Capítulo Dez.

63.7K 4.7K 1.5K
                                    

Permaneço imóvel. Não consigo mover músculo algum e tampouco dizer alguma coisa. Ele mantém a pistola apontada para a minha cintura e meu maior medo é sair correndo e levar um tiro.

─ Está surda? Entra logo no carro! ─ ele grita.

Eu engulo o seco. Sinto minhas mãos geladas e intensifico as minhas lágrimas. Então, crio coragem e saio correndo. Eu comecei a gritar e implorar por socorro, mas acabei caindo no chão após pisar em algumas pedras. Senti um ardor horrível nos braços e fiz o possível para me levantar.

Mas um deles já estava sobre o meu corpo.

─ Socorro! ─ eu grito com toda a força que existe em meu pulmão, e recebo um tapa estralado no rosto como resposta.

─ Eu vou te comer bem aqui, garotinha ─ ele diz e segura em meus pulsos, juntando minhas mãos no alto da minha cabeça, enquanto o outro tenta puxar o meu vestido.

Ele quer me estuprar.

Quando sinto ele descer a minha calcinha por minhas pernas, sei que é o meu fim. Então paro de lutar e fecho as minhas pálpebras molhadas pelas lágrimas. Eles sussurram palavras nojentas no meu ouvido e eu faço o possível para me distanciar daquele ato nojento e covarde.

─ Que caralho é esse aqui? ─ ouço sua voz grossa e ríspida. Quase um rugido. É como se fosse a minha salvação no fim do túnel.

Eu fico arrepiada e agradeço mentalmente.

─ Puta que pariu... ─ um deles sussurra para o outro. ─ É o Diabão...

Diabão. O apelido perfeito para definir DR. Malvado, assustador e sombrio. Sim, o Diabão veio me salvar. Ou participar do ato. Nada me surpreende vindo da parte dele.

Os dois soltam o meu corpo e aproveito para me distanciar. Olho para DR que está em nossa frente e percebo que seus olhos estão cheios de ódio. Ele está com raiva. Em sua mão direita, ele segura um revólver, que brilha com a luz da lua.

─ Diabão... foi... foi mal. A gente só estava... dia de baile... sobe muita gente do asfalto e... ─ um deles gagueja e deixa o revólver no chão com cuidado, erguendo suas mãos em seguida. Porém, sem mais delongas, DR dispara e o barulho faz meu ouvido latejar. Ele acerta a cabeça do cara e o sangue jorra em meu corpo.

Merda. Ele matou o homem em minha frente.

Meu corpo treme e eu fico sem reação. Abro e fecho a boca várias vezes. Tento encontrar algum sentimento no semblante de DR, mas ele não esboça absolutamente nada. Arrependimento, dor, angústia ou medo.

Prevendo o que vem a seguir, viro-me de costas e deito meu corpo no chão. Cubro meus ouvidos com minhas mãos e fecho os meus olhos. Mas o disparo é capaz de causar um tremor em todo o meu corpo.

Eu sinto medo. E sinto culpa. Como DR consegue tirar vidas assim? A sangue frio? Sem pensar? Sem dó alguma? Por que ele é assim?

As mãos dele agarram a minha cintura, colocando-me de pé e por pouco eu caio. Minhas pernas estão bambas e eu estou em choque. Olho para os dois corpos no chão e começo a chorar de forma copiosa. DR balança os meus ombros, sacudindo-me com força. Dói. Mas estou tão assustada que não consigo sentir absolutamente nada no meu físico.

─ Onde você estava com a cabeça? E se eu não tivesse chegado a tempo? Hein? Você é retardada? ─ ele grita comigo e eu só consigo olhar para os dois corpos no chão. ─ Eu já disse para você não andar sozinha na porra dessa favela. Felipe e Menor estão sempre disponíveis para levar você.

Meus lábios estão trêmulos. Eu olho dentro dos olhos dele e fico perdida em meus próprios pensamentos, sem conseguir proferir qualquer palavra.

─ Você... você... DR... você os matou ─ sibilo, gaguejando e deixando que as lágrimas deslizem pelo meu rosto.

─ Você queria que eu os deixasse vivos? Para machucar você?

Seus dedos se afundam em minha pele sensível, causando-me dor. Ele me segura firme enquanto observa o meu semblante.

─ Me solta! ─ peço baixinho. ─ Você é um fodido do cacete.

─ Eu sei ─ ele sussurra e solta os meus braços. ─ Vai embora.

Meu cérebro volta a funcionar de repente. Eu começo a pensar e questionar diversas coisas. DR os matou por mim? Ele sente algo por mim? Eu ouvi certo? Ele os matou para me proteger.

─ Você fez isso por mim? ─ pergunto baixinho.

─ Eu fiz porque é proibido roubar na favela.

─ DR... ─ eu me aproximo. ─ Você sente algo por mim?

Minha pergunta é estúpida, porque eu sei a resposta. Ele não sente nada por ninguém e tampouco por mim. Eu sou só a bonequinha dele. Uma marionete que ele usa e abusa quando bem entende. Mas sou afetada pelo calor do momento e acabo falando besteira.

DR ri com deboche.

─ Eu não sinto nada por você ─ diz entredentes. ─ Só desprezo. Você não passa de uma amante qualquer. Uma garotinha cheia de sonhos e ingênua. Acorda, você não está no País das Maravilhas.

Percebo que ele está bêbado. Por isso está estranhamente calmo.

─ Some da minha frente antes que eu faça algo que vá me arrepender depois ─ ele diz alterado.

E eu obedeço. Estou machucada demais para argumentar.

Pegoas minhas coisas e vou para casa no modo automático. Sem sentir as pernas e semconseguir raciocinar sobre absolutamente nada ao meu redor. E claro, sem tirara cena de minutos atrás da minha mente.

Sonhos Roubados [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora