulo Ricardo? ─ Rayane indaga sem entender.

─ Claro que não, Rayane ─ reviro os olhos.

─ E por qual motivo ele te presentearia?

─ Não foi ele, é um presente de DR.

Ele me dá diversos presentes. Mas nunca os entrega em minhas mãos. Ou manda PR me entregar ou deixa na porta da minha casa. Celular, roupas, móveis e até mesmo algumas bolsas.

Sonhos Roubados [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now